A grande
porcaria do debate político brasileiro é que ele praticamente não existe.
Eu explico: os
aliados dos governantes não admitem as menores críticas a sua gestão. Quem fala
mal é tachado de cretino, ou filho de uma senhora de vida fácil. Por outro lado,
quem está alinhado à oposição hostiliza qualquer projeto governamental, por
mais bem que esse vem a fazer a sociedade.
Mais incrível
ainda é observar que quando o poder muda de comando, os posicionamentos simplesmente se invertem. Por exemplo, determinado
partido quando na oposição defende o aumento salarial do funcionalismo; mas ao
ganhar a eleição desconversa a questão em nome da responsabilidade fiscal. Ao
mesmo tempo os antigos governantes incorporam às suas bandeiras a luta que
pouco tempo antes eram contrários.
Em resumo,
talvez a melhor definição da política brasileira seja "A arte de ferrar o
oponente".
Pessoalmente,
certas vezes acho isso tudo um tanto quanto engraçado.
Mas também não tenho
dúvidas de que essa pandemia de mesquinheza e descompromisso com a verdade é um
dos principais fatores que impedem o Brasil e a grande maioria de seus estados
e municípios de estarem em uma situação social e econômica bem melhor do que se
encontram na atualidade.
Por conta disso, faço
todo o esforço para não me apaixonar por idéias. Prefiro mulheres bonitas!
Além
do mais, o vínculo emocional com pensamentos - especialmente os teóricos - acaba
por criar temerosos distanciamentos da realidade e normalmente acabam em
besteiras incomensuráveis.
E é assumindo essa
postura despojada de paixões e bandeiras políticas que dou o meu voto de
confiança inicial às iniciativas de Dilma Rousseff no sentido de tentar
derrubar os juros ao consumidor e repactuar o endividamento das pessoas
físicas.
A bem da verdade, esse
mérito deve ser dividido com os ex-presidentes Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso, que bancaram o risco político do plano real.
Mas a
história também deverá reconhecer que foi a nossa patroa que enfrentou a prova
de fogo de sobrevivência à inflação: abrir mão dos juros altos como fator
estrutural de proteção contra a alta dos preços.
Em outras palavras, é muito
fácil estabilizar preços às custas de juros altos, da mesma forma como é
tranquilo ficar calmo usando calmante.O problema é manter o equilíbrio sem
artifícios. E isso é o que está sendo tentado agora.
Vai dar certo? Não sei!
Quem afirma com certeza que sim está mentindo e quem afirma com certeza que não
também está faltando com a verdade.
A vida e a economia tem
muitos fatores imponderáveis e no frigir dos ovos a postura mais coerente é
simplesmente se empenhar para que tudo não desande.
Entretanto, apesar da
importância do que foi feito em termos de redução dos juros, estamos tratando
apenas do pontapé inicial de uma longa agenda de tarefas e ajustes para fazer
com que o Brasil realmente possa usufruir estruturalmente dos juros baixos.
Além de um salutar
aprendizado por parte do consumidor a respeito de seu real potencial de
endividamento (para evitar nova escalada da inadimplência, a exemplo da
atualidade) uma questão importante é
avaliar se a indústria brasileira está preparada para fazer frente a um aumento
rápido do consumo.
Mesmo que os indicadores
de produção das fábricas estejam mostrando recessão - e isso também significa
capacidade ociosa - há sérias dúvidas a respeito de que a indústria brasileira
tenha capacidade para suprir efetivamente o crescimento da demanda.
Caso ocorram
problemas nesse sentido, se as importações não derem conta do recado, a
inflação vai voltar com toda a força e lá se vai o nosso querido Real.
E de início, há
motivos para preocupação. Partindo do pressuposto de que um produto bom é
aquele que vende em qualquer lugar do mundo por uma relação custo-benefício
favorável, vários segmentos industriais brasileiros estão ferrados ou a caminho
disso.
O indicador que
mostra isso é o desempenho exportador das manufaturas de nosso país, excluindo
aí o agronegócio e produtores de minérios e insumos de metais.
Os
números são preocupantes:
- nos últimos
seis anos, dos 27 segmentos industriais exportadores - tirando fora a base a
agropecuária e mineral - 12 registraram queda das vendas externas, 6 cresceram abaixo
de 30% e apenas 9 evoluíram em patamares superiores a isso;
- no intervalo
de tempo em questão, as exportações da indústria de transformação aumentaram
magros 12,7% ( média de 2,4% ao ano). Entretanto, se retiramos desse cálculo
apenas os itens referentes aeronaves, veículos e máquinas, o resultado passa a
ser uma queda de 3% ao longo dos 6 anos;
- se tomarmos
como base comparativa as exportações do ano passado em relação às vendas
internacionais de 2008 (logo antes da crise mundial) verifica-se que apenas 8
segmentos conseguiram recuperar suas vendas aos patamares de 3 anos atrás;
- ainda mais:
comparando o desempenho de 2011 frente ao ano imediatamente anterior, 14
segmentos industriais mostram queda exportadora, contra 13 em expansão.
Realmente, para
um país que se propõe a ser uma potência industrial no contexto do BRICS (especialmente Índia e
China), esse desempenho de comércio exterior é bem insatisfatório.
Mas antes de
culpar os empresários, deve-se ter em conta que grande parte da perda de
competitividade foi devido à sobrevalorização do Real frente as outras moedas
internacionais, além de um sistema de promoção comercial centralizado pelo
governo que se mostrou claramente ineficaz, ao tentar considerar tudo que é
produto e mercado como "farinha do mesmo saco".
Sem querer malhar culpados, a questão fundamental
desse quadro é a dúvida a respeito de a indústria brasileira - por conta das
dificuldades exportadoras (e evidentemente dificuldades de agir no mercado
interno pela vantagem competitiva dos importados mais baratos) - ter ficado ou não sucateada para fazer frente ao aumento do consumo interno
que tende a se concretizar com a queda dos juros.
Se a resposta
for positiva, o aumento das vendas do comércio não deixará de acontecer. Porém,
o Brasil estará perdendo a oportunidade
de aproveitar da melhor forma a expansão do consumo
interno para gerar riqueza.
Trocando em
miúdos, depois de reduzir o custo do crédito, a principal urgência passa a ser
a implementação de políticas voltadas à modernização e competitividade
industrial brasileira.
A recuperação cambial é só o começo. Redução de
impostos, melhoria das linhas de crédito e subsídio à pesquisa e
desenvolvimento de produtos são itens essenciais nessa caminhada.
Estados Unidos e
Europa se ressentem duramente em ter terceirizado sua produção industrial para
os chineses e indianos.
Será que o Brasil, um país ainda pobre, pode ser dar ao
luxo de arriscar a perder a capacidade de produzir boa parte dos produtos que
consome, mesmo com tanta fartura de matéria prima.
Acredito que não.
Mas essa não é uma opinião unanime.
Até Breve
Eduardo Starosta
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