quarta-feira, 25 de abril de 2012

2012 Uma Galinhada no Espaço


Essa semana, definitivamente, o mundo perdeu o resto do sentido que aparentemente tinha: o imbatível Barcelona está há três jogos sem vencer; Silvio Santos está tirando o Chaves do ar; isso sem falar da funcionária puxa-saco que foi demitida logo depois de doar o rim para a chefe.

Com tanta maluquice não precisa nem pensar nas relações da política brasileira com o jogo do bicho, ou na sucessiva derrubada de governos  europeus por conta da incapacidade dos gestores públicos em reagir à crise financeira internacional.

Nesses momentos em que tudo parece perdido, não há nada mais o que fazer, além de tentar relaxar e elevar o pensamento ao infinito do universo. Para tanto, basta uma bela noite sem nuvens e o olhar disperso pelas milhares de estrelas.

Pelo menos algumas dezenas dos mais de 50 milhões de habitantes do estado norte-americano da Califórnia deveriam estar admirando os astros numa certa noite há algumas semanas, quando observaram um objeto despencando do céu. 

Maravilha, uma estrela cadente!

Que nada! O que estava caindo era uma galinha de borracha chamada Camila  que voltava de um voo panorâmico de 40 km de altura, a bordo de um balão de hélio que havia estourado alguns instantes antes.
Conheça Camila, a Galinha do Espaço, Isso é só o começo.

O voo do galináceo tinha sido uma experiência de estudantes interessados em identificar os efeitos das explosões solares sobre o falso cacarejante. 


E assim, em nome da ciência irreverente, foi definitivamente decretado o fim do romantismo do céu. Cedo ou tarde, os românticos remanescentes podem acabar sendo surpreendidos por um ovo na cara, ou coisa pior. 


Por outro lado ,os garotos californianos não deixam de estar de parabéns, já que a Camila foi mais alto do que o míssil transcontinental que os malucos da Coréia do Norte lançaram há algumas semanas.


Mas o fato  é que a mágica do espaço sideral vem sendo paulatinamente desmascarada.Desde que Galileu postulou que a Terra não seria o centro do universo (na verdade qualquer ponto pode ser o centro do universo; até o seu próprio umbigo), o que há acima de nossa cabeça foi rebaixado do místico ao conhecimento formal a ser desbravado.

Quando explodiram a bomba atômica, os físicos mostraram que conheciam os princípios básicos da relação entre matéria e energia. Juntando alguns ingredientes a mais, alguns anos depois os estudiosos chegaram a um ponto provavelmente bem próximo para explicar com refino o nosso universo (dizem que podem haver outros).

Planetas fora do sistema solar já são coisa mais comum do que barata em ralo; a existência de água também está comprovada em tudo o que é corpo celeste. A vida extra-terrestre está a um passo de ser comprovada, mesmo por meio de fósseis em Marte ou simples bactérias perambulando em qualquer canto.

Saindo da ciência, o antigo universo inalcançável está virando um bagunçado quintal da nossa Terra. Antes mesmo da viagem da galinha Camila, não foram raras as noticias de lixo espacial caindo por tudo que é canto.


E vêm mais novidades nas próximas semanas, meses e anos: o primeiro voo privado (ainda sem tripulantes, mas com a idéia de levar turistas) para a Estação Espacial Internacional, que deveria partir dia 30 de abril foi adiado em uma ou duas semanas. Mas logo, logo, vai acontecer.


Em outra frente, a Google, em conjunto com alguns bilionários, está iniciando um empreendimento de minerar metais preciosos nos asteróides. Eles garantem que em quatro anos estarão trazendo os primeiros carregamentos.

Veja só: é questão de tempo (aposto que não muito) para que os arredores da Terra estejam lotados de cacarecos tal qual uma praia movimentada em final de domingo.

Espera um pouco, fiquei com uma dúvida: se esse negócio de mineração espacial prosperar, em poucos anos o custo da atividade vai cair e as quantidades de minério “importadas pela terra” podem chegar a casa dos milhões de toneladas. O problema é o seguinte: se me lembro bem das aulas de física de 35 anos atrás, a gravidade tem proporção com o peso do planeta. Então quanto mais ouro, prata e outros metais que botarem aqui para dentro, tanto maior será a gravidade terrestre e ficaremos automaticamente mais pesados sem ter comido um churrasco sequer. 


Isso não é justo! É só para fazer a fortuna das clínicas de emagrecimento, academias de musculação e ONGs de defesa do meio ambiente galáctico (quer apostar que vai ter?). 


Talvez criem um sistema de compensação, mandando para o espaço porcarias com o mesmo peso das preciosidades que colocarem para dentro do planeta. Mas o que serão as porcarias? Pessoalmente escolheria, em primeiro lugar, os prédios dos cartórios. Adeus reconhecimento de firma e outras baboseiras! 

Finalmente, em meio a toda essa muvuca, não poderia deixar de conceder o devido destaque ao astrônomo norte-americano, Geoffrey Marcy. Esse sujeitinho se encheu de descobrir planetas fora do sistema solar e está começando a investir em uma das maiores barreiras da credulidade humana: a busca por vida inteligente fora da Terra.


E ele está inovando nesse campo, ao substituir os rastreadores de sinais de rádio espaciais por lasers que venham a captar mensagens dos ETs. A coisa tem lógica: afinal de contas se para nós mesmos as transmissões de rádio estão superadas, por que civilizações mais adiantadas usariam esse recurso primitivo de comunicação? O rapaz também vai procurar estruturas artificiais de absorção de energia ao redor das estrelas...

O problema vai ser se ele descobrir mesmo alguma coisa e manter contato com os alienígenas.


Imagina se a primeira pergunta dos irmãos do espaço for: Vocês são gostosos com molho tártaro?  BRRRRRR eu fora!

Melhor voltar a pensar na crise mundial... E se o Sarkozy perder a eleição na França, será que a gata da mulher dele, a Carla Bruni, vai ficar quietinha ou voltar aos palcos para a nossa alegria?



Carla Bruni como veio ao mundo. Com uma mulher dessas em casa, ser Presidente da França é perda de tempo.


Até Breve




Eduardo Starosta

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A Queda dos Juros e a Encrenca Industrial Brasileira


A grande porcaria do debate político brasileiro é que ele praticamente  não existe.

Eu explico: os aliados dos governantes não admitem as menores críticas a sua gestão. Quem fala mal é tachado de cretino, ou filho de uma senhora de vida fácil. Por outro lado, quem está alinhado à oposição hostiliza qualquer projeto governamental, por mais bem que esse vem a fazer a sociedade.

Mais incrível ainda é observar que quando o poder muda de comando,  os posicionamentos  simplesmente se invertem. Por exemplo, determinado partido quando na oposição defende o aumento salarial do funcionalismo; mas ao ganhar a eleição desconversa a questão em nome da responsabilidade fiscal. Ao mesmo tempo os antigos governantes incorporam às suas bandeiras a luta que pouco tempo antes eram contrários.

Em resumo, talvez a melhor definição da política brasileira seja "A arte de ferrar o oponente".

Pessoalmente, certas vezes acho isso tudo um tanto quanto engraçado. 

Mas também não tenho dúvidas de que essa pandemia de mesquinheza e descompromisso com a verdade é um dos principais fatores que impedem o Brasil e a grande maioria de seus estados e municípios de estarem em uma situação social e econômica bem melhor do que se encontram na atualidade.

Por conta disso, faço todo o esforço para não me apaixonar por idéias. Prefiro mulheres bonitas! 

Além do mais, o vínculo emocional com pensamentos - especialmente os teóricos - acaba por criar temerosos distanciamentos da realidade e normalmente acabam em besteiras incomensuráveis.

E é assumindo essa postura despojada de paixões e bandeiras políticas que dou o meu voto de confiança inicial às iniciativas de Dilma Rousseff no sentido de tentar derrubar os juros ao consumidor e repactuar o endividamento das pessoas físicas.

A bem da verdade, esse mérito deve ser dividido com os ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, que bancaram o risco político do plano real. 

Mas a história também deverá reconhecer que foi a nossa patroa que enfrentou a prova de fogo de sobrevivência à inflação: abrir mão dos juros altos como fator estrutural de proteção contra a alta dos preços. 

Em outras palavras, é muito fácil estabilizar preços às custas de juros altos, da mesma forma como é tranquilo ficar calmo usando calmante.O problema é manter o equilíbrio sem artifícios. E isso é o que está sendo tentado agora.

Vai dar certo? Não sei! 

Quem afirma com certeza que sim está mentindo e quem afirma com certeza que não também está faltando com a verdade.

A vida e a economia tem muitos fatores imponderáveis e no frigir dos ovos a postura mais coerente é simplesmente se empenhar para que tudo não desande.

Entretanto, apesar da importância do que foi feito em termos de redução dos juros, estamos tratando apenas do pontapé inicial de uma longa agenda de tarefas e ajustes para fazer com que o Brasil realmente possa usufruir estruturalmente dos juros baixos.

Além de um salutar aprendizado por parte do consumidor a respeito de seu real potencial de endividamento (para evitar nova escalada da inadimplência, a exemplo da atualidade)  uma questão importante é avaliar se a indústria brasileira está preparada para fazer frente a um aumento rápido do consumo.

Mesmo que os indicadores de produção das fábricas estejam mostrando recessão - e isso também significa capacidade ociosa - há sérias dúvidas a respeito de que a indústria brasileira tenha capacidade para suprir efetivamente o crescimento da demanda. 

Caso ocorram problemas nesse sentido, se as importações não derem conta do recado, a inflação vai voltar com toda a força e lá se vai o nosso querido Real.

E de início, há motivos para preocupação. Partindo do pressuposto de que um produto bom é aquele que vende em qualquer lugar do mundo por uma relação custo-benefício favorável, vários segmentos industriais brasileiros estão ferrados ou a caminho disso.

O indicador que mostra isso é o desempenho exportador das manufaturas de nosso país, excluindo aí o agronegócio e produtores de minérios e insumos de metais.

Os números são preocupantes:

- nos últimos seis anos, dos 27 segmentos industriais exportadores - tirando fora a base a agropecuária e mineral - 12 registraram queda das vendas externas, 6 cresceram abaixo de 30% e apenas 9 evoluíram em patamares superiores a isso;

- no intervalo de tempo em questão, as exportações da indústria de transformação aumentaram magros 12,7% ( média de 2,4% ao ano). Entretanto, se retiramos desse cálculo apenas os itens referentes aeronaves, veículos e máquinas, o resultado passa a ser uma queda de 3% ao longo dos 6 anos;

- se tomarmos como base comparativa as exportações do ano passado em relação às vendas internacionais de 2008 (logo antes da crise mundial) verifica-se que apenas 8 segmentos conseguiram recuperar suas vendas aos patamares de 3 anos atrás;

- ainda mais: comparando o desempenho de 2011 frente ao ano imediatamente anterior, 14 segmentos industriais mostram queda exportadora, contra 13 em expansão.

Realmente, para um país que se propõe a ser uma potência industrial   no contexto do BRICS (especialmente Índia e China), esse desempenho de comércio exterior é bem insatisfatório.

Mas antes de culpar os empresários, deve-se ter em conta que grande parte da perda de competitividade foi devido à sobrevalorização do Real frente as outras moedas internacionais, além de um sistema de promoção comercial centralizado pelo governo que se mostrou claramente ineficaz, ao tentar considerar tudo que é produto e mercado como "farinha do mesmo saco".

 Sem querer malhar culpados, a questão fundamental desse quadro é a dúvida a respeito de a indústria brasileira - por conta das dificuldades exportadoras (e evidentemente dificuldades de agir no mercado interno pela vantagem competitiva dos importados mais baratos) - ter ficado ou não sucateada para fazer frente ao aumento do consumo interno que tende a se concretizar com a queda dos juros.

Se a resposta for positiva, o aumento das vendas do comércio não deixará de acontecer. Porém, o Brasil estará perdendo a oportunidade  de aproveitar da melhor forma a expansão do consumo interno para gerar riqueza.

Trocando em miúdos, depois de reduzir o custo do crédito, a principal urgência passa a ser a implementação de políticas voltadas à modernização e competitividade industrial brasileira. 

A recuperação cambial é só o começo. Redução de impostos, melhoria das linhas de crédito e subsídio à pesquisa e desenvolvimento de produtos são itens essenciais nessa caminhada.

Estados Unidos e Europa se ressentem duramente em ter terceirizado sua produção industrial para os chineses e indianos. 

Será que o Brasil, um país ainda pobre, pode ser dar ao luxo de arriscar a perder a capacidade de produzir boa parte dos produtos que consome, mesmo com tanta fartura de matéria prima.

Acredito que não. Mas essa não é uma opinião unanime.

Até Breve


Eduardo Starosta

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A Paquera Entre Obama e Dilma e a Nova Ordem Mundial


Dê uma olhada na foto abaixo, publicada originalmente na revista Piauí. Esqueça por alguns instantes que as figuras fotografadas são, respectivamente, a presidente brasileira e o chefe de estado norte-americano.


Tem-se, então, a nítida impressão de um homem comum olhando apetitosamente para uma mulher também comum, a qual, sentindo o assédio fica com aquela cara de "ai, eu não sou dessas, mas vamos ver no que vai dar...".

Voltando aos fatos, a imagem em questão foi flagrada no encontro oficial dos dois líderes por ocasião da missão oficial do governo brasileiro aos EUA.

Formalmente, de acordo com a avaliação da maioria da imprensa, o sucesso da viagem foi apenas modesto. Obama não se mostrou aparentemente muito sensível às críticas de nossa patroa sobre a política cambial norte-americana e muito menos a respeito da velha, frustrada, insistente e prejudicial ambição brasileira de ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Como destaque, então, ficou a trapalhada do ministro Mercadante em anunciar uma filial da universidade MIT aqui no Brasil, o que foi pronta e veementemente desmentido pela própria instituição de ensino.

Mas nesses encontros entre estadistas,  sempre há o clássico momento das conversas íntimas a portas fechadas. Sem tentar pensar nas possibilidades mais picantes de tal encontro (relembrando o olhar de cobiça do Obama), quando os presidentes ficam a sós, sem platéia para aplaudir ou vaiar, eles costumam ser mais sinceros a respeito de suas preocupações e - dentro das convergências - acertam os passos futuros do relacionamento entre os países nos bastidores.

Em outras palavras, são nessas conversas veladas que são tomadas as diretrizes das grandes decisões. E nesse momento, não posso deixar de perguntar: quais seriam as temáticas mais importantes que Dilma Rousseff e Barack Obama tratariam longe dos holofotes e das bases políticas mais intransigentes? 

Aposto que um dos temas mais inspiradores foi as decorrências práticas e estruturais da crise financeira global.

O fato é que dentro de um mundo dividido entre predadores do comércio internacional pela via cambial (Índia, China, Vietnã e outros) e regiões que estão se fechando em seu próprio protecionismo, como a União Européia   - apesar das aparências -  Brasil e EUA ficaram de fora da elite dos protagonistas das ações da economia global.

Para os dois países, isso é ruim; e pior ainda seria admitir a própria desimportância: os EUA perdendo poder econômico mundo afora; e o Brasil na rabeira do crescimento econômico do BRICS.  

Mas parece que, ao menos no decorrer dessa década, a tendência de organização geo-política do mundo tenderá a privilegiar a regionalização à globalização.

E nessa ótica, mesmo que o Brasil de Dilma não seja a donzela dos sonhos de Obama e que os EUA  de Obama esteja muito longe de ser o parceiro ideal para a Dilma e sua turma, as circunstâncias da realidade tornam a aproximação dos dois países um caminho quase inevitável.

Mas  lembrando sugestivamente a propaganda da PEPSI: "pode ser?",  afora o ranço dos brasileiros com os "imperialistas" norte-americanos e a ignorância dos yankees sobre os brazucas, os dois países têm mais convergências de estilo de vida e história do que parece existir, a despeito do gigantesco hiato de renda que os separam.

Vejamos alguns pontos coincidentes:

- Os EUA surgiram a partir de 13 colônias britânicas à beira do Atlântico e assumiram dimensões continentais papando terra dos índios e de regiões de posse inicial da Espanha; o Brasil surgiu a partir de 15 capitanias portuguesas à beira do Atlântico e assumiram dimensões continentais papando terra dos índios e de regiões de posse inicial da Espanha;

- Nova Iorque, especificamente Manhattan, surgiu a partir do reposicionamento de colonizadores holandeses.... expulsos de Pernambuco;

- Os dois países dividiram por décadas a liderança nada honrosa da escravidão. Mesmo com tal mácula histórica, tanto a sociedade brasileira como a norte-americana tornaram-se predominantemente tolerantes e integradoras de povos de diferentes etnias e crenças;

- São os dois maiores países do mundo com um único idioma de união nacional (português e inglês);

- Têm base agrícola e cultura de consumo com muitas similaridades;

Claro que uma maior integração entre Brasil e Estados Unidos não é isenta de dificuldades e desconfianças mútuas. Mas as alternativas são claramente menos digeríveis.

Pelo nosso lado, o Mercosul definitivamente não deu certo. Além de ser um mercado pequeno para os padrões brasileiros, a Argentina (principal parceira) é pródiga em chiliques e quebras de contrato; o Paraguai ainda vive do contrabando; e o Uruguai tem população pequena. 

Lá no NAFTA, os parceiros dos EUA também não são de grande destaque: o Canadá – mesmo rico – é um mercado sem grande densidade, enquanto o populoso México ainda se mostra um parceiro sem sintonia cultural e socialmente instável.

Então, nas Américas, parece claro que o melhor parceiro do Brasil é os EUA e vice-versa. E fora do nosso continente, as diferenças de hábitos, estilos de vida e base econômica tornariam mínimas qualquer possibilidade consistente de integração. 

Isso se aplica até à Europa, que prefere se fechar em si própria. Na África lidaríamos com sociedades predominantemente tribais; na Ásia com civilizações milenares com orientação filosófica e de estilo de vida completamente diferente das nossas.

Assim, voltamos à fotografia do início desse artigo. Obama olha para Dilma com evidente apetite. Mas a nossa Patroa se mostra uma moça pudica. Na foto não aparece, mas aposto que ela dava umas olhadelas de canto de olho no magricela.

Se a aproximação acontecer, não será do dia para a noite. Afinal, como comentei, os ranços e desconfianças são mútuas, mas perfeitamente superáveis. Entretanto, não se poderá dispensar alguns ajustes essenciais. A provável facilitação de entrada e saída de turistas nos dois países é apenas a primeira gota derretida de um imenso iceberg.

Pelo lado do Brasil, Dilma está dando conta do recado. As medidas encomendadas pela Patroa de forçar a redução dos juros ao consumidor; associar claramente a necessidade de equilíbrio cambial à remuneração dos títulos brasileiros e especulação internacional; iniciar a desoneração fiscal de alguns produtos é um sinal inicialmente convincente de que estamos nos preparando para adentrar em uma nova fase de maturidade econômica, de um país que abandona a estigmatização de pobre e assume o papel de classe média que quer encher a pança (veja os últimos indicadores de aumento de obesidade no Brasil).

Um parênteses: apesar de ter um governo de pouca eficácia executiva – em função de acordos e parcerias políticas demasiadamente pesadas – o desempenho individual de Dilma Rousseff tem se mostrado muito bom. Ela lembra o papel exercido por Felipe Gonzales, do PSOE espanhol. Foi um líder de esquerda que, paradoxalmente, consolidou seu país nos princípios da economia de mercado.

Já para os norte-americanos seria importante aprender a relaxar um pouco mais e ter o prazer de usufruir da vida como seres humanos com emoções. 

Por incrível que possa parecer, “a terra da liberdade” carrega uma pesada herança puritana, além de leis por demais fundamentalistas em favor do individualismo. Lá, um tocar de mãos involuntário pode gerar processo de indenização; olhar para mulher bonita também; e por aí afora.

Afora algumas encrencas naturalmente esperadas, a eventual caminhada no sentido de uma aproximação econômica entre Brasil e EUA geraria interessantes ganhos para os dois países... contanto que eles não tentem nos exportar queijo cheddar e a Bárbara Streisand!

Até Breve

Eduardo Starosta

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Poesia do Pacote de Páscoa da Patroa


A Patroa estava danada
Com a revolta da sua base de apoio
E parte de seus ministros
Que mostravam não serem de nada

Mas se no Congresso o acordo foi feio
Com cada parlamentar aliado ganhando dois milhões e meio
Na economia, a queda parecia não ter freio
Ainda mais com o Mantega insistindo em puxar o arreio

Mesmo assim a Dilma agiu com louvor
Ao contrário do seu antecessor
Resolveu enfrentar o risco da recessão
Com verdadeiro ardor

Abriu mão da arrecadação de R$ 60,4 bi
Realmente é dinheiro que não se vê por aí
Mas é menos da metade do que o governo papou a mais no ano passado
Frente a isso não dá para se ficar calado

******************************************** 

Quem anunciou o pacote foi o Nelson Barbosa
No entanto, nada de liberar a prosa
R$ 3 bilhões serão retirados em imposto da folha de pagamento
Mas o tributo vai passar a incidir sobre o faturamento

Também descobriram que a exportação é importante
Sem ela o país não vai adiante
Então desoneraram as compras de alguns que vendem para fora
Os excluídos estão desgostosos e querem ir embora

Para o mercado interno, além das geladeiras e fogões
Beneficiaram a internet, os carros e caminhões
Crédito mais barato e menos impostos para máquinas comprar
Será que a sempre retranqueira burocracia vai deixar isso andar?

Sincera torcida para que tudo dê certo
Mas a verdade é que na economia o Brasil tem de ser redescoberto
O tempo da inflação tirou de quase todos o senso
Mas isso já faz tanto tempo

 ************************************************

Hoje em dia falam que o real é forte
Mas com juros e câmbio alto
Quase nada do que se faz, tem na razão um bom suporte
Mas como fazer para o Brasil dar um verdadeiro salto?

Reduzir o valor do Real é fundamental
Baixar impostos é primordial
Queda dos juros é essencial
E o caminho para se obter tudo isso não é banal

Mas isso se fala há muitos carnavais
Não será apenas fantasia?
O fato é que o Brasil precisa produzir e consumir bem mais
Afinal, somos quase 200 milhões e apreciamos mordomia

Entretanto é difícil arrumar a economia
Com tanta gente porcaria
Atrapalhando quem realmente sabe das coisas com maestria
Há quem merecia estar entre a Mancha e a Fiel para tomar pancadaria

*****************************************************


O fato é que o Brasil está entrando em recessão
Europa e Japão também estão
Mas nosso país tem chance de escapar do pior
Para isso precisa mudar para melhor

A patroa é claro que sabe do assunto
Mas saber não é o mesmo de poder equacionar
O caso é que há corporações que em conjunto
Buscam todas as formas de o Brasil atrasar

Mais do que entender sua nação
O estadista precisa saber lidar
Com grupos de interesse que nem sempre dão atenção
Aos pontos básicos da prática de governar

Como denominador final
O pacote da patroa não resolve o essencial
Mas o voto é implacável e as eleições estão chegando
E a fila vai andando...




Até breve

Eduardo Starosta

sexta-feira, 30 de março de 2012

Homenagem aos Humoristas Mortos


Pobre Brasil!

Até há poucos dias não seria difícil ranquear os dois melhores humoristas vivos do país. Nas opções disponíveis, Chico Anysio e Millôr Fernandes seriam francos favoritos para liderarem a lista.

Porém, o Senhor Destino Irônico determinou que em menos de uma semana ficássemos órfãos desses dois primorosos retratistas da caricata e frívola vida política nacional.

Foi uma pena! Millor com seus textos e charges cáusticas e Chico por meio dos eternos personagens de Chico City sempre tiveram notável habilidade de mostrar a realidade dos hábitos, da moral e da política nacional com incansável senso de humor, ao ponto de muitas vezes nos flagrarmos rindo de nossa própria personalidade e jeito de ser.



Pessoalmente vejo os humoristas como os principais guardiões da coerência e seriedade da vida pública nacional. Afinal, basta um pequeno deslize de algum figurão da política para que um ou mais gozadores tomem a iniciativa de fazer o escracho da besteira feita, inibindo novas investidas no mesmo sentido.

 E parece que as celebridades da política brasileira têm a plena consciência do baque causado ao humor pela morte de Millôr e Chico, pois aproveitaram o período informal de luto para impunemente aprontar travessuras.

A nossa presidente Dilma Rousseff estava indo muito bem na missão de mandar na gente. Mesmo que não haja consenso em relação à qualidade de seu governo (afinal, como disse Nelson Rodrigues, todo o consenso é burro!), era uma tarefa demasiadamente árdua tentar encontrar algum ponto de incoerência evidente na gestão da Patroa.

Mas a pobrezinha não suportou a pressão da briga com a própria base parlamentar e liberou R$ 2,5 milhões em emendas para cada um dos deputados e senadores aliados.

Vou explicar isso direito: além de criar e votar leis, os deputados e senadores possuem acesso a criar emendas ao orçamento da União, determinando a execução de obras ou outros investimentos em sua base eleitoral. 

Isso é legítimo e até coerente com a ideia do voto distrital.

O problema é que essas emendas parlamentares não são cumpridas por si só. A presidência da república, através da Casa Civil, tem que liberar os recursos para os investimentos individualmente e é de praxe que a aprovação do empenho seja fruto de uma certa flexibilização das convicções dos parlamentares na direção do que o executivo quer.

Em outras palavras, quem não votar a favor das propostas do governo, não tem dinheiro para agradar seus eleitores.

Entretanto, por uma mistura de ânsia de economizar e certo desprezo presidencial pelos legisladores, a liberação dos recursos das emendas parlamentares ficou bem mais difícil de sair não só para os inimigos políticos, como para os próprios aliados. 

E isso – na verdade – foi o que provocou a revolta da base parlamentar.

Imagina só: às vésperas das eleições para prefeitos, os senadores e deputados estariam de carteira vazia para agradar seus eleitores, o que naturalmente abre rápido e extenso espaço político para as oposições.

Foi por conta disso que os “fiéis aliados” começaram a impor derrotas ao governo no Congresso. 

De acordo com fontes da Câmara dos Deputados, a revolta extrapolou o PMDB e PR, chegando até ao próprio PT, com alguns grupos do partido pedindo a cabeça de Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann.

Diante de tanta pressão, a Patroa resolveu fazer o que a turma queria: disponibilizou R$ 2,5 milhões para cada aliado, para que eles parassem de perturbar no Congresso Nacional.

Ou seja, o acordo de Dilma com os paramentares deixou por demais escrachado que a força das convicções políticas para votar leis é inversamente proporcional à generosidade monetária do governo.

O que Millor escreveria sobre isso?

Qual o personagem de Chico Anysio que melhor representaria a figura do parlamentar que muda o voto em função do dinheiro em jogo?

Outros membros do Jet set político nacional também aprontaram grandes trapalhadas enquanto assistíamos os dois humoristas se despedirem da vida:


       Deu zebra para então todo certinho Senador Demóstenes Torres, com suas relações, diríamos, “bicharescas”. 


     Mas o azarado da semana foi o treinador da seleção brasileira, Mano Menezes. O cara foi pego no bafômetro e se danou, apenas algumas horas antes de o STJ aliviar a barra dos bebuns no volante, que já não precisavam se submeter ao bafômetro e exames de sangue e agora estão imunes a testemunhas ou exames médicos. Depois do Mano, só perde a carteira o pinguço convicto, aquele que assume publicamente a sua 
condição de pudim de cachaça.  
   E o Serra querendo mais uma vez papar a prefeitura de São Paulo? Será que dessa vez ele vai entender que não é só o paulistano que elege o presidente do Brasil. 
   Incrível foi o Fidel que perguntou a um incrédulo Bento XVI, o que faz um Papa, enquanto botava em cana uns 70 fiéis.  
   O governo também se destacou falando que o desconto do IPI sobre geladeiras, fogões, móveis e abajures representaria uma renúncia de arrecadação de R$ 460 milhões. Mas será que se deixassem o IPI alto, esses produtos seriam vendidos da mesma forma? E os trabalhadores das indústrias ficariam empregados, pagando impostos, se o preço dos eletrodomésticos não caísse?

 Realmente, temos muita matéria prima para piadas... mas estão faltando bons piadistas. Dá vontade de dizer para Millôr e Chico Anísio um “voltem logo”.



Adeus grandes Mestres.



O Aniversário de Porto Alegre – Semana passada Porto Alegre estava completou 240 anos. Minha filha, há poucas semanas de completar 4 anos, chegou da escola querendo me passar a seguinte conversa pelo telefone:

- Pai, sabia que hoje é o aniversário de Porto Alegre?
- É mesmo?
- É, a gente tem que comprar presente para Porto Alegre.
- Qual o presente que vamos comprar?
- Uma Polly (bonequinha do tamanho de um dedo), pai!
- Legal, e como é que vamos entregar o presente para Porto Alegre?
- Porto Alegre não tem mão para segurar a Polly. Então eu vou ficar cuidando dela.
Dispensável dizer que a pequena aumentou sua coleção de bonecas.

Até breve.

Eduardo Starosta