sexta-feira, 30 de março de 2012

Homenagem aos Humoristas Mortos


Pobre Brasil!

Até há poucos dias não seria difícil ranquear os dois melhores humoristas vivos do país. Nas opções disponíveis, Chico Anysio e Millôr Fernandes seriam francos favoritos para liderarem a lista.

Porém, o Senhor Destino Irônico determinou que em menos de uma semana ficássemos órfãos desses dois primorosos retratistas da caricata e frívola vida política nacional.

Foi uma pena! Millor com seus textos e charges cáusticas e Chico por meio dos eternos personagens de Chico City sempre tiveram notável habilidade de mostrar a realidade dos hábitos, da moral e da política nacional com incansável senso de humor, ao ponto de muitas vezes nos flagrarmos rindo de nossa própria personalidade e jeito de ser.



Pessoalmente vejo os humoristas como os principais guardiões da coerência e seriedade da vida pública nacional. Afinal, basta um pequeno deslize de algum figurão da política para que um ou mais gozadores tomem a iniciativa de fazer o escracho da besteira feita, inibindo novas investidas no mesmo sentido.

 E parece que as celebridades da política brasileira têm a plena consciência do baque causado ao humor pela morte de Millôr e Chico, pois aproveitaram o período informal de luto para impunemente aprontar travessuras.

A nossa presidente Dilma Rousseff estava indo muito bem na missão de mandar na gente. Mesmo que não haja consenso em relação à qualidade de seu governo (afinal, como disse Nelson Rodrigues, todo o consenso é burro!), era uma tarefa demasiadamente árdua tentar encontrar algum ponto de incoerência evidente na gestão da Patroa.

Mas a pobrezinha não suportou a pressão da briga com a própria base parlamentar e liberou R$ 2,5 milhões em emendas para cada um dos deputados e senadores aliados.

Vou explicar isso direito: além de criar e votar leis, os deputados e senadores possuem acesso a criar emendas ao orçamento da União, determinando a execução de obras ou outros investimentos em sua base eleitoral. 

Isso é legítimo e até coerente com a ideia do voto distrital.

O problema é que essas emendas parlamentares não são cumpridas por si só. A presidência da república, através da Casa Civil, tem que liberar os recursos para os investimentos individualmente e é de praxe que a aprovação do empenho seja fruto de uma certa flexibilização das convicções dos parlamentares na direção do que o executivo quer.

Em outras palavras, quem não votar a favor das propostas do governo, não tem dinheiro para agradar seus eleitores.

Entretanto, por uma mistura de ânsia de economizar e certo desprezo presidencial pelos legisladores, a liberação dos recursos das emendas parlamentares ficou bem mais difícil de sair não só para os inimigos políticos, como para os próprios aliados. 

E isso – na verdade – foi o que provocou a revolta da base parlamentar.

Imagina só: às vésperas das eleições para prefeitos, os senadores e deputados estariam de carteira vazia para agradar seus eleitores, o que naturalmente abre rápido e extenso espaço político para as oposições.

Foi por conta disso que os “fiéis aliados” começaram a impor derrotas ao governo no Congresso. 

De acordo com fontes da Câmara dos Deputados, a revolta extrapolou o PMDB e PR, chegando até ao próprio PT, com alguns grupos do partido pedindo a cabeça de Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann.

Diante de tanta pressão, a Patroa resolveu fazer o que a turma queria: disponibilizou R$ 2,5 milhões para cada aliado, para que eles parassem de perturbar no Congresso Nacional.

Ou seja, o acordo de Dilma com os paramentares deixou por demais escrachado que a força das convicções políticas para votar leis é inversamente proporcional à generosidade monetária do governo.

O que Millor escreveria sobre isso?

Qual o personagem de Chico Anysio que melhor representaria a figura do parlamentar que muda o voto em função do dinheiro em jogo?

Outros membros do Jet set político nacional também aprontaram grandes trapalhadas enquanto assistíamos os dois humoristas se despedirem da vida:


       Deu zebra para então todo certinho Senador Demóstenes Torres, com suas relações, diríamos, “bicharescas”. 


     Mas o azarado da semana foi o treinador da seleção brasileira, Mano Menezes. O cara foi pego no bafômetro e se danou, apenas algumas horas antes de o STJ aliviar a barra dos bebuns no volante, que já não precisavam se submeter ao bafômetro e exames de sangue e agora estão imunes a testemunhas ou exames médicos. Depois do Mano, só perde a carteira o pinguço convicto, aquele que assume publicamente a sua 
condição de pudim de cachaça.  
   E o Serra querendo mais uma vez papar a prefeitura de São Paulo? Será que dessa vez ele vai entender que não é só o paulistano que elege o presidente do Brasil. 
   Incrível foi o Fidel que perguntou a um incrédulo Bento XVI, o que faz um Papa, enquanto botava em cana uns 70 fiéis.  
   O governo também se destacou falando que o desconto do IPI sobre geladeiras, fogões, móveis e abajures representaria uma renúncia de arrecadação de R$ 460 milhões. Mas será que se deixassem o IPI alto, esses produtos seriam vendidos da mesma forma? E os trabalhadores das indústrias ficariam empregados, pagando impostos, se o preço dos eletrodomésticos não caísse?

 Realmente, temos muita matéria prima para piadas... mas estão faltando bons piadistas. Dá vontade de dizer para Millôr e Chico Anísio um “voltem logo”.



Adeus grandes Mestres.



O Aniversário de Porto Alegre – Semana passada Porto Alegre estava completou 240 anos. Minha filha, há poucas semanas de completar 4 anos, chegou da escola querendo me passar a seguinte conversa pelo telefone:

- Pai, sabia que hoje é o aniversário de Porto Alegre?
- É mesmo?
- É, a gente tem que comprar presente para Porto Alegre.
- Qual o presente que vamos comprar?
- Uma Polly (bonequinha do tamanho de um dedo), pai!
- Legal, e como é que vamos entregar o presente para Porto Alegre?
- Porto Alegre não tem mão para segurar a Polly. Então eu vou ficar cuidando dela.
Dispensável dizer que a pequena aumentou sua coleção de bonecas.

Até breve.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 22 de março de 2012

Alerta: Dilma Começa a Perder o Controle do Poder



Pessoalmente considero Dilma Rousseff uma pessoa de qualidades muito melhores do que seu antecessor na presidência da república.

Entretanto, é inegável que Lula tornou-se um mestre quase insuperável na malandragem e jogo de cintura da política brasileira. E é exatamente isso que está faltando no momento para a nossa Patroa.

O contexto em questão é mais ou menos o seguinte: o governo atual foi construído a partir de uma divisão de poder baseado no rateio de cargos públicos (incluindo estatais) de primeiro, segundo e terceiro escalão. 

Sem maiores delongas, nessa questão os projetos de governo pouco importam. O que está em jogo é o acesso ao poder, aos cargos e aos recursos que isso proporciona.

E olha que não estamos falando de simples aproveitadores. Se puxarmos pela memória, constataremos que um bom percentual dos que freqüentam a elite do poder gozam desse status desde os tempos da ditadura militar (o principal “inimigo” a ser combatido quando da fundação do PT). 

E ao velho fisiologismo que acabou não sendo derrubado, se juntou o novo fisiologismo.

A coisa funcionou mais ou menos assim: imagina que o teu pai tenha comprado uma grande loja. Só que como obrigação contratual ele tenha sido obrigado a manter empregados os parentes do dono anterior do estabelecimento, os quais se especializaram em dar um jeito de malandramente se apropriar dos recursos gerados pela empresa. No início você reclama, protesta, mas não adianta nada. Os “colegas” devem ser tolerados. É natural nesses casos que – sem sucesso em moralizar – os membros da nova família no poder da empresa queiram ir à desforra e pegar seu próprio quinhão do butim.

Foi essa a herança recebida pela Presidente Dilma Rousseff: duas grandes corporações fortíssimas (e outras mais fraquinhas)  parasitando o poder, voltadas quase que exclusivamente a sua própria sustentação de status, sem que isso seja sinônimo de priorizar políticas publicas efetivas... muito antes pelo contrário!

E com tanta sanguessuga na volta, realmente fica difícil tocar um governo de maneira competente. O custo financeiro é muito alto. Além disso, as dificuldades organizacionais tornam-se praticamente intransponível para se fazer um trabalho sério de gestão dos recursos públicos.

Nessa ótica, acredito que a Patroa até gostava das denúncias da Veja e Folha de São Paulo, uma vez que assim ela tinha argumento para decapitar alguns pequenos tumores de fisiologia. Mas só isso não é o suficiente para arejar e viabilizar a administração federal.

Nos últimos tempos, Dilma aparentemente resolveu mostrar desprezo e complicar a vida dos fisiologistas mais distantes. E fez isso sem medir adequadamente as conseqüências práticas de seu ato.

O PR saiu da base do governo,  disposto a fazer oposição “até voltar a ser respeitado pela presidente”, segundo o senador Blairo Maggi. O PMDB também está estrilando e boicotando os projetos do executivo do Congresso.

Em outras palavras, até que os “aliados” não tenham seu prestígio e “direitos políticos” resgatados, o governo deixará de ter a maioria no Congresso. E sem maioria no Legislativo, simplesmente o Brasil de hoje fica ingovernável.

Por conta disso, um assunto de pouco interesse para a sociedade brasileira, como a permissão extraordinária para se beber nos estádios no âmbito da Lei da Copa (deveria ser Lei da Manguaça), acabou sendo a oportunidade para os governistas descontentes mostrarem o quanto eles podem fazer falta para a governabilidade do país. Nessa dança também entra a convocação de dois ministros para depor no Congresso: Miriam Belchior (Planejamento) para se explicar sobre concursos públicos; e Guido Mantega (Fazenda) que deverá prestar contas a respeito de problemas identificados na Casa da Moeda e Banco do Brasil.

Dilma não parece ter muita saída. As lideranças de seu partido, o PT, teriam ataques neurastêmicos  só com a idéia de recompor a base de apoio, atraindo para o governo o PPS e PSDB, com os quais até tem maior identidade programática. Mas as torcidas são incompatíveis!

Então, até as próximas eleições, a patroa vai ter que engolir em seco os sapos que a fazem engasgar. Mas e se eles não quiserem mais voltar? Aí ela vai estar realmente em um mato sem cachorro.

Veja só: as eleições municipais estão se aproximando ao mesmo passo em que o Brasil vai entrando em uma desaceleração econômica que pode nos levar à recessão. E com as notas vermelhas no boletim da economia, é mais fácil ganhar votos falando mau do governo do que bem.

A Patroa já mostra sinais claros de início de desespero. Chamou 27 grandes empresários do país para pedir que eles altruisticamente invistam com o intuito de conter a recessão. Isso demonstra fraqueza da presidente e um pouco de ingenuidade.

Por mais amigos que sejam, os 27 maiores empresários do Brasil são os 27 maiores empresários do Brasil por investirem em negócios rentáveis. E numa perspectiva recessiva, tais nababos não atenderiam quaisquer pedidos de aplicar dinheiro bom e um ambiente econômico ruim. Se o BNDES apoiar generosamente, talvez tal disposição seja flexibilizada... Mas não parece que Dilma esteja contando muito com isso, esquecendo a regra mais sagrada da economia: NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS!

O tempo da Presidente para recuperar o controle das rédeas do poder é curto. As próximas semanas serão decisivas e, pelo menos por enquanto, o cenário político é de grandes incertezas, com evidentes riscos à própria governabilidade.

Até Breve

Eduardo Starosta  

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Tatu da Ilha da Fantasia


O ministro dos esportes, Aldo Rebelo queria o Saci, mas o moleque com uma só perna não tinha chances de ser bom de bola.

No ministério do turismo também achavam simpática a idéia da arara; mas além disso fazer propaganda do desenho animado Rio (por que não?), lembrava o ícone tucano dos arqui-inimigos do PSDB.

A onça pintada era uma boa candidata, mas quem a FIFA fez papar o precioso título de mascote da Copa 2014 foi o tímido e singelo tatu-bola.

Depois, em nota oficial, o próprio Comitê Organizador da Copa desmentiu a notícia, afirmando evasivamente que a imagem do mascote ainda está em desenvolvimento.

Mas não seria despropositada tal escolha (mesmo que temporária) por parte da FIFA.


A qual dos dois tatus a FIFA se referiu para ser a mascote da Copa 2014 no Brasil? 
 
A peculiaridade do bichinho brasileiro é que ao sinal de perigo (ou pressão), sua defesa é simplesmente se enrolar todo.

Será que a FIFA fez tamanha maldade com o Brasil a optar por essa escolha? Vamos aos fatos:

- 5 dos 12 estádios previstos estão com atrasos no cronograma de obras;

- 17 das 43 obras de mobilidade urbana previstas para as cidades-sede também estão em atraso;

- De acordo com o site da Copa 2014 (http://www.portal2014.org.br/), os aeroportos estão todos com o agendamento suas obras em dia, mas estudo do IPEA feito ano passado, desmente isso veementemente.

 O evento esportivo mais caro do mundo, orçado em R$ 33 bilhões, está, na verdade, muito longe de ter seu planejamento considerado minimamente razoável.

O próprio incidente envolvendo o secretario geral da FIFA Jérôme Valcke que há alguns dias manifestou a vontade de dar um chute no traseiro do Brasil mostra a insatisfação da entidade internacional com seus parceiros brasileiros. 

A mídia nacional entendeu a expressão como uma espécie de palmadinha para chamar a atenção. Pessoalmente, compreendi as palavras como uma proposta de realmente dar um pé na bunda do Brasil e fazer a Copa 2014 em outro lugar.

E agora, com a demissão de Ricardo Teixeira da CBF, as desconfianças sobre a capacidade organizacional do futebol e governo brasileiro tornaram-se bem mais fortes.

Na época da candidatura de nosso país a sede do certame, eu considerava tal ato uma daquelas bobeiras de marketing político. Uma copa é demasiadamente cara e normalmente deficitária. Será que o Brasil tinha moral e condições para jogar dinheiro pela janela? Penso que não!

Entretanto, a partir do momento em que o país foi selecionado para o evento, o maior risco de prejuízo seria desistir ou promover um espetáculo de incompetência para a platéia internacional (que aparentemente está acontecendo), reforçando por mais algumas décadas o desagradável clichê de que o Brasil não é uma nação séria.

A gabolice de Lula nos fez entrar nessa encrenca. Para sair dela com dignidade, Dilma terá de ser bem mais dura e exigente do que o costume com os executivos que estão tocando o projeto.

Sugiro até que a Patroa abandone sua aversão à turma do futebol e retire a organização da Copa 2014 do Ministério dos Esportes, passando-o ao status de projeto especial controlado pela própria presidência da república.

O Brasil tem pouco mais de dois anos para justificar o tatu (se ele for confirmado) como um simpático mascote de um povo emergente, ou se resignar em aceitar as gozações globais, associando nosso país ao velho Tatoo, do seriado Ilha da Fantasia.

O Brasil no Buraco – Falando em tatu, os últimos indicadores mostram que a economia brasileira está realmente entrando em um buraco de razoáveis proporções. De acordo com o SERASA a inadimplência em fevereiro subiu 18,3% em fevereiro último diante do mesmo mês de 2011. E o dado mais preocupante fica para o financiamento de veículos. Nesse caso, o atraso acima de 90 dias nas prestações atingiu seu maior nível dos últimos 30 meses (nos remetendo à crise financeiro global).

Finalmente, os dados estaduais da produção industrial de janeiro confirmam retração em 7 das 13 unidades da federação pesquisadas pelo IBGE. O único “grande” a não cair, foi o Rio Grande do Sul, beneficiado por desempenho atípico do segmento de máquinas e equipamento.

Em resumo, os dias por vir mostram serem difíceis. Até o eterno otimista, Guido Mantega, já fala em dificuldades para 2012. Junto com isso, as recentes fragilidades políticas externadas ao nível do governo federal mostram que as eleições municipais estão muito longe de terem uma perspectiva de decisão antecipada, como parecia evidente no início do ano.

O arranca-rabo será divertido!

Até Breve

Eduardo Starosta

sexta-feira, 9 de março de 2012

Começou a Temporada de Bagunçar a Casa


Mesmo a pessoa mais otimista do país não pode negar que o Brasil começou o ano (em março, depois do carnaval, é claro!) com o pé esquerdo.

O resultado do PIB nacional crescendo apenas 2,75% diante da promessa da equipe econômica nacional de pelo menos 4,5% acabou se revelando um grande fiasco.

E os dados de janeiro mostram que a situação tende ainda ficar mais grave: a produção  industrial do país caiu 3,44% frente ao mesmo período de 2011. Aquele foi o sétimo mês consecutivo de queda do indicador e o pior resultado desde setembro de 2009, quando estávamos ainda no epicentro dos efeitos da crise financeira mundial.

Outro dado de arrepiar os cabelos é o recorde dos útimos três anos da emissão de cheques sem fundos no primeiro bimestre desse ano, que chegou a 1,97% do total emitido, lembrando que esse tipo de moeda de troca está em crescente obsolescência.

Em resumo, a recessão industrial, em conjunto com a estafa da capacidade de crédito da população e somada com a frustração da safra na região sul do país deixa claro que o momento atual e os próximos meses serão bem pouco agradáveis quando o assunto for economia.

Não é à toa que o Banco Central se apressou em reduzir 0,75 ponto percentual da  SELIC. Mas, além disso demorar para repercutir no mercado interno, só a pressão dos juros básicos não terá força para fazer os custos de financiamento do cheque especial e cartão de crédito recuar a limites razoáveis, favorecendo assim consumo.

É verdade que informalmente o setor financeiro vem sendo até benevolente na redução de juros para quem está pessoalmente falido, de dentro da velha filosofia de que é melhor recuperar pelo menos algum dinheiro, do que ficar de mãos vazias. Entretanto, para os endividados até o pescoço - que relutam em assumir a própria quebra - os dias estão sendo bem difíceis para honrar os compromissos e gerar consumo novo.

Já pelo lado político, está latente a impressão de que o governo de Dilma deixou de ter uma base de apoio inabalável, pelo abalo causado na recusa do senado em reconduzir ao cargo o presidente da ANTT, Bernardo Figueiredo, indicado pessoalmente pela própria Patroa.

É claro que para os senadores pouco ou nada importa o cargo, propriamente dito. O coitado do Bernardo simplesmente foi usado para mostrar a insatisfação da base aliada com o tratamento recebido pelo próprio governo.

Esse comportamento pode estar sendo ocasionado por dois fatores, sendo que nenhum deles pode ser considerado muito digno à luz do que seria saudável para o trato da política nacional:
·    
      No primeiro caso, os já citados resultados ruins da economia brasileira - caso se propaguem nos próximos meses - tornarão oportuno o desembarque de pelo menos alguns partidos aliados do governo, para se posicionarem com mais força nas oportunidades geradas pelas eleições municipais.

·    O segundo fator refere-se simplesmente à criação de um impasse para buscar a força na negociação de algo que a presidente já mostrou detestar: a barganha e concessão de cargos públicos para os "amigos" da rainha.

Encurtando as palavras, é lamentável que a representação parlamentar brasileira tenha deixado de lado a verdadeira discussão do mérito das políticas públicas e se dedicado quase que exclusivamente à “locupletagem”  por meio de empregos e verbas públicas. Essa é uma postura histórica das últimas legislaturas, mas que foi especialmente solidificada na administração do ex-presidente Lula.

Moralismos a parte, o fato é que os dados políticos e econômicos colhidos nessas primeiras semanas de ano ativo, mostram um horizonte bastante turbulento para os próximos meses.

Se as lideranças petistas conseguirem pelo menos domar a perspectiva recessiva (especialmente nas cidades industriais e agrícolas), eles aquietarão os seus aliados nada fiéis e terão condições de se fortalecerem nas eleições municipais.

Caso contrário, o arranca-rabo será bem feio. 

Até Breve.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 1 de março de 2012

Nós Robôs e Avatares


Já aviso de antemão: quem não tem simpatia por explorar os limites da sanidade mental nem deve ler esse artigo.

Mas se você mordeu a isca e prosseguiu na leitura, então sugiro que faça o seguinte:

Coloque o dedo indicador da mão direita dentro do nariz e o dedo mínimo da esquerda no ouvido; levante-se calmamente e vá de encontro a alguém por quem você não nutra lá grande apreço e administre-lhe uma farta cusparada orelha dentro.

Prepare-se para evitar o revide, um processo trabalhista ou demissão por justa causa. Você tem ao seu lado um álibi poderoso: segundo as mais recentes conclusões dos neurocientistas, o cérebro humano toma as decisões de nossas ações antes de que a situação seja avaliada pela consciência.

Trocando em miúdos, isso quer dizer que a citada categoria de médicos e pesquisadores simplesmente está admitindo que não temos qualquer autonomia para sermos os protagonistas da nossa própria vida. O determinismo biológico seria a verdade absoluta; o livre arbítrio, apenas uma ilusão; e a consciência serviria somente para dar uma conotação aparentemente lógica aos atos previamente programados do inconsciente de cada um.

A experiência do neurologista Stefan Bode para chegar a tais conclusões foi mais ou menos a seguinte: 12 voluntários submetidos a ressonância magnética no cérebro tinham a tarefa de apertar um botão com mão direita, ou esquerda no momento em que isso fosse ordenado. De acordo com o mapeamento elétrico das cacholas das cobaias, a região cerebral responsável pela coordenação das atividades motoras era ativada cerca de 7 segundos antes da ação consciente de apertar o citado botão. Dessa forma, decifrando o significado da corrente elétrica,  os cientistas conseguiam prever a ação futura dos seus cobaias.

Em outro experimento foi usado um elétrodo para estimular determinada região do cérebro para fazer com que os pobres coitados ficassem com vontade de levantar a mão. Em outras palavras, segundo os cientistas, isso quer dizer que é o cortêx que ordena a pessoa ficar com vontade de executar o citado movimento, e não o contrário.

De posse desses exemplos, os "especialistas no assunto"  extrapolaram as conclusões das observações em um ambiente controlado para dizer que o ser humano não têm livre arbítrio; todas suas ações são programadas pelo cérebro antes de serem mentalizadas pela consciência.

Como decorrência lógica dessa afirmativa, então, não tem problema algum em dar aquela cusparada que sugerimos no início deste texto em algum infeliz; assim como deixa de ser moralmente razoável condenar bandidos, assassinos e outros componentes da turma dos predadores sociais.

Os cientistas chegam a admitir que gente como o serial killer norueguês, Anders Behring Breivik (76 mortes), não teria de ser punido, já que ele apenas obedeceu a uma ordem biológica. Segundo tais malucos, as convenções sociais só devem existir para que tudo não vire uma desordem declarada; para que tenhamos uma sensação de segurança que afinal não existe, uma vez que os atos de cada um de nós seria irracional. Até o meu escrevendo esse texto; e o seu, lendo o artigo! Einstein, Shakespeare, Newton, Sidarta Gautama, Sócrates e os próprios neuro-cientistas seriam, na verdade, tão espertos quanto Tiririca ou um sujeito chamado Luis Carlos da Fontoura.

E o que seria o ser humano, então? Será que a nossa consciência é uma mera ilusão de algo que não existe, como foi filmado em Matrix? Ou então seríamos corpos biológicos gerenciados por consciências externas, como em Avatar? Finalmente, nessa abordagem, poderíamos ser sofisticados robôs programados para um destino vinculado ao capricho de algo ou alguém que não conhecemos?

Acho que está na hora de liquidar com as gracinhas desses neurocientista  metidos a bestas antes que sejam levados demasiadamente a sério.

 Primeiro vamos rever as experiências que dariam suporte à “comprovação da inexistência de livre-arbítrio”.

No primeiro caso, as máquinas de ressonância identificavam sete segundos antes qual seria a mão da cobaia humana que iria apertar o botão, como se fosse possível prever perfeitamente o futuro.

Vejamos: cada um dos analisados tinha a plena consciência de que dentro de instantes deveria apertar o bendito botão com uma das mãos. Diante de tal expectativa, é mais do que óbvio que eles fizessem um planejamento preliminar da ação, antes da ordem. Isso é comparável, por exemplo, a ser meter em alguma encrenca e ter a consciência da eminência de levar uma surra. Evidentemente, antes da sova se concretizar é natural tomar a decisão da ação futura e preparar o corpo para isso: enfrentar o agressor; fechar o corpo para se defender; ou dar no pé. Em resumo, a não ser que a citada experiência tenha detalhes não revelados, ela significa a mesma coisa que nada, em termos de comprovação.

Já no segundo caso (o elétrodo em parte do cérebro gerando vontade de levantar a mão) é facilmente descartado com uma antiga brincadeira de criança e médicos: sentado numa cadeira, coloque a sua perna esquerda sobre a direita (ou ao contrário) e dê uma leve pancada no joelho. Como resultado óbvio, a perna irá se mexer em função do que todos conhecemos como reflexo. Da mesma forma, dar um choque em alguma parte especial da cabeça pode muito bem gerar a necessidade de levantar a mão, dar a sensação de fome, ou qualquer outra coisa.

Mas isso não tem nada a ver com determinismo; é apenas o efeito físico reflexivo natural do corpo.

Uma outra faceta do que dizem os neurocientistas pode nos levar à própria antítese da ciência, ou seja, a perspectiva da existência de uma inteligência superior invisível que teria o papel de direcionar os rumos da vida, pelo menos em termos de linha de tendência.

Chegamos, assim, a um conceito metafísico em que além de Deus, há espaço para justificar a eficácia de cartomantes, astrologia, búzios e outros oráculos, na medida em que eles indicam desdobramentos de acontecimentos do futuro. A vantagem desses “bruxos do mundo moderno” é que eles têm mais senso crítico do que os cientistas em foco e admitem a possibilidade de mudar o destino.

Se sob o ponto de vista tecnológico e de mapeamento, a neurologia evoluiu fantasticamente nos últimos anos, a compreensão dos cientistas do que é o cérebro, o pensamento e outras coisas, ainda continua na idade das trevas.

O melhor, quando nos defrontamos com tais casos, é lembrar que todo o conhecimento filosófico da modernidade (até o desses cientistas amalucados) teve como ponto de partida algo simples e fácil de falar e compreender: falo do singelo “penso, logo existo” de Descartes.

E cá entre nós: duvidar da existência do próprio pensamento é o cúmulo da falta do que fazer.

 

Até Breve.

 

Eduardo Starosta