quarta-feira, 30 de março de 2011

O País das Firulas e do Pastel de Vento

O País das Firulas e do Pastel de Vento

De uma forma geral, podemos dividir os brasileiros em dois grandes grupos: o primeiro agrega aqueles apaixonados, que defendem de forma arraigada que aqui é o melhor lugar do mundo para se viver, não havendo lugar comparável; e o segundo reúne as pessoas que jamais aceitariam acreditar no seu próprio país, construído na base da corrupção, falcatruas e improvisações de segunda qualidade.

Pessoalmente, acho o primeiro grupo mais simpático. Para falar a verdade, na minha modesta opinião, só a Austrália oferece condições de vida similares às do Brasil e, ainda por cima, com mais dinheiro. O problema deles é que não aprenderam a falar o português, senão até poderia morar lá. Mas apesar dessa preferência, não são poucas vezes que tenho de dar a mão à palmatória aos mais pessimistas e carrancudos.

Apesar de o Brasil ser um país fantástico, a verdade é que há um rico  histórico comprovando que as coisas por aqui não funcionam em plena sintonia com a verdade e padrões, diríamos, honestos de comportamento.

Um exemplo bem claro disso foi dado a partir das conseqüências da reportagem do programa Fantástico, exibido pela Globo, identificando a rota dos caminhoneiros sendo acompanhada pelo tráfico de drogas, com a conivência das forças de segurança, em especial, da Polícia Rodoviária Federal.

Em certo momento da matéria jornalística, o então coordenador de operações da PRF, Alvarez Simões, foi flagrado por câmara escondida, fazendo menção ao apoio que a corporação deu para a famosa invasão do Morro do Alemão - no Rio de Janeiro, nos últimos momentos do governo Lula - chamando a ação de "firula", ou seja, "coisa para inglês ver".
Se fosse por aliviar a barra dos traficantes da estrada, até que seria justa a demissão do Simões. Mas a questão é que o sujeito foi exonerado só por ter falado a verdade – que a tomada do Morro do Alemão foi firula (ele bem que tentou mudar o significado da palavra... coitadinho!).
Vamos deixar de tanta palhaçada: está cada vez mais evidente que aquela aparente operação de guerra não foi muito mais do que uma cara armação para o governo do Rio de Janeiro e o Federal darem uma resposta à população carioca e mídia internacional, diante do claro domínio dos bandidos em vários pontos importantes da ex-capital brasileira.
Olha só: quem lembrar da ação “de guerra” não vai esquecer que tudo foi exaustivamente coberto pela Rede Globo, que divulgava inclusive os planos de batalha das forças armadas e policiais em conjunto.
Imagino que nenhum dos bandidos do Complexo do Alemão tinha televisão, mesmo que por celular...  
Ora, é óbvio que eles sabiam de toda a movimentação e exatamente por onde dar no pé. Se a invasão era por baixo, nada como fugir por cima, certo?
E assim foi feito. Lembra da correria dos traficantes no topo de um morro para outro. Tinha até moto e carro na estrada de chão aparentemente inacessível. Se aquilo não era coisa planejada, o que seria, então? Claro, teve a cena do sujeito baleado.
Imagina só: as forças do Estado munidas de helicópteros com armamentos pesados só atiraram em um único pobre-coitado que corria a pé.

Foi uma demonstração de força e tanto! Mas cá entre nós: com tamanho aparato bélico por que será que eles só atiraram naquele traficantezinho pé-de-chinelo e deixaram os outros escaparem ilesos? Por razões humanitárias? Se fosse por isso ninguém deveria levar chumbo. E se fosse para distribuir balas, aquele platô descampado fazia dos fugitivos um alvo ideal.

Diante disso, o Simões falou mesmo a verdade. Botar patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal correndo morro acima não passou de uma boba firula. Muito provavelmente, toda a operação tenha sido isso mesmo. E o cara perdeu o emprego por falar a verdade...

Talvez estejamos acostumados demais a pastéis de vento. Quem não os conhece? A primeira mordida neles tem que ser uma modesta dentada numa ponta, sob pena de queimar a cara com o ar quente que substitui o recheio da iguaria.

Pois bem, a falta de essência em vários serviços públicos e privados no Brasil é motivo de envergonhar os mais ufanistas, os mais apaixonados pelo país. Falar de saúde, educação, segurança e outros temas afins é remeter-nos à ponta de baixo do ranking mundial de eficiência.

Uma coisa que aparentemente ia bem, como uma exceção à regra, era a política energética de promover o álcool de cana como alternativa à gasolina como combustível para veículos. Até é compreensível que o preço do produto aumente nas entre-safras ou em função de oportunidades especiais no mercado internacional, como a recente alta do preço do açúcar por conta da frustração da colheita indiana de cana-de-açúcar.

Mas quando a situação do preço alto passa a ser resolvido por uma determinação governamental que aumenta a quantidade de água no álcool misturado à gasolina, isso é pastel de vento; é empulhação; é vender gato por lebre!

Ou será que nossos brilhantes tecnocratas descobriram uma aguinha especial que faz carro andar?

Sem duvida, o Brasil é um país ótimo para se viver.... mas a gente passa cada vergooonhaa!

Eduardo S. Starosta

quarta-feira, 23 de março de 2011

Bate-Papo Sobre a Nova ONU

Bate-Papo Sobre a Nova ONU
Naquele abril de 1945, enquanto a Alemanha e Japão ainda insistiam em resistir à ofensiva dos aliados no final da Segunda Guerra Mundial, os países em vias de vencer o conflito já começavam a discutir sobre o futuro da política internacional. E assim, em São Francisco, nos EUA, 51 países mandaram representantes para redigir e aprovar a Carta das Nações Unidas.

Estava surgindo a ONU, que estará comemorando o seu 66º aniversário nas próximas semanas.

Apesar dessa razoável idade, seríamos cínicos se admitíssemos que Organização cumpriu - com sucesso - o seu papel de promover e garantir a paz e a cooperação entre os países. Prova disso é que nos últimos 10 anos cerca de 3,5 milhões de pessoas morreram em conflitos armados.

Sim, é verdade que a ONU avançou em outras frentes como a universalização da educação, combate à pobreza, ajuda humanitária, dentre outros aspectos. Mas também é inegável que tais ações acabaram virando grandes fontes de burocratização, onde há abundância de técnicos que olham as verdades do mundo por detrás de telas de LCD, sem nunca terem realmente passado um tempo razoável junto a comunidades que realmente necessitam de ajuda.
Em suma, observamos que ao longo das últimas décadas, na medida em que os órgãos, departamentos e escritórios da ONU foram se disseminando pelo mundo, a instituição foi perdendo credibilidade junto aos governos, se é que a teve algum dia.
Especialmente depois da Guerra Fria, a utilidade das Nações Unidas começou a ser cada vez mais duramente questionada e as decisões das Assembléias Gerais se tornaram alvo de chacota pública.
O único fórum da Instituição realmente cobiçado pelos países é o tal do Conselho de Segurança. Em resumo, trata-se de um clubezinho de países dividido em duas categorias: os membros permanentes que ficam se xingando mutuamente, enquanto mandam os povos em guerra pararem de brigar, ao mesmo tempo em que vendem bilhões de dólares em armas; e os membros eleitos para um mandato temporário, que não tem poder de veto e passam o tempo todo defendendo a sua permanência nessa elite de guerreiros. O próprio Brasil assume essa postura boboca desde os governos militares, passando por FHC e Lula.
E é engraçado que quem mais berra contra essa pretensão Tupiniquim são os nossos queridos e ciumentos hermanos argentinos. Mas tudo bem, em certas oportunidades também sacaneamos com eles, como naquela história de dar abrigo aos aviões ingleses que iam bombardear os nossos vizinhos na Guerra das Malvinas.
Mas pensando bem, essa retranca até que cai bem. Imagina o Brasil gastando o que não tem para assegurar a paz mundial, enquanto o Fernandinho Beira Mar continua, literalmente, dando as cartas no Rio de Janeiro, em alusão à reportagem da Globo provando que o número 1 do ranking penitenciário dribla a segurança e envia mensagens escritas para seus capangas em papeizinhos mínimos. O cara poderia escrever um romance num grão de arroz!
E no decorrer dessa bagunça toda, começa a pipocar no meio dos governantes do globo a idéia de uma Nova ONU. Ninguém sabe muito bem do que se trata. Mas todos os líderes querem o raio de assento permanente no Conselho de Segurança. E o presidente dos Estados Unidos, com cara de importante, ainda tem o despeito de dizer que vai pensar no assunto.
Ô seu Obama! Faz o seguinte ó: manda construir uma sala lá em Nova Iorque com um monte de poltronas soldadas no chão; daquelas que ninguém consegue arrancar (para ser permanente!); e dá de presente a quem quiser, colando uma tabuleta em letras garrafais: CONSELHO PERMANENTE DE SEGURANÇA.
E na surdina, se cria o Conselho de Insegurança da Nova ONU, composto por aqueles que realmente tem a capacidade de destruir com o mundo. Para falar a verdade esse novo órgão tem seu nome de batismo bem mais adequado à realidade. Afinal, nessas reuniões, quase sempre estão discutindo sobre qual país que deverá ser o próximo a ser bombardeado.
Afora essas baboseiras, para o que poderia servir uma nova ONU?  Os mais utópicos sonham com a idéia de governo mundial... Imagina uma eleição para presidente. Sinto muito dizer, mas a Dilma e o Serra ficariam chupando o dedo...
O chefe do governo mundial (da nova ONU) seria eleito pela maioria, certo? E nesse ponto, é claro que as forças políticas regionais iriam convergir em torno de quem detém as maiores populações. Dito isso, vamos a uma pequena simulação.
O mundo deverá fechar 2011 com cerca de 7 bilhões de pessoas. A soma de Índia, China, Indonésia, Bangladesh, Paquistão, Rússia e Filipinas já daria para compor uma maioria absoluta para eleger o novo chefão. Essa aliança é difícil de sair; mas trocando o Paquistão (sempre em briga com a Índia) por outros dois ou três países asiáticos, estaria pronta a espinha dorsal do tão sonhado governo mundial.
 Será que os europeus, americanos do sul, do norte e africanos gostariam de serem governados pelo citado grupo? Uma pinóia!
Ainda mais: mesmo que existissem formas mais palatáveis de definir o presidente da Nova ONU, como esse cara iria exercer seu mando em tantos lugares do mundo tão diferentes em termos culturais, religiosos e climáticos? Ou iria ser um ditadorzinho daqueles bem chatos, ou não mandaria em nada de verdade.
Veja bem, por mais paradoxal que possa parecer, a tal da globalização, ao mesmo tempo em que aumentou a possibilidade de que todos fossem iguais, consumissem a mesma coisa; despertou nas pessoas um zelo maior pelo seu eu, pela individualidade.
Então, ao invés de ficarem defendendo planos malucos de união dos povos, não seria melhor apenas buscar garantir o direito das pessoas de serem simplesmente como elas querem ser?
Ao invés de governo, vamos defender o desgoverno mundial! O legal seria tentar garantir o livre acesso ao comércio, segurança, educação e, talvez, cerveja gelada. Quanto ao resto, deixa que cada povo faça como melhor entender.
Moral da história: Nova ONU é besteira! Pelo menos já conhecemos a velha e desmoralizada ONU e é melhor que fique assim mesmo.
Até breve.
Eduardo S. Starosta

quinta-feira, 17 de março de 2011

A Ilha do Perigo

Os moleques telemaníacos que hoje tem por volta dos 50 anos devem se lembrar do seriado infantil Banana Splits. Os bichos amalucados, em meio a trapalhadas e músicas, apresentavam vários desenhos animados e um seriado em especial: a Ilha do Perigo

A Ilha do Perigo tinha como argumento central as aventuras de uma família (pai, filho, filha e uma coadjuvante que não parava de paquerar o pai das crianças) que passava o tempo explorando uma ilha tropical desconhecida e cheia de encrencas.
 Naquela mesma época bombavam na TV os filmes de monstro feitos no Japão. Os bichos particularmente tinham preferência por destruir Tóquio e sempre acabavam derrotados por um super-herói gigante, apoiados por uns japoneses que pareciam tão pequenininhos...
Foram imagens  que acabaram se perpetuando na mente. E acabaram tendo certa utilidade didática em minha vida profissional. Há alguns anos, em palestra sobre cenários da economia, resolvi mostrar as conseqüências das decisões dos países em terem seus mercados abertos ou fechados para o comércio exterior. Como exemplo, simulei o que aconteceria com o Japão caso o mundo declarasse um bloqueio completo à ilha. Em aproximadamente três meses, a segunda economia mais poderosa do globo estaria chegando à miséria.
E tristemente, a realidade superou a ficção. Mesmo contando com a solidariedade do globo, os terremotos e tsunamis que atacaram o Japão no começo de março colocaram à flor da pele a fragilidade das civilizações mais avançadas do mundo, diante a simples ações da natureza de acomodação geológica.
De certa forma, parece que não somos muito diferentes de um formigueiro, sempre sujeito a ataques de chuva, pontapés e tamanduás, que causam danos muitas vezes irreparáveis, extinguindo a comunidade.
Voltando ao Japão, se imaginávamos que logo após o terremoto, aquele laborioso povo iria limpar a área destruída e iniciar a reconstrução, a exemplo do que aconteceu em Kobe (jan/95), estávamos completamente enganados.
A mexida adicional das tsunamis foi o suficiente para devastar uma área muito maior e provocar a destruição de infra-estruturas que estão envolvendo até contaminação nuclear. Enquanto uns poucos apagam incendios ou buscam por sobreviventes, a maioria continua em estado de choque.
O resultado: em apenas uma semana, o rico Japão sofre com a falta de comida para comer, água para beber, moradia para morar e até energia para fazer qualquer coisa relacionada ao mundo atual. Ajudar o Japão humanitariamente é um pensamento nobre que passa por quase todos os governos e povos do mundo (talvez com exceção dos coreanos e chineses), mas quantas pessoas terão a coragem de desembarcar por lá para encarar riscos radiativos e de epidemias? Acho que muito poucas.
A barra está pesada lá no outro lado do mundo. Mas a expectativa é que no decorrer de mais algumas semanas ou meses a fase mais aguda da crise passe e se inicie um duro, mas inevitável trabalho de reconstrução de parte importante de uma civilização. O mais provável é que daqui há alguns anos tudo esteja restabelecido no país dos nipônicos e a tragédia fique relegada às lembranças dos livros de história.
Mas e se não for assim? O terremoto de 9 graus na Escala Richter teve o poder de deslocar o arquipélago nipônico 20 metros em direção a Oeste. E isso não é pouca porcaria! Vendo isso, será que não estamos sendo um pouco ingênuos em evitar pensar em conseqüências piores da instabilidade geológica daquela região? Utopia?  Talvez.
Em 1.470 AC, a erupção de um vulcão e tsunamis eliminaram do mapa a civilização minóica – a mais avançada do seu tempo (localizada  na atual Creta). Ou seja, a pouco menos de 3.500 anos – quase nada em termos de história geológica – o Japão dos tempos antigos desapareceu. Será que isso é impossível de acontecer agora só porque temos computadores, aviões e outras engenhocas? Nada disso. O planeta terra segue seu próprio amadurecimento independentemente de nossa vontade. E isso pode provocar afundamentos de ilhas e outros fenômenos considerados cataclismos.
E se hoje nos identificamos como uma civilização globalizada, nosso papel é buscar cultivar e preservar as melhores coisas de cada lugar. Por sinal, um novo fluxo migratório japonês para o Brasil, não faria nada mau ao nosso país, que oferece mais segurança geológica e, como contrapartida, necessita de gente capacitada para desenvolver uma indústria de ponta.
Agora, olhando para outra ilha, mais ao Ocidente e que até há poucas décadas era o local mais rico e poderoso do mundo, a novidade importante foi o lançamento da caneca comemorativa ao casamento do neto da Rainha Elizabeth. Na foto, a noiva está linda de meter os beiços (no caso, essa expressão é mais do que apropriada). O problema é que colocaram o príncipe errado. Pior: entregaram o irmãozinho caçula do príncipe William se engraçando com a futura cunhada. Será que rolou porrada no Palácio de Buckingham?   
Bem, cada ilha afunda de sua própria forma...
Até breve.

Eduardo S. Starosta

quinta-feira, 10 de março de 2011

Os Ets da NASA e o Cartel do Conhecimento

Os Ets da NASA e o Cartel do Conhecimento
Imagina só: depois de décadas se esquivando em assumir qualquer posicionamento a respeito de vida em outros planetas, a agência espacial dos EUA, a NASA, veio a público para praticamente dizer que os alienígenas existem e estão entre nós.
A parte chata disso tudo é que os Ets não têm nada a ver com a espaçonave do folclórico caso Roswell, ou com lagartixas gigantes andando sobre dois pés e vestindo macacões dourados. Mesmo seres como o Dr Spock, do seriado Jornada nas Estrelas estão fora de questão.
A verdade é bem mais simplória e óbvia: foi descoberto em um meteorito uma bactéria fossilizada completamente diferente do padrão de vida conhecido aqui no nosso planeta. Mesmo dessa maneira modesta frente às expectativas mais fantasiosas, a descoberta acaba por demonstrar o óbvio: em um universo que não se sabe o tamanho é evidente que existem outras formas de vida além daquelas que conhecemos. Bem, talvez nada seja mais exótico do que o ornitorrinco ou o falecido Michael Jackson.
Mas a confirmação em si é tão significativa para a história da humanidade como aquela em que Galileu disse que era a Terra que girava em torno do sol e não ao contrário. Mas o gênio da Renascença teve que desmentir tudo, sob pena de ser queimado vivo pela Inquisição.
Por incrível que pareça, o cientista da NASA que fez a descoberta da bactéria alienígena, Richard Hoover, está em uma situação não muito diferente. Seus colegas de profissão querem cremá-lo por ter divulgado sua pesquisa na revista "Journal of Cosmology" (editada pelos próprios cientistas da Agência Espacial). O problema é que a tal da publicação é vista com maus olhos pela comunidade científica porque é independente e tem livre acesso à internet.
Grande besteira! Mais ou menos, isso quer dizer que se uma menina ficasse grávida e contasse o fato para os pais zelosos pela sua virgindade (isso ainda existe...), a informação não seria reconhecida pela família. Só seria validada se passasse, em segredo, pelo crivo e divulgação da fofoqueira oficial da rua. Sem isso a gravidez simplesmente não existiria, apesar de a futura vida estar lá, verdadeiramente em gestação.
Por essa analogia, bactérias extra-terrestres não existem simplesmente porque não foram noticiadas nas revistas que têm autoridade para isso. Coisa ridícula!
E esse comportamento de reserva de mercado do conhecimento não é só prerrogativa do pessoal do espaço. Há alguns anos, o Conselho Nacional de Medicina do Brasil condenava a terapia pela milenar acupuntura, pois a prática “não era cientificamente provada”. Mais recentemente (acho que em 2009) os médicos mudaram de idéia em relação ao uso das agulhas de origem chinesa. As picadas foram declaradas funcionais, mas só se fossem administradas por um médico; os outros que eventualmente praticassem a terapia seriam considerados curandeiros e, portanto, sujeitos à pena de prisão.
Veja só, estamos diante do que se pode chamar de máfia do conhecimento. Na busca de mercado de trabalho exclusivo, além de médicos e cientistas, burocratas, advogados, contadores, corretores, jornalistas, dentre outros grupos profissionais, usam suas organizações associativas para tentar monopolizar funções profissionais a partir de um presumível conhecimento diferenciado. Isso força o cidadão comum a gastos que muitas vezes não faria de vontade própria, ou pior: ver  cerceada a sua prerrogativa de livre pensar e agir de acordo com seus próprios interesses.
Claro, não vamos levar esse pensamento aos píncaros do ridículo. É pouco provável (mas não impossível) que um açougueiro seja um cirurgião veterinário capaz; ou que um bandido tenha plenas condições de  fazer a própria defesa perante o tribunal. Mas se essas pessoas, sem qualificação formal mostrarem capacidade – através de exames de qualificação - para exercer tais funções por que não deixá-los fazer isso?
Bem, o que a história prova é que o monopólio do conhecimento ao redor de algum tipo de elite  sempre resultou no aumento da ignorância geral.
Outra coisa: ficar de quatro a seis anos sentado em uma cadeira de faculdade e ser aprovado em provas, não é sinônimo de capacidade profissional. Vítimas de erros médicos; inocentes presos por erros processuais; falidos em função de erros de contadores e administradores; desmoralizados por erros de comunicadores são testemunhas do que falo.
Eduardo S. Starosta

quarta-feira, 2 de março de 2011

Intolerância Zero

Intolerância Zero
Sexta feira passada, Nicole, minha filha de dois anos e meio acordou pouco depois das 9 horas da manhã. Sozinha, tirou as fraldas encharcadas, dizendo “eu não uso mais” e logo depois perguntou:
- Papai, vamos fugir da escola e ver macacos na Redenção (parque perto do centro de Porto Alegre)?
- Claro, mas antes o pai tem que terminar um trabalho, tá?
- Tá.
O “tá” da pequena teve a contrapartida de um pandemônio: no quarto, dezenas de bichos de pelúcia espalhados por todo o canto; e na sala, o piso ficou forrado de lápis de cor, canetas e giz de cera. Mas esse foi o custo da paz, para conseguir encerrar um relatório de internacionalização do setor farmoquímico e farmacêutico.
Um pouco depois do meio dia fomos almoçar no restaurante favorito de Nicole e logo após seguimos a pé (ela no colo) para ver os macacos da Redenção no mini-zôo que lembro já existir na Redenção nos anos 60 (não precisa fazer as contas, sou pai velho mesmo). Depois de tantas décadas, o IBAMA (tipo de policia ambiental) determinou a remoção dos símios do local, pois eles estariam muito estressados por viverem próximos a duas avenidas de grande movimento, merecendo mais liberdade e tranqüilidade. Mas isso ainda não foi feito.
Chegando lá, enquanto minha filha se maravilhava com as macaquices e pássaros exóticos, eu notava duas coisas: a primeira é que as árvores ao redor do parque praticamente eliminavam o barulho das avenidas próximas. Os macacos estavam numa boa, como sempre estiveram há várias gerações! A segunda é que além da família de quatro pessoas que também admirava os animais, vinha se aproximando um grupo com cara suspeita.
Não que eu seja preconceituoso, mas qualquer pessoa com alguma vivência sabe identificar na hora que certos tipos são uma ameaça a própria segurança.
Em poucos minutos já estava fora do parque, dentro de um taxi. Nicole, meio indignada, não se convenceu muito de que iria chover (ainda bem que choveu depois), mas gostou da idéia de ir para a casa da avó e foi o caminho todo cantando a música da Chapeuzinho Vermelho.
Ao som da cantiga, lembrei da noite anterior, quando liguei para um amigo de São José dos Campos, SP, que acabara de passar pela experiência de um seqüestro relâmpago. Segundo ele, ainda bem que os bandidos foram gente boa e não ameaçaram muitas vezes de matá-lo.
Chegando no edifício em que mora a vovozinha, todo gradeado e com cerca elétrica – a região tem muitos idosos e é uma das preferidas dos assaltantes estilo lobos-maus – abri o primeiro portão com o controle remoto; usei outro controle para destravar o alarme; duas chaves para acessar o portão de entrada; e outras três para entrar no apartamento da minha precavida mamãezinha que estava meio deprimida por não sair muito de casa.
Mas por que estamos diante de tanta ameaça de violência a ponto de nos preocuparmos com a própria proteção em praticamente todas as horas do dia? Antes de tentar responder a isso, veja só que dados impressionantes foram publicados pelo estudo “O Mapa da Violência 2011”, veiculado no portal do Ministério da Justiça:
- 73,6% dos jovens (entre 15 e 24 anos) que morreram em 2008, foram “dessa para melhor” (brrrr) não por doenças, mas sim por causas externas, principalmente assassinatos;
- fora dessa faixa etária, as mortes violentas chegaram a 9,9%, o que também é preocupante;
- Alagoas é o campeão brasileiro de assassinatos de jovens, com 60,9% do total de mortes não naturais;
- Roraima é aparentemente o estado da paz. 14,3% das mortes violentas são por conta de matadores. Mas essa paz parece ser meio deprimente. Esse mesmo estado registra a maior taxa de suicídios de jovens, chegando a 13,3%. Será isso mesmo, ou estamos diante de inquéritos viciados???
- E olha essa: em 10 anos (98 a 08) o número de assassinatos aumentou 108% na Região Norte; 101,5% no Nordeste; 86,4% no Sul; e caiu 29,9% no Sudeste, especialmente no Rio e em São Paulo (MG e ES aumentou), exatamente onde a policia tem a fama de maior brutalidade ostensiva.
Espera um pouquinho: de acordo com os dados oficiais do governo, o período em questão coincidiu com grandes ganhos de renda nas populações mais pobres, seja pela melhoria da economia,  ou em função de programas assistencialistas, como o Bolsa Família. Veja que os assassinatos aumentaram justamente nas regiões mais beneficiadas com renda adicional. Sendo assim, fica quase evidente dizer que aquela história na qual a criminalidade é fruto da pobreza, tende a ser uma balela.
O negócio seguinte: o velho ditado da "ocasião faz o ladrão" parece ser a explicação mais lógica e científica para o fenômeno do aumento da violência.
Talvez por trauma da ditadura, os governantes brasileiros ao nível federal e estaduais sucatearam e desmoralizaram seus aparatos de defesa pública. São Paulo e, mais recentemente, o Rio de Janeiro reagiram a esse equívoco e obtiveram resultados práticos em termos de diminuição de assassinatos.
De resto, o sentimento de impunidade só tem aumentado e isso vem acontecendo independentemente da classe social. E não é para menos.
Lembro, ainda nos anos 90, quando adolescentes resolveram botar fogo em um índio que dormia ao relento, em Brasília. Em um certo momento, os meninos - que eram filhos de magistrados - chegaram a ser processados apenas por lesões corporais e não assassinato.
E as desculpas esfarrapadas foram evoluindo na medida em que os maus exemplos eram escancarados para a sociedade. E isso valeu não só para os crimes violentos, como também em relação a corrupções e falcatruas em geral.
Nesse ponto, uma moda que pegou para justificar tantos bandidos à solta foi a superlotação dos presídios brasileiros e a precariedade deles, impedindo que os coitadinhos dos criminosos tenham condições habitacionais  dignas, conforme foi divulgado recentemente por uma série de reportagens na rede Globo. E dentro dessa ótica é corriqueiro o policial arriscar a sua vida para prender bandido e este ser solto pela justiça por falta de vagas no sistema penitenciário.
- Daqui a pouco, um assassino flagrado em 2011 vai receber uma senha para começar a cumprir a sua pena lá em 2017, quando liberar vaga em algum presídio de segurança máxima. Até lá ele vai ficar livre pela vida para fazer o que bem entender...
E aí gente, vamos deixar de ser trouxas? Que tal a idéia de construir mais presídios? Como li recentemente num desses e-mails em massa, a areia, cimento, tijolos, grades, engenheiros e pedreiros não estão em falta no Brasil e saem muito mais barato do que várias ações menos importantes previstas no orçamento da União e dos estados.
A alternativa a isso é continuar fazendo o que fazemos: gradativamente desistir de andar livremente pelas ruas; transformar a própria casa numa jaula; e fingir que bandido é gente de respeito, sob pena de levar bala nos cornos.
Epílogo:
Algumas horas depois de fazer bagunça na casa da vovozinha, peguei meu carro que estava lá estacionado e fui buscar a mãe da Nicole no trabalho. Na volta, perto da casa dela, não pude dobrar à direita, sendo obrigado a fazer um caminho cerca de 2 km mais comprido.
Alguns instantes antes, naquela rua (José do Patrocínio), um sujeito atropelou dezenas de ciclistas. Coitadinho do motorista, devia estar um tanto quanto estressado. Tanto que uns dias depois, acabou sendo internado em uma casa de repouso. Votos de pronta recuperação para ele, pobrezinho!
Pelo meu lado, penso em contatar o IBAMA para ver se eles me conseguem uma vaga juntos com os macacos que serão removidos da Redenção para um local menos estressante.
Afinal de contas, já estamos presos mesmo! Quem é realmente livre são aqueles que estão prontos para nos matar e roubar.
Isso é o que chamo de Intolerância Zero.

Eduardo S. Starosta