sexta-feira, 5 de junho de 2015

As Mentiras Sinceras

Há exatamente um ano o Brasil estava às vésperas de sediar o maior evento esportivo do planeta a cada quatro anos. E com a aproximação da Copa do Mundo, nosso país se envergonhava diante do mundo pelo atraso das obras, ficando fora do chamado “padrão FIFA”.
Se fosse hoje, falar a alguém que ele (ou ela) está dentro do padrão FIFA é pedir para levar bofetada. Simplesmente o que virou sinônimo de seriedade, organização e solidez institucional passou, da noite para o dia, a significar bagunça e roubalheira.
É claro que a entidade maior do futebol já era uma zona há vários anos. Mas a máscara de seriedade funcionava pois, cinicamente as pessoas envolvidas queriam acreditar nisso, ou simplesmente lhes era conveniente tal situação (ou inconveniente denunciar).
Continuando o raciocínio, esse tipo de desmonte súbito e constrangedor de padrões e verdades não é nenhuma raridade na história dos humanos.
- Centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo preferiram acreditar no dinheiro fácil como modo de vida e perderam boa parte de suas riquezas na crise financeira de 2008;
- Alguém se lembra de uma pulseirinha australiana milagrosa (coisa de 5 ou 6 anos atrás)? Quem a usava ficava com mais energia e coisa e tal. No momento em que a indústria que a produzia falou que tais benefícios eram lorota, quantas pessoas não trataram de arrancar o mimo milagroso do corpo para não passar por idiota. Tenho um conhecido que revendia essas pulseiras no Brasil. Ele tá dando risada até hoje!
Em todos esses casos, indícios, evidências e até o senso de ridículo deixavam claro que pessoas estavam sendo enganadas, ludibriadas, passadas para trás.
Mas tem vezes que as mentiras são tão gostosas de se acreditar, que saber a verdade faz com que parte da vida fique sem graça. Quem não gostaria de usar um penduricalho no pulso que fornecesse superpoderes? E ganhar dinheiro só pedindo dinheiro emprestado, então; tem vagabundagem mais gostosa que essa?
Pois bem, o passado é passado. É mais fácil esquecê-lo para não passar vergonha.
Por outro lado, será que no presente não há algumas “mentiras sinceras” nas quais preferimos acreditar e que depois vão nos dar grandes dores de cabeça?
Tenha a certeza de que a reposta é sim!
Na verdade, o Brasil de 2015 está pagando o preço de mentiras e acobertamentos de nossa história recente:
Lamentavelmente, programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, dentre outros, foram feitos sem sustentabilidade econômica. E chega o momento em que as pessoas que realmente geram renda, esgotam a capacidade (e a paciência!) de serem mais e mais tributados. E olha que nem entramos nos casos de corrupção...
O fato é que mesmo já sendo reconhecida, a crise atual é mais séria do que está aparentando. Definitivamente, não se trata de uma simples recessãozinha que vai ser superada no próximo semestre. Essa é só mais uma “mentira sincera”.
E pela tradição, quando a sociedade brasileira se der conta do buraco em que se meteu, só restará a vergonha, as grades das casas e o bolso vazio. Ah, e claro, alguém com bom senso de oportunidade e cara de bonzinho que baterá no próprio peito, afirmando ter a solução moral...
Daí, recomeçará o ciclo das mentiras sinceras.
Até quando?
Eduardo Starosta

Nenhum comentário:

Postar um comentário