sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Mundo sob Calote e o BNDES Sabido

Antes de abordar o tema central de hoje, cabe um destaque para as continuadas críticas que o Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, vêm recebendo por priorizar investimento para os projetos dos grandes conglomerados econômicos em atividade no Brasil, como a aparentemente fracassada fusão do Pão de Açúcar e Carrefour, por exemplo.
        Os xingamentos são por conta da idéia de que apoiar mega-negócios não seria desenvolvimento social e só econômico.
       Sinto muito dizer, mas uma crítica apropriada à gestão do BNDES não encontra embasamento  nesse pobre jogo de palavras. O Banco vem assumindo, sim, uma dinâmica bastante interessante sob uma perspectiva de longo prazo.
        Veja só: ao entrar como parceiro dos negócios das empresas mais lucrativas e consolidadas do Brasil, o BNDES está tornando o próprio país – de maneira legítima – sócio dos melhores negócios, apropriando-se, evidentemente, de seu quinhão dos dividendos.
        Imagina se essa patrimonialização assume proporções significativas em relação às receitas governamentais. A exemplo dos fundos de pensões, um dia essa estratégia poderá criar uma fonte de recursos não tributária com poder para fornecer a completa auto-sustentação do próprio BNDES, ou cobrir o déficit da previdência social brasileira.
        Se a estratégia seguir essa linha, isso significará mais recursos públicos disponíveis para investimento, ou menos impostos. Daí, o Luciano Coutinho estará coberto de razão para fazer o que está fazendo e o Brasil será grato a ele no futuro.

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Agora, vamos ao nosso tema de fundo.
A crise financeira mundial iniciada em 2008 ainda está longe de acabar. A partir de setembro daquele ano e no decorrer de 2009, os bancos centrais dos EUA, Japão, União Européia, dentre outras nações, despejaram toneladas de suas moedas no meio circulante para evitar o colapso dos bancos, seguradoras e financeiras, o que poderia simplesmente acabar com o Dólar, Euro, Iene e até o Real.
De início, o desastre foi driblado. O problema é que a maneira como isso foi feito envolve sérios riscos de fracasso. Ao mesmo tempo em que as autoridades monetárias injetaram dinheiro no mercado para garantir a liquidez das moedas (logo na crise, os bancos estavam em vias de não ter dinheiro para cobrir os saques dos clientes), elas reduziram as taxas de juros de captação a praticamente zero para inibir a poupança, de forma a evitar um desastroso desabamento do consumo.
Tal situação gerou um paradoxo bem periclitante: para emitir dinheiro sem gerar inflação, os bancos centrais precisam pegar emprestado, através da oferta dos chamados títulos públicos; entretanto, os motivos para quem aceita emprestar dinheiro ao governo por praticamente nada certamente são bem frágeis. Então, ao menor sinal de desconfiança, todos que aceitaram tal situação (a não ser outros governos aliados e grandes corporações com cumplicidade do governo) vão querer se livrar do abacaxi e resgatar suas aplicações.
E veja o que as notícias dos últimos dias nos trazem:
- Grécia: série de greves gerais e revoltas da população contra proposta de austeridade do governo (aprovada) para conter o descontrole das contas públicas. Mesmo com o empréstimo recebido do FMI e parceiros da União Européia, a situação é tão grave que já se admite que o país não terá capacidade de honrar integralmente seus compromissos financeiros. Calote, pelo menos parcial, à vista!
- Portugal: o governo já deixou claro sobre sua incapacidade de pagamento da dívida pública, necessitando de reforma fiscal, política, das leis trabalhistas, extinção de municípios e outros itens que demonstram o elevado grau de insolvência do país.
- Espanha: rapidamente se tornou uma das maiores economias da União Européia, mas o modelo de desenvolvimento está fazendo água. A dívida púbica do país cresceu 17,5% no primeiro trimestre de 2011 frente a igual período do ano anterior e pode chegar a corresponder a 90% do PIB do país até o final de dezembro. O governo do país garante que tem como sustentar tal endividamento, mas os principais especialistas do país no tema tem lá suas dúvidas.
- Itália:  a dívida italiana bateu seu recorde histórico em maio, atingindo 1,987 trilhão de Euros. Além desse montante respeitável, há o assustador dado de que cerca de 27% do valor em questão vence em até 1 ano. O governo vem tentando vender prédios públicos e até ilhas para abater o passivo. Dizem as más línguas que o Berlusconi estaria querendo pendurar umas continhas no genro (Alexandre Pato).
Diante desses e outros elementos que se inserem na crise econômica européia tem gente de peso que está propondo a extinção do Euro, argumentando que a moeda está fadada a morrer mesmo, já que uma união monetária não pode sobreviver sem uma unificação de sistema tributário, o que não ocorreu na Europa.
Falando em morte, não se pode ignorar a ameaça da agencia Moody’s de rebaixar a nota da dívida norte-americana, que desde o final da segunda guerra é considerado o título público mais seguro do mundo. Esse rebaixamento depende da não aprovação por parte do Congresso do País do aumento do limite do endividamento público.
Bem, acontecendo ou não tal aprovação, fica claro que o dólar não é mais aquele; está enfraquecido e suscetível a falecimento em uma situação extrema, que é pouco provável, mas nada impossível.
Mas cá entre nós, o que aconteceria se o Dólar e o Euro simplesmente fossem a bancarrota e só servissem como papel de parede decorativo? Muitas coisas! O mais sentido seria a bagunça das relações de troca internacionais, com todo mundo não sabendo como comprar ou vender.
Porém, depois de alguns meses as coisas começariam a se ajeitar: os prejuízos seriam absorvidos pelos que ficaram com o mico na mão e o mundo acharia novos padrões monetários para trocas. Em princípio, o Iene japonês é bem cotado para fazer as vezes de moeda internacional. Mas europeus e norte-americanos não iriam querer perder essa mamata (afinal eles podem emitir mais dinheiro sem causar inflação do que qualquer outra nação) e buscariam estabelecer novos padrões monetários dominantes.
Como disse, as chances dessa bagunça acontecer é pequena, mas existe.
É pagar para ver. E quem pagar pode ficar tranqüilo: em caso de acerto desse cenário, o dinheiro não valerá mais nada mesmo.
Até Breve

Eduardo S. Starosta

2 comentários:

  1. Seria proposital a omissão dos nossos valores? Dívida interna e externa?

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  2. Na verdade não. Apesar de o Real estar sobrevalorizado, ele não pode ser considersdo uma moeda forte e é pouco provável que sobreviva a um colapso do Euro e Dólar, que inflam artificialmente nossas reservas cambiais pela atratividade dos juros altíssimos. A situação econômica de nosso país foi tratada na postagem de 3 de junho "O Brasil Parou".

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