quinta-feira, 30 de abril de 2015

Se Eu Fosse Você

 O título desse artigo copia o nome de filme brasileiro que fez muito sucesso há alguns anos. A trama foi montada ao redor de um casal com problemas de relacionamentos no dia a dia, que por uma conjunção de forças malucas acabam trocando de corpo: o espírito do marido passa a residir no corpo da esposa e vice-versa.

A ideia da comédia é bem divertida. E se imaginássemos que a tal mágica funciona e desejássemos estar no corpo da pessoa mais poderosa do Brasil? Calma, você não se transformará na presidente Dilma Rousseff. Mas assuste-se, você estará dentro do ministro da fazenda, Joaquim Levy.

E já que estamos encarnados no corpinho desse engenheiro e economista carioca, talvez seja interessante ter consciência de como ele chegou ao topo do ranking dos poderosos. Vamos voltar um pouco no tempo...

Lá em 2013, o então ministro da fazenda Guido Mantega fez uma previsão bem legal: o PIB de 2014 iria subir e a arrecadação federal aumentaria 3%. Em ano eleitoral, é óbvio que os gastadores de plantão logo empenharam o dinheiro que deveria entrar adicionalmente.

O problema é que a profecia de Mantega estava completamente furada e a arrecadação simplesmente ficou estagnada. Mas cortar despesa de governo, especialmente às vésperas de uma eleição, não é nada fácil.

Como resultado da trapalhada, o orçamento da União explodiu e o Brasil entrou na atual crise. Daí o Levy, que já tinha servido os governos de FHC e Lula, foi tirado da tranquilidade de seu emprego na área de gestão de ativos do Bradesco, recebendo a missão – no ministério da fazenda – de limpar a caca do seu antecessor.

Junto com o rombo do orçamento, o novo ministro está tendo que lidar com inflação alta, dólar baixo (ainda!) e uma atividade econômica em pandarecos. Êta encrenca da boa!

A missão é arrumar toda a bagunça a tempo de que o governo tenha alguma chance de vitória nas próximas eleições presidenciais.

Para isso, o remédio mais conhecido e dolorido é aumentar juros e impostos. Claro que isso prejudica ainda mais quem produz, trabalha e consome. Mas ninguém ainda provou que Fernando Collor estava errado ao dizer que o povo não tem memória.

Ou seja, “as maldades” podem continuar até meados de 2017. Daí, voltar a crescer ficará fácil, diante dos escombros de uma base comparativa deprimida.
Nos últimos dias, Levy colocou seu dedo na nova alta de juros e na piora das condições do programa Minha Casa, Minha Vida. Ele até pode ser, pessoalmente, um bom sujeito. Mas está assumindo o papel de algoz do povo, com o objetivo de agradar os investidores em títulos públicos do Brasil.

Sim, existem outros caminhos possíveis para consertar o problema de caixa do governo brasileiro: basta reduzir a despesa pública de forma significativa, o que seria missão do ministro do planejamento, Nelson Barbosa. Entretanto, isso detonaria com os interesses dos partidos políticos que ainda apoiam o governo...

Resultado, o ser mais poderoso do Brasil assumiu tal posto com a maldição de ser odiado. É um lugar evidentemente ruim para se estar. Então vamos parar com a brincadeira e deixar o espírito do Levy cuidar do próprio corpo e voltar para o nosso, encerrando essa experiência do “se eu fosse você”.

Talvez em uma próxima oportunidade poderíamos virar o Deputado Tiririca. Iria ser bem mais divertido...

Eduardo Starosta

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Coisa para Brasileiro Ver

       O escândalo dos bingos, o mensalão, o achaque à Petrobrás e outras coisas que ainda vamos descobrir têm características flagrantemente comuns: todos os esquemas serviram para alimentar ilegalmente o caixa dos partidos e aliados do governo.

Lógico que de lambuja um monte de gente acabou enriquecendo com a bagunça e são esses os que ganham os destaques nos meios de comunicação. Mas não se pode esquecer de que tudo isso não passou de corrupção de origem partidária.

Repeti o que está escrito no primeiro parágrafo? Então tome mais um repeteco; e agora silábico: a corrupção é, acima de tudo, PAR-TI-DÁ-RIA.

Esse é o pior dos mundos que poderíamos imaginar para o amadurecimento político do Brasil.

A situação em foco é um dos mais graves crimes contra a humanidade. Na medida em que o roubo tem objetivo político, estamos falando do aliciamento de consciências, o que detona com qualquer perspectiva de futuro realmente mais próspero.

Campanhas eleitorais com os melhores marqueteiros; festas políticas regadas com às melhores bebidas, comidas e espetáculos musicais; carros de som azucrinando nossos ouvidos no domingo pela manhã; pobres coitados vivendo às custas do cachê de participação em passeatas e atos políticos. Tudo isso e muito mais existe porque a corrupção partidária tomou conta do dia a dia do país.

Por enquanto, os principais punidos no caso da Petrobrás são os executivos e empresários. Mas será que eles são os maiores culpados? O que aconteceria, por exemplo, com a empreiteira que se negasse a pagar propina? Aposto que quebraria em pouco tempo, sendo alijada de qualquer obra pública. Analisemos individualmente com sinceridade: será que recusaríamos “pagar o cafezinho” aos representantes do poder, caso isso significasse perder o emprego, a empresa, ou ter o bloqueio ao acesso de importantes serviços?

Enquanto nos degladiamos com tais inquietações conflituosas entre a consciência e a prática da vida, os verdadeiros corruptos (e corruptores!) que se escondem em siglas partidárias serão premiados com a triplicação da mesada, expressos em R$ 865 milhões.

Isso parece um acerto de contas dos mais escabrosos:

- Olha, você deixa de roubar, que em troca eu lhe pago diretamente os seus ganhos por achacar a Petrobrás e outras estatais e repartições públicas...

Nessa lógica, que tal pagar aos traficantes, assaltantes e outros da turminha, para que eles deixem de “trabalhar”? Por mais ridículo que isso seja, é apenas detalhe a diferença em relação ao que foi feito com o Fundo Partidário.

Os veículos de comunicação mais otimistas falam que o brasileiro esgotou sua tolerância com a corrupção.

Caso a pressão popular não reverta a sanção da presidência da república relacionada ao Fundo Partidário, toda essa intolerância contra o desvio do dinheiro do povo é só desabafo estéril, coisa para inglês, digo, brasileiro ver.



Eduardo Starosta

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A Lorota da Crise Mundial no Brasil

Nessa semana as autoridades econômicas brasileiras finalmente assumiram publicamente que o PIB de nosso país (toda a riqueza gerada) deverá cair em torno de 1% em 2015 e a inflação tenderá a passar de 8%.

Apesar desses dados não serem nada agradáveis de se encarar, o consolo é que as pessoas que estão administrando a economia nacional começam a falar com mais realismo e sinceridade.

Esse é o primeiro passo para se corrigir os erros do passado. E é nesse ponto que reside o maior problema mental dos nossos governantes. Eles ainda são incapazes de encarar publicamente seus próprios erros, delegando responsabilidades para qualquer coisa que não sejam eles próprios.

Ora, qualquer pessoa com informação mediana e sem preconceito de pensamento sabe que a encrenca econômica atual é fruto direto da má condução da administração pública. Mas o governante que admite isso dentro da própria gestão está assumindo a própria incompetência... e daí, adeus carreira política!

Fica mais fácil, então, culpar algo sem corpo e personalidade, como a tal da crise mundial.

Se isso fosse verdade, seria correto admitir que o desempenho econômico do globo deve estar tão ruim ou pior de que a performance brasileira. Mas não é o que ocorre: segundo o FMI, em 2015 a riqueza mundial tenderá a aumentar 3,45%, com os países ricos crescendo 2,4% e os países emergentes (grupo no qual o Brasil teoricamente é incluído) registrando alta de 4,26%.

Com tais informações, é claro que a culpa da retração econômica do Brasil de 1% não é do que ocorre além das nossas fronteiras.

Mas e se um enrolador metido a esperto levantar o argumento de que estamos pagando hoje o preço dos problemas mundiais gerados pela crise financeira global iniciada em outubro de 2008?

Além de ser mentira - pois o Brasil nunca manteve muita relação financeira com o mundo exterior - podemos desfazer essa lorota usando dados muito simples: entre 2009 e 2014 o PIB mundial cresceu 21,2% e o nosso país ficou nos modestos 16,8%.

Voltando para as perspectivas de 2015, é triste ver que das 188 nações analisadas pelo FMI, o Brasil ficará na 179ª posição do crescimento global. De países conhecido, pior do que o nosso só ficarão “os colegas” Rússia, Ucrânia, Venezuela e Iêmen, os quais – além de serem dependentes do petróleo – também construíram a triste tradição de governos bagunçados e sem gestão séria.

Sintetizando, o mundo não tem culpa das nossas mazelas. O recomendável é reconhecer que o principal problema estrutural do Brasil se divide em duas partes: a primeira são os representantes da população em cargos eletivos; e a segunda são os próprios eleitores que escolhem pessoas sem senso.

Um dia aprenderemos...

Eduardo Starosta

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Dinheiro x Qualidade na Educação

Não sei como funciona em outras ciências, mas em economia, ao elaborarmos uma tese ou pensamento, devemos obrigatoriamente olhar para o mundo real para ver se a ideia é condizente com o que efetivamente acontece. Caso não haja conexão, tudo não passa de um devaneio.

A partir desse modo um tanto quanto cético de encarar as informações abstratas, pareceu bastante estranha a comemorada notícia veiculada nessa semana de que o Brasil seria um dos países com maior participação dos gastos com educação em relação ao PIB.

De acordo com matéria veiculada na Folha de São Paulo, o investimento público na área educacional corresponde a 6,6% do Produto Interno Bruto do País. Isso significa algo em torno de R$ 360 bilhões por ano, ou cerca de R$ 6.200,00 por aluno. Sem dúvida estamos diante de um orçamento respeitável. E em tempos de turbulência política e econômica, esse dado foi festejado pelo governo federal como uma grande vitória em termos de eficiência de gestão.

Mas lembremos que gastar dinheiro é uma das coisas mais fáceis do mundo. Já para gastar bem, o grau de dificuldade aumenta consideravelmente, exigindo ao menos um razoável nível de competência.

E esse lado da questão não tardou a jogar um balde de água fria na festinha do Planalto.

Lá na virada do milênio, em 2000, a UNESCO lançou uma agenda com 6 objetivos educacionais para serem alcançados por 164 países até 2015. O Brasil, com seu comemorado orçamento para a educação conseguiu cumprir apenas 2 itens da meta: universalização da educação primária (1º ao 5º ano); e igualdade de participação masculina e feminina em sala de aula.

Fazer isso significa literalmente mandar a molecada para a escola. Deve-se delegar boa parte do sucesso dessa meta ao criador do Bolsa-Escola, o senador brasiliense, Cristovam Buarque, quando ainda governava o Distrito Federal. Depois esse programa acabou descambando para o Bolsa-Família.

Mas e com relação às outras 4 metas da UNESCO? Levamos bomba em todas: as pré-escolas não evoluíram como deveriam (para crianças de 0 a 5 anos); os níveis de conclusão do ensino médio estão bem abaixo do desejável; o percentual de adultos analfabetos continua elevado; e finalmente, não houve o progresso mínimo necessário na qualidade da educação.

Nem vamos mexer agora na questão do sucateamento das universidades federais (fora da agenda da UNESCO).

O fato é que o poder público federal teve 15 anos para cumprir metas não tão ambiciosas, especialmente pelo volume de orçamento dedicado à educação.

Lembra-se que o desenvolvimento verdadeiro de qualquer país está intimamente ligado à produtividade do seu povo. Por sua vez a produtividade, nada mais é do que conhecimento aplicado ao dia a dia do trabalho.

A conclusão de tudo isso é simples: as autoridades educacionais brasileiras têm o dinheiro para fazer um bom trabalho; só que uma estrutura burocrática paquidérmica e cheia de vieses ideológicos acaba impedindo a concretização de resultados minimamente razoáveis.

Boa sorte ao novo ministro da educação, Renato Janine Ribeiro.

Eduardo Starosta

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Visão Política e Econômica das Galinhas

Estudo divulgado pela faculdade de medicina de Washington comprova que as galinhas enxergam melhor que os seres humanos. Trocando em miúdos (não de frango, é claro!) isso pode significar que temos algo a aprender com as penosas.

Também foi comprovado que os animais não-humanos têm linguagem própria, entendendo-se, portanto, na comunicação. Provavelmente, os cachorros falam uma língua derivada do Latim e a linguística galinácea tem suas origens no idioma galês, de raiz celta.

Sendo assim, o cacarejar generalizado é sinal que o debate entre as aves está permanentemente em alta.

Mas sobre o que elas conversam? Pois bem, com a mania dos granjeiros de forrar os galinheiros com jornais, evidentemente as aves alfabetizadas devem fazer a maior algazarra com as notícias que por elas são pisoteadas.

Duas frangas comadres (na verdade todas as galinhas são comadres umas das outras) fizeram uma pausa entre as ciscadas e as chocagens e resolveram trocar prosa.

- Comadre, a notícia aqui tá dizendo que os impostos subiram.

- Xi, será que é por isso que o Seu Onofre diminuiu o milho do galinheiro?

- Pode ser. Mas aqui tá dizendo que esse tal de imposto subiu porque o governo gastou demais e ficou devendo.

- Espera um pouco: porque eles gastaram mais do que deviam nós é que temos que apertar as penas e emagrecer? Isso não tá certo! O Seu Onofre deveria reclamar com o Rei.

- Rei é coisa de história de fadas. Pelo que eu andei lendo, os chefes são escolhidos pelos granjeiros e outros tipos de humanos.

- Mas quando escolhem esses governantes, “as gentes” são a favor de aumentar os impostos para faltar milho?

- Penso que não, mas parece que sim.

- Não posso acreditar! Custo a entender como os humanos acabaram dominando tudo por aí.

- Parece que em outros lugares isso não acontece. Lembra quando fui candidata a miss? Conheci galinhas de tudo que é canto do mundo. Daí, em um certo momento esse papo de imposto também aconteceu por lá e fiquei sabendo que na maioria dos países essa história de impostos e gastos está bem resolvida. Só tive pena de uma carijó da Venezuela. Tão magrinha a coitada...

- Ora minhocas. Então é só copiar as coisas que dão certo e deixar para lá o que dá errado. A natureza sempre foi assim.

- Também acho, mas essa gente boba parece que não quer aprender o óbvio. Tá na hora da revolução das galinhas. Vamos gurias! Hora de colocar as coxinhas para funcionar.

- Estou dentro! Vamos lá. Vou reunir toda a turma e...

- Espera, espera! Olha essa notícia aqui. O filho da Gabriela Marília foi visto de beijocas com um frango. 

- Que babado! Vamos logo contar para as meninas.

- Eu vou é dar uma checada no Garni Zé. Ai dele se ele estiver se assanhando com algum galo por aí.

- Se essa moda pega, o que será de nós, galinhas? Daremos adeus às chocadeiras e ovos?

-  Nem morta querida. Vamos fundar o movimento galofóbico.

- Ih, isso vai acabar em confusão.

Foi pena para todo o lado.

E o milho foi reduzindo, reduzindo, reduzindo...

Eduardo Starosta