quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Curtas Para Cutucar IX


Mudança na Diplomacia Brasileira – É bom ter amigos engraçados e originais. Porém, se eles se tornam caricatos demais, acabam gerando certos inconvenientes para os seus parceiros. É o caso do insuperável Hugo Cháves (falaremos dele em um próximo tópico) e do impertinente presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad. As boas relações que Lula quis manter com eles, apesar de alegrar sua torcida mais próxima, acabaram sendo bem comprometedoras para o contexto total da diplomacia brasileira.

Tem-se a impressão que a nossa atual Patroa não gosta muito de aturar parceiros, diríamos, caprichosos demais. O governo de Dilma realmente parece querer mudar a atitude da diplomacia ao determinar o voto favorável na ONU para se realizar investigações sobre desrespeitos aos direitos humanos na terra dos aiatolás.

O porta-voz iraniano já falou em saudades do Lula e o distanciamento diplomático entre os dois países, de fato já ocorreu, como podem confirmar os exportadores de frango que passaram a ter seus produtos vetados pelo Irã. 

Estar de mal com o Brasil é apenas mais um dos problemas da antiga Pérsia, já que em breve começará um forte bloqueio comercial por parte da União Européia, que deve parar de comprar petróleo.

Mas o que interessa é o indício de reposicionamento diplomático brasileiro rumo a uma posição menos polêmica (e portanto de menor destaque), mas mais equilibrada (sob o ponto de vista mental mesmo) e focada em resultados objetivos de longo prazo com os parceiros países mais endinheirados, que é o que interessa para a nossa ainda frágil economia.

O Fim Temporário das Sacolas Gratuitas – Ontem, em São Paulo, foi o primeiro dia em que Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart  pararam de distribuir as sacolas de plástico para embalar produtos gratuitamente. Tudo em nome da ecologia... tudo em nome da enganação ao consumidor.

Em primeiro lugar, bobo é quem acredita que as sacolinhas (que depois do supermercado usamos para lixo e outras coisas) sejam realmente gratuitas. Evidentemente, o “produto” tem seu preço embutido nas mercadorias que compramos. 

Agora aquelas sacolas de má qualidade estarão à venda nas citadas redes comerciais a R$ 0,19 por unidade. Um roubo! Sugiro aos paulistanos que façam suas compras em outras redes que não enganam o consumidor dessa forma e até que são competitivas em termos de preços, no final das contas.

Em segundo lugar,  essa história de sacolas plásticas que demoram mais de quatro séculos para se decompor na natureza, é papo superado em vários lugares do mundo. Basta adicionar à matéria prima, um polímero de decomposição programada para torná-las biodegradáveis a partir do tempo desejado da sua durabilidade, que pode variar de algumas semanas a alguns anos. Várias redes comerciais já fornecem aos seus consumidores gratuitamente esse tipo de sacolas.

E finalmente, em terceiro lugar, no Brasil e na maior parte do mundo, o uso das sacolas plásticas como meio de acondicionamento de lixo dificilmente será substituída em escala razoável por outras fontes. 

O melhor, então, é aceitar a realidade de que o ser humano gosta de conforto e desenvolver processos de coleta seletiva realmente inteligentes e práticos, amparados por usinas de compostagem (lixo orgânico) e reciclagem (lixo seco).

Por fim, aposto que até o final do ano (provavelmente antes) as sacolinhas – agora biodegradáveis - serão novamente distribuídas gratuitamente nas grandes redes supermercadistas paulistanas.

A Volta Por Cima de Daniel Dantas – Economista de rara inteligência, Daniel Dantas em um certo momento de sua vida, saturou da vida acadêmica e resolveu ganhar dinheiro. E soube fazer isso muito bem! Não fosse pela inimizade com gente como José Dirceu e outros da sua turma que o culparam pelo mensalão, ele hoje estaria provavelmente disputando com Eike Baptista a posição de principal bilionário brasileiro. 

Porém, no governo de Lula, o sujeito acabou sendo defenestrado pelo poder e perdeu a maioria de seus negócios como a Brasil Telecom (atual Oi), dentre outros.

Mas parece que a sorte de Dantas está começando a virar. Há poucos dias, a Justiça Federal desbloqueou 27 fazendas de gado dele por falta de fundamentos jurídicos. 
rinha ainda será longa e nada monótona...

Chávez, O Moribundo -  De acordo com o jornal ABC, da Espanha, o presidente da 
Venezuela tem ainda de nove a 12 meses de vida. Parece que o Chávez já está com metástase óssea, o que é um quadro clinico de difícil reversão. Se isso for mesmo verdade, a América Latina perderá um de seus líderes mais folclóricos e a Venezuela terá a oportunidade de reconstruir seu futuro. Mas preparem-se para a idolatria do futuro mártir do continente....

O Fim do Mundo em 2012 – Para a alegria dos profetas do apocalipse, uma previsão associada ao fim do mundo em 2012 se cumpriu: o sol está iniciando uma intensa tempestade energética que deve atingir a terra. De fato, essa “indisposição solar” se repete a cada ciclo de 11 anos e pode comprometer satélites de comunicação e redes elétricas. Se depender disso, o fim do mundo ainda vai ter que esperar mais um tempinho.

Campeão Mundial de Audiência – As emissoras de televisão do mundo todo estão em alerta. Depois de décadas curtindo uma tranqüila e desleixada hegemonia de audiência e formação de opinião, finalmente perderam seu posto  para os vídeos da internet. Somente o You Tube vem transmitindo cerca de 4 bilhões de mídias por dia para computadores, telefones, nos próprios televisores e especialmente nos emergentes tablets que nos EUA simplesmente tiveram seu número duplicado entre o final do ano passado e esse mês de janeiro (dado incrível).

Também prosperam na internet locadoras virtuais de filmes, seriados e até programas de auditório. Para sobreviver no longo prazo a essa nova e implacável competição, as emissoras e redes tradicionais terão de se esmerar em produções próprias, especialmente na dramaturgia e jornalismo.  Afinal, é para onde que olha o público que os anunciantes vão investir seus recursos.


Até Breve.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Retrocesso das Exportações Brasileiras


Muitos conhecidos acham que gasto tempo demais procurando cabelo em ovo. E quando encontro alguma evidência de que o senso comum está errado, esses críticos próximos raramente dão o braço a torcer: preferem argumentar que foi por pura sorte que minha linha de raciocínio acertou o alvo, ou que eles próprios já sabiam de tudo aquilo.

Mas sou teimoso e continuo na minha garimpagem dos cabelos em ovo. O mais importante não é o reconhecimento pessoal, mas sim o prazer de provar que o pensamento consensual nunca passa de uma grande burrice, como já dizia Nelson Rodrigues.

E agora vou atacar de novo. A vítima são as exportações brasileiras. 

De acordo com os dados oficiais, as vendas internacionais do Brasil vão de vento em popa, fechando, em 2011, com o recorde de US$ 256 bilhões, crescendo, então, 26,8% em relação ao ano anterior. Esse é um número - em princípio - bem expressivo e positivo, especialmente considerando a insistência da Europa e EUA de continuarem em crise.

Mas por trás desses montantes fantásticos, existe uma realidade em formação muito preocupante e que poderá significar a regressão do potencial econômico brasileiro em multiplicar sua riqueza de forma ágil no futuro.

O pressuposto é simples e bem conhecido: enriquece quem produz (e exporta!) produtos e serviços de maior complexidade e conseqüente maior valor agregado.

Nós, no Brasil, estávamos caminhando nesse sentido até o final da década de 90, quando 28% das exportações nacionais eram de produtos provenientes da indústria metal-mecânica (inclui automóveis, comunicações, informática, etc).

Entretanto, ao entrar no terceiro milênio “forças mágicas” fizeram com que o país rejuvenescesse em termos econômicos. Isso é bom? Que nada! É uma porcaria!

Simplesmente, a partir do século XXI a participação dos produtos industriais no valor exportado pelo Brasil caiu de forma acintosa.

A ilustração a seguir mostra isso. Em 2011, aquela importante participação do setor metal-mecânico caiu para modestos 15,3% , enquanto os produtos da base alimentar pularam de 23,5% para 31,10% e os da extração metálica evoluíram de 7,49% para respeitáveis 28%.


Em poucas palavras, isso quer dizer que o Brasil está retornando aos tempos coloniais onde daqui se tirava ouro, cana-de-açúcar, café e algodão. A diferença é que agora estamos falando de ferro, soja, frango e gado. 

Por favor, não se deve ter nada contra os empresários dos citados setores, que foram competentes em aproveitar as oportunidades do comércio internacional.

Veja bem, a não ser pelos minerais e alimentos, todos os demais segmentos exportadores vêm perdendo espaço na pauta de internacionalização brasileira. E isso não se refere somente a exportação. Na medida em que uma indústria perde competitividade internacional, isso forçosamente quer dizer que cedo ou tarde ela irá se dar mal no mercado interno também.

O problema sério mesmo é o fato de termos perdido muito rapidamente competitividade na indústria de transformação, que continua sendo o principal meio de se construir um país dinâmico, com empregabilidade e rico.

Como exemplo podemos citar os outrora poderosos calçadistas, que  perderam os mercados (inclusive parte do interno) para a China. Os carros, vinhos, roupas e equipamentos eletrônicos importados que invadem as lojas do Brasil também são o claro sinal de que o país está com problemas de preço e/ou qualidade nos seus produtos.

Não querendo puxar ou empurrar a brasa para qualquer lado, imagino que a culpa da situação seja do McDonalds.

Além de fazerem sanduiches bem sem graça (a batata frita é boa!), a rede simbolizada pelo palhaço assustador espalhou mundo afora um hambúrguer chamado de Big Mac que, apesar de ser um produto global tem, obrigatoriamente, seus ingredientes adquiridos no mercado interno de cada país.

Dessa forma, o preço final do produto (considerando uma margem de lucro igual em todas as lanchonetes da rede) praticado nos países acaba revelando onde a moeda tem maior ou menor poder de compra. O cálculo é feito há vários anos pela revista The Economist.

Por exemplo, nos EUA o Big Mac custa US$ 4,20, enquanto no Brasil a iguaria é vendida por US$ 5,68. Trocando em miúdos isto quer dizer que a moeda brasileira está sobrevalorizada em 32% em relação ao dólar (querendo ou não, a principal referência monetária do mundo) e para se equiparar ao dinheiro norte-americano deveria estar cotado a R$ 2,44, ao invés dos R$ 1,80 atuais.

Ainda mais: o Big Mac é vendido em 44 países e o Brasil o comercializa pelo 4º valor mais caro do mundo, sendo superado apenas pela Suíça, Noruega e Suécia.

Essa realidade, a não ser por algumas exceções, se aplica a maioria dos demais produtos brasileiros. Ou seja, a cotação do Real faz com que quase tudo produzido por aqui seja mais caro do que no resto do mundo, o que acaba prejudicando a maior parte dos exportadores. 

A solução é simplesmente fazer como China e Índia e desvalorizar a moeda brasileira, pelo menos a patamares mais justos. O problema é que isso entraria em conflito com a necessidade do governo de pegar dinheiro no exterior para financiar a dívida interna. Eles só conseguem trazer tanto investimento para cá porque temos a taxa de juros mais alta do mundo (isso que a SELIC caiu para 10,5% ao ano). 

Daí vem a velha ladainha: diminuir os juros é fundamental para reduzir a defasagem cambial e de quebra acaba beneficiando o consumo e investimento na produção. Mas por outro lado, obriga o Estado a gastar menos, o que é sempre um pesadelo para a classe política.

Mas será que é essa a conta que a sociedade quer fazer? Ajustando o real ao seu valor de equilíbrio (algo em torno de R$ 2,44 por dólar), além de os exportadores atuais (do agronegócio e extração mineral) ganharem mais dinheiro, isso faria com que outros setores – especialmente da indústria – se tornassem mais competitivos e começassem (ou voltassem) a exportar também. 

De quebra, teríamos um intenso efeito em de geração em emprego em toda a cadeia de fornecimento das fábricas, o que seria muito bom para o Brasil. Mesmo que os dados do IBGE mostrem que o desemprego está em baixa (na verdade, o desemprego mede apenas quem não tem trabalho e está procurando emprego), ao ativar a produção industrial interna, os salários  totais da economia tendem a subir. Parece ser um bom negócio, não?


Chuva Espacial -  Mais um satélite caiu na terra nos últimos anos e não acertou o cocuruto de ninguém. Dessa vez o artefato foi russo e a queda foi provocada por barbeiragem ou falha de rojão, já que a engenhoca deveria chegar à Marte. Nos próximos meses e anos mais lixo espacial cairá em nossa pobre atmosfera e vai chegar a hora em que alguns desses descartes irá se chocar contra alguma região povoada. Daí a questão começará a ser levada mais a sério.


Bolha Imobiliária – Muita gente que eu respeito continua dizendo que no Brasil não há e não houve bolha imobiliária, apesar dos preços dos imóveis terem subido absurdamente nos últimos anos. Seria, segundo eles, ajuste de mercado às novas condições de financiamento da casa própria, valorizando a construção civil de forma estrutural. Sempre achei isso besteira. Todo o preço (a não ser de raridades) que sobe demais, um dia tem que cair. E isso vai acontecer. De acordo com o Secovi de São Paulo, as vendas de imóveis de 2011 cairam 20,8% (janeiro a novembro). Recomendo, então, para quem quiser comprar casa nova, que espere mais um pouco. Daqui a pouco os imóveis deverão ficar mais baratos.

A César o que é de César - ... a Deus o que é de Deus. Essa é uma das mais famosas e sábias frases proferidas por Jesus Cristo. Ele, falando isso, deixava claro que religião não deve se misturar com os assuntos de Estado. Ou seja, a teocracia deve ser evitada. Concordo plenamente com isso e me indigna as intenções dos diversos cleros em aumentar seu poder político tentando impor práticas religiosas à sociedade pela via legal. Nesse ponto tirei o chapéu para o Lula ao afirmar - quando ele respondeu às investidas do Papa Bento XVI -  que o Estado brasileiro é laico. Mas em Ilhéus, na Bahia, a Câmara dos Vereadores simplesmente aprovou Lei que obriga aos alunos de todas as escolas municipais a rezarem o clássico Pai Nosso antes do início das aulas diárias. Sem tirar o mérito da citada oração (bem bonita, por sinal), tal prática, além de ser um atentado à liberdade individual é uma afronta à própria religião cristã. Entendendo ser uma oração a forma de conexão com o divino, rezar de forma obrigatória significa estar sendo “condenado” a tal comunhão. E admitindo a existência da consciência divina, será que Ele realmente quer ser adulado por um bando de puxa-sacos e medrosos? Sinceramente, não vejo sentido nisso.

Até Breve,

Eduardo Starosta

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Questão das Quimeras: O Lado Ético e o Humorístico


Veja os macaquinhos logo abaixo. Não são umas gracinhas? Não se deixe iludir! Na verdade eles são dois monstrinhos de meter medo. A simpática aparência dos pequenos animais oculta um terrível segredo.

Primeira Quimera Símia: para fazer isso com gente, falta pouco... ou nada!

Eles não são bichos como os outros!

Ao invés de terem nascidos de uma saudável (e para alguns, saudosa!) relação sexual, ou pelo menos de alguma inseminação artificial em modos tradicionais e conservadores, eles são a conseqüência de algo parecido com uma sopa, cuja receita é mais ou menos assim:

- Pegue seis embriões de diferentes macacos (no caso, da raça Rhesus) com apenas quatro células cada um;
- Misture tudo e reserve;
- Depois de um tempo a receita está pronta.

Você terá um macaquinho novo em folha proveniente de seis embriões diferentes.

Em dimensões humanas, isso seria mais ou menos como pegar células embrionárias do Sarney, Tiririca, Rita Lee, Francisco Cuoco, Maguila e do Rubens Barrichello, misturar tudo e se deliciar com o resultado na forma de uma nova vida. O DNA do bicho que saísse do citada receita seria completamente original.

Assuste-se: isso já não tem nada de ficção. Já era praticado com ratos, foi feito com símios pela Universidade de Ciência e Saúde de Oregon (EUA) e pode ser aplicado a humanos, apesar de os cientistas garantirem que isso não ocorrerá (é óbvio que vai!).

Mas veja só: esses citados cientistas chamaram seus macaquinhos de Quimeras.

Para quem não sabe essa é a denominação aplicada a seres mitológicos que seriam a mistura de pelo menos dois animais. Lembram do Minotauro (touro com homem) e da Hydra (mulher com serpente)?

Pois é, na prática isso em breve já poderá ser feito pelas mãos humanas.

De uma maneira resumida, os cientistas malucos do Oregon podem misturar o que bem quiserem com o que bem entenderem e ver que bicho vai dar. Há quem argumente que tal procedimento só pode ser feito com animais da mesma espécie. Mas fica fácil saber que isso não é bem assim: há alguns anos implantaram novos genes na soja para que ela fosse resistente a herbicidas, popularizando a transgenia.

Fazer isso mesmo com bichos e gente virou apenas uma questão de detalhe. E para quem pensa que estamos falando de uma tecnologia inacessível, podem ir tirando o cavalinho da chuva. Na história do mundo, todo o conhecimento mais complexo, com a devida sistematização, acaba ficando quase óbvio.

Veja os computadores. Até os anos 70, fazer um aparelho desses era coisa para grandes empresas ou cérebros privilegiados. Atualmente, qualquer adolescente tem plenas condições de montar de forma encadeada peças e fios para ter a “sua máquina”. Da mesma forma, a inseminação artificial – grande fronteira do conhecimento médico e ético de 3 ou 4 décadas atrás – virou ponto comercial comum nas cidades.

Então, não são desprezíveis as possibilidades de que, dentro de alguns anos, fazer quimeras se torne algo óbvio para qualquer laboratório ou centro de pesquisas.

E qual a utilidade de tudo isso? Seguramente muitas. Vão desde a realização de sonhos de vaidade humana, passam por delírios de adolescentes e malucos em geral, mas acabam convergindo para uma observação pouco explorada na filosofia e na ciência.

Vejamos, a humanidade se diferenciou em etnias, estaturas, eficiência muscular e outros aspectos ao longo de milênios de adaptação às condições ambientais nos vários locais povoáveis do planeta.

Porém, em paralelo a esse tipo de evolução, a tecnologia ofereceu múltiplos confortos e o ser humano está claramente deixando de viver em um habitat único, específico e se tornando ser global, ou pelo menos de mais de um único ambiente.

Ainda mais:  deve-se ter a consciência de que nos últimos dez ou vinte mil anos – período no qual a humanidade realmente firmou suas bases e prosperou – o clima do planeta foi excepcionalmente amigável para a nossa espécie. Mesmo sem os efeitos do aquecimento global (questionável por importantes grupos de cientistas), na maior parte da história geológica terráquea, o ambiente seria inóspito para humanos: ou gelo demais, ou calor de dar dó.

Daí vem a questão: será que no futuro os homens e mulheres terão o tempo necessário para se adaptar às mudanças biológicas para a sobrevivência no planeta, ou teremos que receber uma mãozinha acelerada do conhecimento científico para mudar mais rapidamente as próximas gerações?

Os fundamentalistas da religião – se pudessem - provavelmente me excomungariam apenas pela pergunta que lancei. Mas antes de imaginar o mau que o conhecimento aplicado pode causar, prefiro pensar em seus benefícios potenciais.

Somos bichos, seres da natureza, cujo diferencial evolutivo está centrado nas aptidões cerebrais e não físicas.

É verdade, somos um tanto quanto vaidosos, buscando beleza e longevidade com saúde e vitalidade. E será que isso está errado?

Ao manipularmos com genes, cromossomos, DNA, RNA e outras coisas do tipo, não estamos nada mais do que aplicando o conhecimento retirado da natureza em nós próprios. Seria isso pecado sob a luz (ou sombra!) de algum dogma teológico?

Talvez o grande medo em relação à “fórmula das quimeras” seja que ela caia em mãos erradas. Sim, é um risco que pessoas, diríamos diferenciadas como  Hugo Chávez, resolvessem produzir em laboratórios réplicas de si próprios com adaptações bizarras.

Mas seria correto simplesmente restringir o ser humano a sua própria biologia quando a sua mente já transcendeu os limites do próprio corpo? Se a resposta for positiva, então que proíbam a inseminação artificial e mais radicalmente os medicamentos e até o próprio sabonete, que foi, historicamente, o responsável pelo primeiro salto da longevidade.

O tema é realmente denso e controverso. Minha intenção aqui não foi buscar a solução da questão levantada, e sim incentivar um debate que para muitos pode estar próximo da loucura, mas que materialmente já faz parte da realidade do dia-a-dia.

Até Breve,

Eduardo Starosta

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Marasmo de Janeiro


Não há período do ano mais aborrecido do que o marasmo de janeiro. Simplesmente as coisas param de acontecer, como se o mundo tirasse uma folga e parasse de girar por algumas semanas.

No garimpo de assuntos, os maiores destaques da internet são a discussão a respeito de valer ou não valer a pena financiar o IPVA e o IPTU e o que o goleiro Marcos do Palmeiras vai fazer agora que se aposentou dos gramados: vai vender carros ou criar vacas?

Entretanto, há um aspecto interessante nesse período de férias. As situações que normalmente não tem destaque, ou que durante o resto do ano freqüentam a “Banda B” do interesse nacional, aproveitam a folga dos tradicionais oligopolizadores de atenção e tratam lutar para aparecer na mídia.

Por exemplo, em São Paulo – coração econômico, financeiro, culinário e da diversidade humana do Brasil – o assunto mais badalado nessa semana se restringiu a um lote de 232 casas entregues em Ribeirão Preto para ex-moradores de favela com algumas unidades padecendo de infiltrações, vazamento de esgoto e outros problemas técnicos de construção. 

Sabe-se que o governador Alckmin andou meio estressado com seus colaboradores mais próximos no final do ano e distribuiu pitos pelo secretariado. A situação em questão tem o poder de provocar mais um ou dois xingamentos do chefe do executivo paulista. 

Mas qualquer coisa vale contra o marasmo de janeiro...

Nessa mesma dinâmica, os principais líderes da América do Sul entraram em férias e com isso o câncer dos presidentes cedeu espaço na mídia para a vesícula do vice. Sim, o nosso líder folguista, Michel Temer, fez cirurgia para tirar suas pedras. 

E lembrando do segundo Chefe da Nação, onde estará sua belíssima esposa? A corte de Brasília está sentido a falta dela há alguns meses, o que pode estar ligado aos ciúmes de Temer. 

Nada a questionar, já que em questões de marido e mulher não se deve meter a colher. Mas se é admissível que um homem público preserve a esposa da mídia, é hediondo que ele não libere a cunhada para a torcida brasileira. 

A irmãzinha da Marcela Temer (Fernanda Tedeschi), dizem, puxou os dotes da beleza familiar e estava disposta a se mostrar para o povo na Playboy. Nada feito! Para os interessados, o portal da Globo nos premiou com uma amostra grátis da gata. Clique aqui para ver.

Pessoalmente penso que tal veto vice-presidencial é irritante,  caso para levante popular. 

Mas o marasmo de janeiro deixa praticamente tudo passar...

Falando em irritação, desde 2006 decidi preferencialmente viajar de carro ao invés de avião. Afinal de contas, desde o primeiro colapso aéreo iniciado em outubro daquele ano, pouco de consistente foi feito para melhorar a eficácia dos aeroportos brasileiros. 

Os mais animados imaginam que a situação vá ser solucionada em função das obras de preparação da Copa do Mundo em 2014. Mas quem está mesmo levando vantagem nos prognósticos são os apostadores na ineficácia.

Agora, em janeiro, a Infraero fechou suas contas de 2011 e calculou que cerca de R$ 1 bilhão foram perdidos do orçamento do ano passado em função dos atrasos de projetos para a reforma dos aeroportos. 

Quer viajar por esses dias? Prepare-se para ficar provavelmente horas e horas literalmente “morgando” em algum terminal de embarque sem ar-condicionado e poucas poltronas para sentar na longa espera pelo vôo. 

Dica: nessas horas, uma boa cadeira de praia e um livro fazem a diferença. 

Afinal, estamos no marasmo de janeiro...

Em termos da economia – tema denso e chato na opinião da maioria – os assuntos de destaque costumam ser ainda mais densos e chatos em janeiro. 

A balança comercial brasileira está prestes a ser fechada e mostra um dado importante. Pasmem: a participação das matérias-primas na exportação nacional subiu de 59% em 2010 para 62% em 2011.

O quer isso quer dizer? Simplesmente que o Brasil está cada vez vendendo mais grãos e metais para os outros países, enquanto os produtos da indústria vão ficando para trás. 

Nada contra vender matérias primas, mas a situação em questão significa que o nosso país está perdendo qualidade na exportação, o que acaba sendo um fator de empobrecimento urbano e inibição do emprego industrial.

Depois do carnaval, quando o Brasil realmente voltar a funcionar, isso vai provocar sérias encrencas. 

Por enquanto, estamos no marasmo de janeiro...

Mas apesar do marasmo, janeiro simboliza o marco de renovação, de começar coisas novas ou reiniciar com mais intensidade o que estava meio parado. E nesse sentido, o governo federal já está dizendo que quer aumentar seus investimentos em 2012. 

A encrenca é a seguinte: O Brasil está entrando o ano em clima de recessão e isso não é bom para o governo, especialmente em função das eleições municipais de outubro próximo. Para dar uma reavivada na economia existe uma receita clássica: aumentar investimentos. 

O galho é que se a Patroa mandar fazer isso, as metas de pagamentos de juros da dívida federal deverão ficar comprometidas.

Para não complicar: os buro e tecnocratas do governo que não estão de férias devem estar aproveitando a ausência dos chefes e ensaiando as primeiras brigas de cortes e reforços orçamentários a serem decididos pela Presidente no início de fevereiro. 

O barulho que será feito em janeiro sobre o assunto não será muito ouvido. 

A época é de marasmo...

Para esquentar um pouco as coisas, nada como dar uma olhada na China, onde o Ano Novo acontece em outra época. Por lá a grande novidade é o governo estar ordenando que as emissoras de TV eliminem 2/3 do tempo  utilizado em programas de entretenimento. O argumento para tal ordem é evitar maiores influências ocidentais. 

Pensando nisso e lembrando de Cuba e Coréia do Norte, que os esquerdistas de carteirinha do mundo me perdoem, mas que raio de socialismo é esse em que se trabalha mais, se ganha menos e se diverte muito menos? 

O capitalismo selvagem me parece muito mais divertido e menos monótono.  

Pena que essa provocação não encontrará muitos provocados dispostos a reagir. Afinal, estamos no marasmo de janeiro.

Agora a última! 

Para nós, os inconformados com o marasmo de janeiro, há uma solução. 

Vamos seguir o exemplo do google.

Imagina que a empresa de buscas na internet resolveu se auto-punir por práticas desleais com ela mesma.

Deu para entender? Provavelmente não! Mas a encrenca foi mais ou mesmo assim: o Chrome (é o Explorer da Google) resolver dar uma gorjeta legal para alguns blogueiros que citassem o navegador em suas mensagens. Com isso o Chrome melhorou sua posição nos rankings de procura do google, o que não pode acontecer segundo as diretrizes da empresa.

Moral da história, se você não tem com quem brigar, faça como a Google e brigue com você mesmo

Se ainda está difícil de entender, melhor é tirar uma soneca, pois estamos no marasmo de janeiro.

Até breve (em períodos menos sonolentos)!

Eduardo Starosta