domingo, 5 de fevereiro de 2017

Tentando Entender a Era Trump

Ele é folclórico, cor de laranja, faz caretas, xinga quem quer e participa de bacanais.

Com tantos “predicados”, o bilionário Donald Trump contrariou pesquisas de opinião e os prognósticos dos principais veículos de imprensa dos Estados Unidos e ganhou o posto de presidente do país mais poderoso do mundo. Conseguir isto entendendo os anseios da velha e imbatível maioria silenciosa, mesmo sendo quase que completamente desacreditado pela sua própria base partidária do Partido Republicano.

O primeiro ponto para desvendar o fenômeno é tentar entender as razões que levaram os eleitores norte-americanos a substituir a figura do bom moço Barack Obama pelo arrogante e espalhafatoso Trump.

Para tanto é preciso voltar no tempo uns 80 anos, pouco antes do estouro da Segunda Grande Guerra. Naquela época os EUA era um país formado predominantemente por imigrantes europeus, mas que haviam simplesmente cortado os seus laços culturais e políticos com os países de origem. O isolacionismo significava fechar as portas para uma Europa belicosa e tocar a vida; construir a “América” através da construção da riqueza de cada cidadão.

Este modelo foi derrubado de vez pelo ataque japonês a Pearl Harbor e a partir dali, com uma base empreendedora muito bem forjada, os norte-americanos aprenderam rapidamente – e muito bem - a fabricar armas e guerrear nos padrões do século XX. Ao final do conflito global, lá estava uma nação que pouco tempo antes fazia questão de seu papel coadjuvante na geopolítica mundial, com o mundo ocidental praticamente aos seus pés.

A sequência: sob a batuta do ator Ronald Reagan (presidente dos EUA entre 1981 e 1989), os norte-americanos se deliciaram com a lorota do programa “Guerra nas Estrelas” que acabou por determinar a destruição da cortina de ferro e o fim da União Soviética.

Assim, de 1991 a 2001 não tinha para ninguém: os EUA eram hegemônicos sem rival.

Entretanto, a história mostra que tal tipo de domínio absoluto dura pouco tempo. Nos tempos de sossego excessivo é que começam a germinar as sementes da instabilidade. No caso, falamos da ascensão econômica e militar da China, além do modelo de guerra pelo terrorismo, onde não há, objetivamente, um território que defina a casa do inimigo, o que bagunçou todos os modelos de guerra até então conhecidos pela humanidade.

O dia 11 de setembro de 2001, praticamente na abertura do terceiro milênio, marcou o trágico início de uma nova era das relações geoeconômicas e geopolíticas no mundo.

Pelo lado do terrorismo, o medo começou a tomar conta das populações norte-americana e europeia. No campo econômico, o deslocamento massivo da produção industrial global para o território chinês gerou o temor do desemprego daqueles trabalhadores habituados à linha de produção.

A gota d’água que detonou com a sensação de segurança foi a crise migratória, relacionada aos habitantes do Oriente Médio e Norte da África, em fuga das guerras relacionadas ao fundamentalismo religioso.

Estes três fatores atingiram a União Europeia antes dos EUA, provocando, inclusive, a inesperada saída do Reino Unido do bloco econômico por plebiscito, evento mais conhecido com Brexit.

O fato é que na medida em que as pessoas se sentem mais inseguras, a tendência é que elas busquem maiores graus de proteção contra as hostilidades externas.

No caso de nós, brasileiros, é fácil diagnosticar o crescente medo do banditismo. Cercas elétricas, câmeras de vigilância, carros de vidros fechados, muros e portas cada vez mais intransponíveis para estranhos, mostram tal necessidade de segurança.

Mas se a ameaça é do exterior, o “muro” naturalmente ocorre pelo zelo nas fronteiras.

Barack Obama, com toda a sua simpatia e jeito de menino legal não viu - ou preferiu ignorar - os temores de seu povo: cuidou relativamente bem das questões pontuais relacionadas ao terrorismo, mas avaliou mal – para fins eleitorais – a questão migratória e a perda do protagonismo da produção industrial. A política via web, usada com habilidade pelo ex-presidente, pautou também a campanha de sua provável, mas fracassada sucessora, Hillary Clinton.

Donald Trump, um comunicador de sucesso, soube ver que o “povão” não estava muito à vontade de postar ou comentar opiniões na internet, a exemplo do que se chama “a elite intelectual do planeta”.

O atual presidente dos EUA foi capaz de enxergar e incorporar em seu discurso e encenações folclóricas os anseios de um povo de saco cheio em simplesmente ser bonzinho abrindo mão de seus interesses: viver em um país sem ameaças econômicas e bélicas oriundas de outras partes do mundo. Isto inclui até boa parte dos hispânicos, clandestinos há poucos anos, mas que avaliaram que a entrada indiscriminada de seus antigos conterrâneos seria uma ameaça ao próprio status, conquistas de trabalho e realização financeira.

Se isto é moralmente certo ou errado, não vem ao caso. O fato é que Donald Trump está simplesmente – e do seu jeito – fazendo o que seu eleitorado quer: muro de isolamento do México; quebra de acordos comerciais internacionais para garantir a empregabilidade interna; restrição à entrada de novos imigrantes; e cuidado extremo com a ameaça guerreira do fundamentalismo islâmico.

Talvez o momento atual do presidente norte-americano seja mero jogo de cena para agradar sua torcida de eleitores e ele modere no futuro.

Mas também pode ser que esteja em jogo uma mudança geopolítica da maior importância para a história mundial: junto com os EUA, a Grã Bretanha e boa parte da Europa buscam proteger suas fronteiras econômicas e geográficas de ameaças externas e isto tem sido um balde de água fria na globalização. Aparentemente, os ventos sopram para um ao menos parcial retorno aos tempos anteriores a Pearl Harbour.

O pior que podemos fazer, enquanto Brasil, é ficarmos olhando este fenômeno, nos contentando em acha-lo um absurdo. Fatos, por mais absurdo que sejam, são fatos.

É inadiável que o nosso país repense sua política externa, ou pagaremos muitíssimo caro pela omissão pragmática em um futuro que talvez não tarde a chegar.


Eduardo Starosta 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Cuidado com a Política, a Heterofobia e a Intolerância

Não dá para negar que estamos vivendo em tempos difíceis. Não se trata apenas de recessão, ou barbeiragens de gestores públicos, ou até mesmo a corrupção comprovada, envolvendo figuras públicas que não há muito tempo eram admiradas e exemplos de credibilidade.

Por incrível que pareça, isso é peixe pequeno diante da corrupção de valores atualmente em avanço no Brasil. E olha que esse não é um papo conservador; muito antes pelo contrário.

Três eventos lamentáveis ocorridos nessa semana, dois deles no Congresso Nacional, sustentam o que acabo de dizer.

Em primeiro lugar, é inacreditável que os redatores dos jornais achem natural certas ações políticas, como foi o caso do puxão de orelhas que o ex-presidente Luis Inácio da Silva deu em parlamentares do PT por eles não terem obstruído sessão da CPI da Petrobras. 

O motivo: seu amigo e diretor do Instituto Lula, Paulo Okamoto, estava sendo chamado para depor. 

Não foi surpresa que o ex-presidente mais uma vez tenha denegrido sua biografia para defender atos duvidosos de seus colaboradores mais próximos. O incrível mesmo é uma bancada inteira – que a cada dia perde mais credibilidade pública – se submeta a tal disparate... e a sessão da CPI foi mesmo obstruída. Isso é política ou cumplicidade criminosa?

No mesmo ambiente político, o deputado carioca Jean Willys divulgou a ideia de reescrever a bíblia, cortando as referências ditas homofóbicas. Ou seja, o cultuado parlamentar do PSOL propõe mexer em um texto milenar (na verdade, a Bíblia já foi algumas vezes adulterada) por uma mera preferência de como usar a genitália.

Nada contra a aceitação social de homossexuais. Isso - afora raras exceções - já foi conquistado com inegáveis méritos pelas organizações defensoras de gays e lésbicas. 

Mas entre “sair do armário” - respirando os ares da liberdade de opção sexual com dignidade – e partir para uma ofensiva hostil à cultura e crenças de outros grupos sociais há um gigantesco abismo ético. 

Tentar censurar a bíblia ou os textos de Monteiro Lobato, Jorge Amado e outros, por retratarem crenças ou contextos literários, representa um cerceamento de liberdade até mais grave do que discriminar homossexuais. 

Mais grave porque esse grupo que já experimentou o dissabor da discriminação está confiando em líderes que aparentemente desejam saborear a vingança através de pessoas que preservam os hábitos defendidos pelos antigos repressores. 

Ser contra, ou se enojar, com práticas afetivas entre pessoas do mesmo sexo não pode ser confundido com reprimir criminosamente a liberdade do próximo. Mas é exatamente isso o que está ocorrendo. 

Será que estão querendo encarcerar mulher que gosta de homem e homem que gosta de mulher nos armários que vagaram, antes ocupados por homossexuais? Aparentemente, estamos diante de uma onda heterofóbica... 

Finalmente, saindo do contexto parlamentar, dia desses no Rio de Janeiro, alguns evangélicos fundamentalistas resolveram apedrejar uma menina de 11 anos, por ela estar saindo de um culto de Candomblé. 

Em poucas palavras, a intolerância contra uma das mais belas e puras construções religiosas e culturais do nosso Brasil, acabou esburacando a cabeça de uma criança, simplesmente por ela encontrar sentido em cultuar orixás que representam nada mais do que as forças da natureza e a ética. E até onde se sabe, a orientação mais fundamental do grande mentor dos agressores é um singelo e universal “Amai-vos uns aos outros”. Dá para entender?

Sim, dá para entender!

Os três fatos mencionados retratam o desvirtuamento dos líderes do país em relação aos seus próprios propósitos:

- O ex-presidente, cuja grande empatia com a população poderia conduzir o Brasil a dias bem melhores que os atuais, assumiu o papel de obstrutor da justiça e da verdade;

- O parlamentar que construiu sua fama declarando-se homossexual em programa de confinamento da Rede Globo, joga o discurso da liberdade no lixo ao buscar calar quem ou o que confronte os seus ideais;

- E os religiosos que deveriam estar buscando a paz de espírito – muito provavelmente sob influência de algum pastor de ocasião – preferem agredir pessoas que buscam outras formas de buscar a divindade.

Ou seja, comprovadamente, a população brasileira está dando ouvidos demais a pessoas “demenos”, que desvirtuam ideias e crenças para dar vazão às suas próprias perversões.

É isso o que está afundando o país. Mensalões, petrolões e outros atos e fatos que nos envergonham são a mera consequência de confiar em pessoas erradas... maldosamente erradas.

Eduardo Starosta 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Heresias Hereges


Lá nos templos da velha Bíblia,
Havia um Rei chamado Salomão,
Mulherengo e sabichão,
Sua alteza era bom para dar perdão.

Mas um dia ele acordou de corno virado,
Tudo por causa da sua ruiva preferida do harém,
Que nos malabarismos do leito não quis ir ao além,
Deixando Sua Majestade bem pirado.

E logo na primeira audiência da manhã,
Teve de encarar duas senhoras brigando com afã,
O problema estava na disputa por maternidade,
Estava em jogo, um varão de pouca idade;

Irritado com o barraco das tagarelas,
Salomão queria é botar sebo nas canelas,
Mas lembrando que lá no harém estava frito,
Suspirou fundo e deu se veredito.

Chamem o carrasco de nome Tovar,
Para dividir o menino em duas metades,
E elas que escolham de acordo com suas vontades,
Qual parte do moleque cada uma irá levar.

Uma preferiu a parte de cima,
A outra se contentou com o pedaço de baixo,
E o pobre menino, sem entender o motivo,
Se enxergou pela primeira e última vez dividido.

O corpo partido,
Foi por ambas as mulheres bem vestido,
Cada qual mostrando sua parte da sorte,
Fingindo em vão não terem causado uma morte.

Milênios se passaram,
E tal história foi redescoberta,
Traduzida para o português,
O relato logo teve freguês.

Inspirado no sábio Salomão,
E sua libido gigante,
Novos governantes,
Usaram o exemplo para fazer gestão.

Pegaram o grande manual de administração,
Usado com zelo por qualquer nação,
E promoveram uma grande esculhambação,
Que durante muitos anos todos se lembrarão.

A parte de cima do livro dizia como do povo cobrar,
E a parte de baixo ensinava como com o povo gastar,
A primeira metade foi prestigiada e aperfeiçoada,
E a segunda, coitada, acabou amputada e adulterada.

Ganharam fortunas aos borbotões,
Nesse ponto chegaram a ser campeões,
Mas no que se refere aos contribuintes apoiar,
Simplesmente, mandaram todos eles pastar.

A hemorragia se instalou,
A parte de cima tudo arrecadava,
E a metade de baixo
Não conseguia repor a energia do que lhe era tirada

E no meio do corpo divido,
O sangue se perdia em caminhos sem sentido,
Assim a base foi morrendo,
O topo nem reparava que por conta disso também a vida ia perdendo.

Mas o dia fatídico chegou,
Quem faz, quem produz e quem trabalha minguou,
Logo os governantes também ficaram sem energia,
E assim acabou-se a história da orgia.

Governo e povo mortos sem enterrar
Na paisagem só se via
Os últimos rapineiros a devorar
O resto da carne podre que fedia.

Na história original escrita,
O ato de Salomão, a morte da criança evita,
E no caso da Nação,
Será que há solução?


Eduardo Starosta

sexta-feira, 5 de junho de 2015

As Mentiras Sinceras

Há exatamente um ano o Brasil estava às vésperas de sediar o maior evento esportivo do planeta a cada quatro anos. E com a aproximação da Copa do Mundo, nosso país se envergonhava diante do mundo pelo atraso das obras, ficando fora do chamado “padrão FIFA”.
Se fosse hoje, falar a alguém que ele (ou ela) está dentro do padrão FIFA é pedir para levar bofetada. Simplesmente o que virou sinônimo de seriedade, organização e solidez institucional passou, da noite para o dia, a significar bagunça e roubalheira.
É claro que a entidade maior do futebol já era uma zona há vários anos. Mas a máscara de seriedade funcionava pois, cinicamente as pessoas envolvidas queriam acreditar nisso, ou simplesmente lhes era conveniente tal situação (ou inconveniente denunciar).
Continuando o raciocínio, esse tipo de desmonte súbito e constrangedor de padrões e verdades não é nenhuma raridade na história dos humanos.
- Centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo preferiram acreditar no dinheiro fácil como modo de vida e perderam boa parte de suas riquezas na crise financeira de 2008;
- Alguém se lembra de uma pulseirinha australiana milagrosa (coisa de 5 ou 6 anos atrás)? Quem a usava ficava com mais energia e coisa e tal. No momento em que a indústria que a produzia falou que tais benefícios eram lorota, quantas pessoas não trataram de arrancar o mimo milagroso do corpo para não passar por idiota. Tenho um conhecido que revendia essas pulseiras no Brasil. Ele tá dando risada até hoje!
Em todos esses casos, indícios, evidências e até o senso de ridículo deixavam claro que pessoas estavam sendo enganadas, ludibriadas, passadas para trás.
Mas tem vezes que as mentiras são tão gostosas de se acreditar, que saber a verdade faz com que parte da vida fique sem graça. Quem não gostaria de usar um penduricalho no pulso que fornecesse superpoderes? E ganhar dinheiro só pedindo dinheiro emprestado, então; tem vagabundagem mais gostosa que essa?
Pois bem, o passado é passado. É mais fácil esquecê-lo para não passar vergonha.
Por outro lado, será que no presente não há algumas “mentiras sinceras” nas quais preferimos acreditar e que depois vão nos dar grandes dores de cabeça?
Tenha a certeza de que a reposta é sim!
Na verdade, o Brasil de 2015 está pagando o preço de mentiras e acobertamentos de nossa história recente:
Lamentavelmente, programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, dentre outros, foram feitos sem sustentabilidade econômica. E chega o momento em que as pessoas que realmente geram renda, esgotam a capacidade (e a paciência!) de serem mais e mais tributados. E olha que nem entramos nos casos de corrupção...
O fato é que mesmo já sendo reconhecida, a crise atual é mais séria do que está aparentando. Definitivamente, não se trata de uma simples recessãozinha que vai ser superada no próximo semestre. Essa é só mais uma “mentira sincera”.
E pela tradição, quando a sociedade brasileira se der conta do buraco em que se meteu, só restará a vergonha, as grades das casas e o bolso vazio. Ah, e claro, alguém com bom senso de oportunidade e cara de bonzinho que baterá no próprio peito, afirmando ter a solução moral...
Daí, recomeçará o ciclo das mentiras sinceras.
Até quando?
Eduardo Starosta

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Lembrando dos Tempos de Guerra

Se estamos alarmados com o desenrolar da atual crise política e econômica brasileira – causada pela incompetência dos gestores públicos – um rápido olhar no panorama internacional pode nos deixar em pânico.

O jornal estatal chinês, Global Times, discorreu nessa semana, em editorial, a respeito das crescentes chances de uma guerra entre China e Estados Unidos por conta de desavenças nas águas internacionais do Pacífico.

O fato é que os chineses estão construindo ilhas artificiais de forma a ampliar seu alcance territorial. Os norte-americanos não estão gostando desse expansionismo e mandam seus aviões-espiões para verificar o andamento das obras de infraestrutura dessas novas possessões.

A citada nação oriental, com uma população superando a casa dos 1,3 bilhão de habitantes, detém um território vasto, mas majoritariamente problemático para a vida humana sustentável. 

O expansionismo chinês já é conhecido há décadas (e em uma visão histórica mais ampla, há milênios), sendo pauta permanente de preocupação dos governos do Japão e Coréia do Sul.

Mas essa história tem ainda mais uma faceta: o milagre econômico que levou a China rapidamente ao posto de segunda potência mundial pode estar prestes a desabar. A dívida do país já chega a 280% do PIB nacional e caminha rapidamente para o patamar dos 400%. Isso deixa evidente que o setor bancário chinês está assumindo cada vez maior alavancagem (= empréstimos com menor lastro), o que repete a situação que gerou a crise financeira global em 2008. 

E isso está acontecendo bem no momento em que o Partido Comunista (ironicamente “dono da economia de mercado”) encaminha a mudança do padrão do desenvolvimento nacional, que deixaria de priorizar as exportações em favor do mercado interno.

A frustração tende a ser grande e nesses casos, a história mostra que a solução política dos ditadores é atribuir as culpas a algum inimigo externo. Um eventual embate de forças entre os chineses (com provável apoio da Rússia) e norte-americano (junto com OTAN) terá um desfecho incerto, mas trará traumas e danos irreparáveis à humanidade e ao planeta.

O contexto lembra muito as condições objetivas que deflagraram a I Guerra Mundial: a Alemanha emergente e competitiva enfrentava  boicotes aos seus produtos por parte dos outros países europeus e suas colônias. A luta armada encerrou com a derrota dos germânicos, oficializada na assinatura do Tratado de Versalhes, o qual impunha uma situação de miséria aos alemães. 

Tal burrada política pavimentou a ascensão do nazismo e suas barbáries. Daí veio a II Guerra e mais milhões de mortos.

A sabedoria da política externa dos Estados Unidos na época foi, através do Plano Marshall, viabilizar a construção de sociedades ricas no Japão e Alemanha, transformando os antigos inimigos em amigos incondicionais.

Nessa ótica, talvez seja melhor para todos, a revisão do posicionamento das relações sino-americanas dentro do contexto global. Por exemplo, permitir que o Yuan (moeda chinesa) entre para a cesta de moedas do FMI, podendo ser internacionalmente negociada, aliviaria completamente as pressões financeiras chinesas nos próximos anos e, consequentemente, garantiria a paz e a oportunidade de gradativa democratização da China.

A alternativa a esse desfecho seria assistir à implosão da economia chinesa, o que traria a guerra e o flagelo de todos nós.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O País do Pendura

A situação está ficando para lá de danada nesse nosso país. 

Relatório divulgado essa semana pela Serasa-Experian aponta que 54,3% das empresas brasileiras estão com pelo menos uma dívida em atraso. O valor total da inadimplência das pessoas jurídicas chega a R$ 86,4 bilhões.

Para colocar em números mais palpáveis, esse valor corresponde a cerca de 18,8% de tudo o que o Brasil produz em um mês. Outra relação esclarecedora: cada empresa inadimplente, está, em média, “pendurado” com R$ 22,8 mil.

É claro que essa situação que afeta o ambiente nacional de negócios está ligada a dois fatores principais: atraso de pagamento das pessoas físicas e estoques parados de mercadorias e insumos comprados e não revendidos.

O grande problema é que em realidades como essa há grandes chances de se gerar um efeito em cadeia de proporções desastrosas para todos. 

Obviamente, quem não recebe seus créditos fica com menos dinheiro para honrar as contas a pagar e frequentemente acaba também entrando para o clube dos devedores.

Paralelamente a isso temos os entraves do setor público aumentando juros, subindo impostos e atrasando o pagamento de vários fornecedores privados.

Pegue todos esses ingredientes, enfie-os em uma panela quente, mexa uns 10 segundos e dê o fora: a explosão será grande e muito malcheirosa. E ao contrário do que os governos desejam, a primeira vítima da falta de dinheiro serão os impostos...

Ainda é prematuro para se afirmar categoricamente que a situação da inadimplência está fora de controle. Mas não há dúvidas de que o caminho atual nos conduz a tal destino.

Em situações como essa, qualquer solução passa, obrigatoriamente, pela geração de renda nova. Ou seja, as pressões implementadas (alta de juros e impostos) pelas autoridades econômicas aos consumidores e empresas com o objetivo de conter a inflação devem ser desmobilizadas no menor prazo possível, sob pena de crescente risco de um efeito em cadeia catastrófico de não pagamentos. 

Caso as ações estratégicas propostas pelo ministro Levy, da Fazenda, sejam realmente implementadas e o governo federal deixe de gastar R$ 80 bilhões em 2015, poderá ser dado um importante passo para a desoneração da sociedade junto ao fisco e os bancos. 

Em outras palavras, a hora é de injetar renda para reverter o pendura geral no qual se transformou as relações econômicas no Brasil.

A alternativa a esse cenário é o aprofundamento recessivo e o desabastecimento. 

Daí é que poderemos ter uma amostra do que os venezuelanos estão vivendo na atualidade.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Quando Reformas não Adiantam Mais

Sempre quando as coisas vão mal no Brasil ouvimos falar da necessidade de se fazer reformas: reforma fiscal, reforma política, reforma administrativa, reforma o escambau e por aí afora.
Depois que a crise passa, a conversa vai ficando aos poucos de lado e o que resta é mais um aumento de impostos absorvido pelos gestores públicos e que vai saciar a fome da máquina estatal por algum tempo (não muito!), até que surgirá nova pressão por aumento de gastos... e ferro nos impostos!
Então, caro leitor, se você começar a ouvir os políticos falarem em reformas, assuste-se; pois é o seu bolso que será “reformado” com mais furos.
Paralelamente a isso, o FMI sugere que para conter a inflação, o Brasil terá de subir os juros ainda mais. Não que os economistas do Fundo estejam errados. Lamentavelmente eles estão tecnicamente certos.
Entretanto, foi esquecido um componente importante que diferencia o Brasil do resto do mundo: depois de eventualmente debelada a inflação, a sua causa – a emissão monetária – volta a ser explorada pelo governo, na busca de mais e mais dinheiro.
Em outras palavras, subir juros e aumentar impostos aqui pelas terras tupiniquins só significa transferir renda de quem produz e trabalha para as mãos dos administradores públicos que – com raras exceções – não sabem como usar dinheiro.
É triste, mas as tais reformas nada mais são do que sangrias que só acabarão quando o estoque de sangue da sociedade secar. É vampirismo puro!
Quem tem ou teve casa velha sabe que chega um momento em que é mais racional e barato botar tudo abaixo e fazer uma nova construção; reformar seria apenas colocar dinheiro bom em alicerces podres.
Pode ser ousado, mas o Brasil do futuro só dará certo na medida em que nos convençamos a destruir o prédio que representa o Brasil do presente. Ou será que deveríamos insistir em botar para funcionar algo que nunca correspondeu às expectativas?
Sejamos realistas: um país onde os juros, impostos e inflação sobem, ao mesmo tempo em que a produção e o emprego caem de forma aguda, sofre do que os médicos chamariam de falência múltipla dos órgãos. Isso é sinônimo de morte clínica.
O mais inteligente, então, seria aproveitar o tempo que resta de relativa estabilidade social e demolir o Estado brasileiro de forma serena e planejada, tendo pelo menos algumas poucas diretrizes claras do que se quer para o futuro e de como deveríamos ser governados.
Isso serviria de base para uma nova Constituição. Quanto menos artigos, tanto melhor. O fundamental é que o texto constitucional seja claro, conciso e sem penduricalhos e armadilhas orçamentárias.
A alternativa a isso é a Casa Brasil ruir sobre nossas cabeças. Daí, de nada adiantará governar o ingovernável.
Utopia? Então, responda a três perguntinhas:
1) Você aceita pagar mais impostos?
2) Você respeita os seus governantes?
3) Você tem a percepção de que a sua vida está segura?
Eduardo Starosta