sexta-feira, 12 de junho de 2015

Heresias Hereges


Lá nos templos da velha Bíblia,
Havia um Rei chamado Salomão,
Mulherengo e sabichão,
Sua alteza era bom para dar perdão.

Mas um dia ele acordou de corno virado,
Tudo por causa da sua ruiva preferida do harém,
Que nos malabarismos do leito não quis ir ao além,
Deixando Sua Majestade bem pirado.

E logo na primeira audiência da manhã,
Teve de encarar duas senhoras brigando com afã,
O problema estava na disputa por maternidade,
Estava em jogo, um varão de pouca idade;

Irritado com o barraco das tagarelas,
Salomão queria é botar sebo nas canelas,
Mas lembrando que lá no harém estava frito,
Suspirou fundo e deu se veredito.

Chamem o carrasco de nome Tovar,
Para dividir o menino em duas metades,
E elas que escolham de acordo com suas vontades,
Qual parte do moleque cada uma irá levar.

Uma preferiu a parte de cima,
A outra se contentou com o pedaço de baixo,
E o pobre menino, sem entender o motivo,
Se enxergou pela primeira e última vez dividido.

O corpo partido,
Foi por ambas as mulheres bem vestido,
Cada qual mostrando sua parte da sorte,
Fingindo em vão não terem causado uma morte.

Milênios se passaram,
E tal história foi redescoberta,
Traduzida para o português,
O relato logo teve freguês.

Inspirado no sábio Salomão,
E sua libido gigante,
Novos governantes,
Usaram o exemplo para fazer gestão.

Pegaram o grande manual de administração,
Usado com zelo por qualquer nação,
E promoveram uma grande esculhambação,
Que durante muitos anos todos se lembrarão.

A parte de cima do livro dizia como do povo cobrar,
E a parte de baixo ensinava como com o povo gastar,
A primeira metade foi prestigiada e aperfeiçoada,
E a segunda, coitada, acabou amputada e adulterada.

Ganharam fortunas aos borbotões,
Nesse ponto chegaram a ser campeões,
Mas no que se refere aos contribuintes apoiar,
Simplesmente, mandaram todos eles pastar.

A hemorragia se instalou,
A parte de cima tudo arrecadava,
E a metade de baixo
Não conseguia repor a energia do que lhe era tirada

E no meio do corpo divido,
O sangue se perdia em caminhos sem sentido,
Assim a base foi morrendo,
O topo nem reparava que por conta disso também a vida ia perdendo.

Mas o dia fatídico chegou,
Quem faz, quem produz e quem trabalha minguou,
Logo os governantes também ficaram sem energia,
E assim acabou-se a história da orgia.

Governo e povo mortos sem enterrar
Na paisagem só se via
Os últimos rapineiros a devorar
O resto da carne podre que fedia.

Na história original escrita,
O ato de Salomão, a morte da criança evita,
E no caso da Nação,
Será que há solução?


Eduardo Starosta

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