quarta-feira, 17 de junho de 2015

Cuidado com a Política, a Heterofobia e a Intolerância

Não dá para negar que estamos vivendo em tempos difíceis. Não se trata apenas de recessão, ou barbeiragens de gestores públicos, ou até mesmo a corrupção comprovada, envolvendo figuras públicas que não há muito tempo eram admiradas e exemplos de credibilidade.

Por incrível que pareça, isso é peixe pequeno diante da corrupção de valores atualmente em avanço no Brasil. E olha que esse não é um papo conservador; muito antes pelo contrário.

Três eventos lamentáveis ocorridos nessa semana, dois deles no Congresso Nacional, sustentam o que acabo de dizer.

Em primeiro lugar, é inacreditável que os redatores dos jornais achem natural certas ações políticas, como foi o caso do puxão de orelhas que o ex-presidente Luis Inácio da Silva deu em parlamentares do PT por eles não terem obstruído sessão da CPI da Petrobras. 

O motivo: seu amigo e diretor do Instituto Lula, Paulo Okamoto, estava sendo chamado para depor. 

Não foi surpresa que o ex-presidente mais uma vez tenha denegrido sua biografia para defender atos duvidosos de seus colaboradores mais próximos. O incrível mesmo é uma bancada inteira – que a cada dia perde mais credibilidade pública – se submeta a tal disparate... e a sessão da CPI foi mesmo obstruída. Isso é política ou cumplicidade criminosa?

No mesmo ambiente político, o deputado carioca Jean Willys divulgou a ideia de reescrever a bíblia, cortando as referências ditas homofóbicas. Ou seja, o cultuado parlamentar do PSOL propõe mexer em um texto milenar (na verdade, a Bíblia já foi algumas vezes adulterada) por uma mera preferência de como usar a genitália.

Nada contra a aceitação social de homossexuais. Isso - afora raras exceções - já foi conquistado com inegáveis méritos pelas organizações defensoras de gays e lésbicas. 

Mas entre “sair do armário” - respirando os ares da liberdade de opção sexual com dignidade – e partir para uma ofensiva hostil à cultura e crenças de outros grupos sociais há um gigantesco abismo ético. 

Tentar censurar a bíblia ou os textos de Monteiro Lobato, Jorge Amado e outros, por retratarem crenças ou contextos literários, representa um cerceamento de liberdade até mais grave do que discriminar homossexuais. 

Mais grave porque esse grupo que já experimentou o dissabor da discriminação está confiando em líderes que aparentemente desejam saborear a vingança através de pessoas que preservam os hábitos defendidos pelos antigos repressores. 

Ser contra, ou se enojar, com práticas afetivas entre pessoas do mesmo sexo não pode ser confundido com reprimir criminosamente a liberdade do próximo. Mas é exatamente isso o que está ocorrendo. 

Será que estão querendo encarcerar mulher que gosta de homem e homem que gosta de mulher nos armários que vagaram, antes ocupados por homossexuais? Aparentemente, estamos diante de uma onda heterofóbica... 

Finalmente, saindo do contexto parlamentar, dia desses no Rio de Janeiro, alguns evangélicos fundamentalistas resolveram apedrejar uma menina de 11 anos, por ela estar saindo de um culto de Candomblé. 

Em poucas palavras, a intolerância contra uma das mais belas e puras construções religiosas e culturais do nosso Brasil, acabou esburacando a cabeça de uma criança, simplesmente por ela encontrar sentido em cultuar orixás que representam nada mais do que as forças da natureza e a ética. E até onde se sabe, a orientação mais fundamental do grande mentor dos agressores é um singelo e universal “Amai-vos uns aos outros”. Dá para entender?

Sim, dá para entender!

Os três fatos mencionados retratam o desvirtuamento dos líderes do país em relação aos seus próprios propósitos:

- O ex-presidente, cuja grande empatia com a população poderia conduzir o Brasil a dias bem melhores que os atuais, assumiu o papel de obstrutor da justiça e da verdade;

- O parlamentar que construiu sua fama declarando-se homossexual em programa de confinamento da Rede Globo, joga o discurso da liberdade no lixo ao buscar calar quem ou o que confronte os seus ideais;

- E os religiosos que deveriam estar buscando a paz de espírito – muito provavelmente sob influência de algum pastor de ocasião – preferem agredir pessoas que buscam outras formas de buscar a divindade.

Ou seja, comprovadamente, a população brasileira está dando ouvidos demais a pessoas “demenos”, que desvirtuam ideias e crenças para dar vazão às suas próprias perversões.

É isso o que está afundando o país. Mensalões, petrolões e outros atos e fatos que nos envergonham são a mera consequência de confiar em pessoas erradas... maldosamente erradas.

Eduardo Starosta 

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