Já dá para antecipar!
A notícia que saiu esses dias
nos jornais britânicos vai se transformar no grande instrumento da propaganda
ufanista nacional no início do ano: de acordo com o
Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR, na sigla em inglês), o
Brasil papou a sexta posição do Reino Unido no ranking das maiores economias do
planeta.
Tentando arrumar argumentos para esconder o orgulho ferido, a imprensa
especializada do que já foi o maior império do mundo atribui a ascensão
brasileira a uma série de fatores pontuais, dos quais se destacam o crescimento
do país como fornecedor de recursos naturais e a emergência de consumo de uma
população predominantemente pobre, suja e boa de bola.
Dessa forma, fica
mantido o orgulho britânico do poderio de sua indústria e o consolo de que dentro
de cinco anos eles deverão superar o tamanho da economia dos tradicionais
rivais franceses.
Entretanto, se eles
simplesmente decidissem parar de tentar camuflar um possível fracasso e
investigassem a fundo a subida brasileira no ranking em questão, encontrariam
uma explicação fácil e coerente para o fenômeno.
Olha só que dado
interessante: pegando as informações consolidadas do Banco Mundial entre 2003 e
2010, a participação brasileira na economia global pulou de 1,47% para 3,31%. Ou seja, evoluiu em 125%, superando inclusive a expansão da participação da
toda poderosa China (passou de 4,38% para 9,39%, aumentando 114% em termos de
participação).
Por outro lado, em termos reais o crescimento econômico do
Brasil no período em questão foi de 41,8%, diante de 11,23% do britânico.
Então, vamos fazer uma
simples conta de aritmética. Em 2002 o Produto Interno Bruto do Brasil era de
US$ 504 bilhões, enquanto o do Reino unido chegava a US$ 1,6 trilhão. Com o
crescimento desses países, identificado no parágrafo anterior, o PIB brasileiro
deveria ter passado para US$ 715 bilhões, enquanto os súditos
da Rainha Elizabeth ficariam com US$ 1,79 trilhão.
Peraí: tem alguma coisa
errada nessa conta. Se estão dizendo que a riqueza gerada pelo Brasil em 2011
superou a inglesa, como é que os números mostram uma situação bem diferente?
Com um pouco de paciência
dá para entender o que aconteceu.
Você reparou como de uns
anos para cá ficou mais barato comprar uísque escocês, carros de outros países,
computadores, brinquedos e qualquer outra coisa importada? Pois bem, isso
aconteceu simplesmente porque o real se valorizou frente às demais moedas. E já
que o cálculo do PIB comparativo tem o dólar como padrão, não é difícil
entender que com a nossa moeda valendo bem mais nos últimos oito anos, a
contrapartida natural é que o padrão monetário norte-americano (assim como o Euro,
Libra, Iene, Yuan, etc) passe a valer menos nas contas dos brasileiros.
Dessa forma, sem termos
reais a economia de nosso país cresceu para o 41,8% no período em questão, a
contabilidade amalucada da variação cambial fez com que o PIB brasileiro ultrapassasse
o patamar de US$ 2,2 trilhões, papando o posto inglês de sexta maior economia
do planeta.
Agora, vamos à pergunta
sacana: Isso é verdade?
É e não é.
É verdade na medida em que as circunstâncias da
contabilidade nacional mostram isso de maneira precisa. Mas é mentira na medida
em que tal situação não tem sustentação eterna. Cedo ou tarde o real terá de
passar por um ajuste na direção da sua desvalorização, o que fará com que os
britânicos retomem seu status, da mesma forma em que o PIB italiano, indiano, canadense, russo,
espanhol, mexicano e sul-coreano também tendam a ultrapassar o Brasil, conforme
a intensidade da correção cambial.
A figura a seguir mostra muito bem o funcionamento do fenômeno
em questão. Na medida em que o real foi tendendo a ficar mais próximo do dólar
(valorização, portanto), a participação brasileira no PIB mundial foi aumentando
rapidamente.
Nosso país ultrapassou a economia britânica dentro de
um contexto no qual o Dólar Médio ficou em R$ 1,66. Entretanto, nos últimos
meses, com o agravamento da insegurança global - por conta do aprofundamento da
crise (especialmente européia) - o valor da moeda brasileira diante da
norte-americana vem mudando de patamar e se situando ao redor de R$ 1,85.
De acordo com tal cotação, o Reino Unido já teria retomado sua
tão zelada 6ª posição.
É lógico
que a explicação que acabei de dar tende a ser ignorada por aqueles com senso
de marketing político.
Imagina
só que prato? O próprio concorrente (no caso, os britânicos) dizer que foi
derrotado! Dentro da tradição da política de palavras (e não de atos)
brasileira, esse é um piquenique que deverá ser degustado por muito tempo,
apesar de estar sendo baseado em um distorção dos fatos.
No
momento em que os juros caírem no Brasil (se caírem...), os investidores
estrangeiros perderão o interesse em deixar dinheiro por aqui e o real vai se
desvalorizar, fazendo com que o tamanho da economia nacional retorne a
patamares mais realistas.
Enquanto
isso não ocorrer, as autoridades econômicas vão continuar saboreando o sucesso
da circunstância que, se por um lado dá notabilidade ao Brasil, por outro deixa
o país cada vez mais pobre em termos de indústria e emprego industrial.
É
esperar para ver.
Até
Breve
Eduardo
Starosta
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