terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Tamanho Verdadeiro do Brasil


Já dá para antecipar! 
A notícia que saiu esses dias nos jornais britânicos vai se transformar no grande instrumento da propaganda ufanista nacional no início do ano: de acordo com o Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios (CEBR, na sigla em inglês), o Brasil papou a sexta posição do Reino Unido no ranking das maiores economias do planeta. 

Tentando arrumar argumentos para esconder o orgulho ferido, a imprensa especializada do que já foi o maior império do mundo atribui a ascensão brasileira a uma série de fatores pontuais, dos quais se destacam o crescimento do país como fornecedor de recursos naturais e a emergência de consumo de uma população predominantemente pobre, suja e boa de bola.

Dessa forma, fica mantido o orgulho britânico do poderio de sua indústria e o consolo de que dentro de cinco anos eles deverão superar o tamanho da economia dos tradicionais rivais franceses.

Entretanto, se eles simplesmente decidissem parar de tentar camuflar um possível fracasso e investigassem a fundo a subida brasileira no ranking em questão, encontrariam uma explicação fácil e coerente para o fenômeno.

Olha só que dado interessante: pegando as informações consolidadas do Banco Mundial entre 2003 e 2010, a participação brasileira na economia global pulou de 1,47% para 3,31%. Ou seja, evoluiu em 125%, superando inclusive a expansão da participação da toda poderosa China (passou de 4,38% para 9,39%, aumentando 114% em termos de participação). 

Por outro lado, em termos reais o crescimento econômico do Brasil no período em questão foi de 41,8%, diante de 11,23% do britânico.

Então, vamos fazer uma simples conta de aritmética. Em 2002 o Produto Interno Bruto do Brasil era de US$ 504 bilhões, enquanto o do Reino unido chegava a US$ 1,6 trilhão. Com o crescimento desses países, identificado no parágrafo anterior, o PIB brasileiro deveria ter passado para US$ 715 bilhões, enquanto os súditos da Rainha Elizabeth ficariam com US$ 1,79 trilhão.

Peraí: tem alguma coisa errada nessa conta. Se estão dizendo que a riqueza gerada pelo Brasil em 2011 superou a inglesa, como é que os números mostram uma situação bem diferente?

Com um pouco de paciência dá para entender o que aconteceu.

Você reparou como de uns anos para cá ficou mais barato comprar uísque escocês, carros de outros países, computadores, brinquedos e qualquer outra coisa importada? Pois bem, isso aconteceu simplesmente porque o real se valorizou frente às demais moedas. E já que o cálculo do PIB comparativo tem o dólar como padrão, não é difícil entender que com a nossa moeda valendo bem mais nos últimos oito anos, a contrapartida natural é que o padrão monetário norte-americano (assim como o Euro, Libra, Iene, Yuan, etc) passe a valer menos nas contas dos brasileiros.

Dessa forma, sem termos reais a economia de nosso país cresceu para o 41,8% no período em questão, a contabilidade amalucada da variação cambial fez com que o PIB brasileiro ultrapassasse o patamar de US$ 2,2 trilhões, papando o posto inglês de sexta maior economia do planeta.

Agora, vamos à pergunta sacana: Isso é verdade?

É e não é.

É verdade na medida em que as circunstâncias da contabilidade nacional mostram isso de maneira precisa. Mas é mentira na medida em que tal situação não tem sustentação eterna. Cedo ou tarde o real terá de passar por um ajuste na direção da sua desvalorização, o que fará com que os britânicos retomem seu status, da mesma forma em que o PIB  italiano, indiano, canadense, russo, espanhol, mexicano e sul-coreano também tendam a ultrapassar o Brasil, conforme a intensidade da correção cambial.

A figura a seguir mostra muito bem o funcionamento do fenômeno em questão. Na medida em que o real foi tendendo a ficar mais próximo do dólar (valorização, portanto), a participação brasileira no PIB mundial foi aumentando rapidamente.

Nosso país ultrapassou a economia britânica dentro de um contexto no qual o Dólar Médio ficou em R$ 1,66. Entretanto, nos últimos meses, com o agravamento da insegurança global - por conta do aprofundamento da crise (especialmente européia) - o valor da moeda brasileira diante da norte-americana vem mudando de patamar e se situando ao redor de R$ 1,85.
De acordo com tal cotação, o Reino Unido já teria retomado sua tão zelada 6ª posição.


É lógico que a explicação que acabei de dar tende a ser ignorada por aqueles com senso de marketing político.

Imagina só que prato? O próprio concorrente (no caso, os britânicos) dizer que foi derrotado! Dentro da tradição da política de palavras (e não de atos) brasileira, esse é um piquenique que deverá ser degustado por muito tempo, apesar de estar sendo baseado em um distorção dos fatos.
No momento em que os juros caírem no Brasil (se caírem...), os investidores estrangeiros perderão o interesse em deixar dinheiro por aqui e o real vai se desvalorizar, fazendo com que o tamanho da economia nacional retorne a patamares mais realistas.

Enquanto isso não ocorrer, as autoridades econômicas vão continuar saboreando o sucesso da circunstância que, se por um lado dá notabilidade ao Brasil, por outro deixa o país cada vez mais pobre em termos de indústria e emprego industrial. 

É esperar para ver.

Até Breve

Eduardo Starosta


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