quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Questão das Quimeras: O Lado Ético e o Humorístico


Veja os macaquinhos logo abaixo. Não são umas gracinhas? Não se deixe iludir! Na verdade eles são dois monstrinhos de meter medo. A simpática aparência dos pequenos animais oculta um terrível segredo.

Primeira Quimera Símia: para fazer isso com gente, falta pouco... ou nada!

Eles não são bichos como os outros!

Ao invés de terem nascidos de uma saudável (e para alguns, saudosa!) relação sexual, ou pelo menos de alguma inseminação artificial em modos tradicionais e conservadores, eles são a conseqüência de algo parecido com uma sopa, cuja receita é mais ou menos assim:

- Pegue seis embriões de diferentes macacos (no caso, da raça Rhesus) com apenas quatro células cada um;
- Misture tudo e reserve;
- Depois de um tempo a receita está pronta.

Você terá um macaquinho novo em folha proveniente de seis embriões diferentes.

Em dimensões humanas, isso seria mais ou menos como pegar células embrionárias do Sarney, Tiririca, Rita Lee, Francisco Cuoco, Maguila e do Rubens Barrichello, misturar tudo e se deliciar com o resultado na forma de uma nova vida. O DNA do bicho que saísse do citada receita seria completamente original.

Assuste-se: isso já não tem nada de ficção. Já era praticado com ratos, foi feito com símios pela Universidade de Ciência e Saúde de Oregon (EUA) e pode ser aplicado a humanos, apesar de os cientistas garantirem que isso não ocorrerá (é óbvio que vai!).

Mas veja só: esses citados cientistas chamaram seus macaquinhos de Quimeras.

Para quem não sabe essa é a denominação aplicada a seres mitológicos que seriam a mistura de pelo menos dois animais. Lembram do Minotauro (touro com homem) e da Hydra (mulher com serpente)?

Pois é, na prática isso em breve já poderá ser feito pelas mãos humanas.

De uma maneira resumida, os cientistas malucos do Oregon podem misturar o que bem quiserem com o que bem entenderem e ver que bicho vai dar. Há quem argumente que tal procedimento só pode ser feito com animais da mesma espécie. Mas fica fácil saber que isso não é bem assim: há alguns anos implantaram novos genes na soja para que ela fosse resistente a herbicidas, popularizando a transgenia.

Fazer isso mesmo com bichos e gente virou apenas uma questão de detalhe. E para quem pensa que estamos falando de uma tecnologia inacessível, podem ir tirando o cavalinho da chuva. Na história do mundo, todo o conhecimento mais complexo, com a devida sistematização, acaba ficando quase óbvio.

Veja os computadores. Até os anos 70, fazer um aparelho desses era coisa para grandes empresas ou cérebros privilegiados. Atualmente, qualquer adolescente tem plenas condições de montar de forma encadeada peças e fios para ter a “sua máquina”. Da mesma forma, a inseminação artificial – grande fronteira do conhecimento médico e ético de 3 ou 4 décadas atrás – virou ponto comercial comum nas cidades.

Então, não são desprezíveis as possibilidades de que, dentro de alguns anos, fazer quimeras se torne algo óbvio para qualquer laboratório ou centro de pesquisas.

E qual a utilidade de tudo isso? Seguramente muitas. Vão desde a realização de sonhos de vaidade humana, passam por delírios de adolescentes e malucos em geral, mas acabam convergindo para uma observação pouco explorada na filosofia e na ciência.

Vejamos, a humanidade se diferenciou em etnias, estaturas, eficiência muscular e outros aspectos ao longo de milênios de adaptação às condições ambientais nos vários locais povoáveis do planeta.

Porém, em paralelo a esse tipo de evolução, a tecnologia ofereceu múltiplos confortos e o ser humano está claramente deixando de viver em um habitat único, específico e se tornando ser global, ou pelo menos de mais de um único ambiente.

Ainda mais:  deve-se ter a consciência de que nos últimos dez ou vinte mil anos – período no qual a humanidade realmente firmou suas bases e prosperou – o clima do planeta foi excepcionalmente amigável para a nossa espécie. Mesmo sem os efeitos do aquecimento global (questionável por importantes grupos de cientistas), na maior parte da história geológica terráquea, o ambiente seria inóspito para humanos: ou gelo demais, ou calor de dar dó.

Daí vem a questão: será que no futuro os homens e mulheres terão o tempo necessário para se adaptar às mudanças biológicas para a sobrevivência no planeta, ou teremos que receber uma mãozinha acelerada do conhecimento científico para mudar mais rapidamente as próximas gerações?

Os fundamentalistas da religião – se pudessem - provavelmente me excomungariam apenas pela pergunta que lancei. Mas antes de imaginar o mau que o conhecimento aplicado pode causar, prefiro pensar em seus benefícios potenciais.

Somos bichos, seres da natureza, cujo diferencial evolutivo está centrado nas aptidões cerebrais e não físicas.

É verdade, somos um tanto quanto vaidosos, buscando beleza e longevidade com saúde e vitalidade. E será que isso está errado?

Ao manipularmos com genes, cromossomos, DNA, RNA e outras coisas do tipo, não estamos nada mais do que aplicando o conhecimento retirado da natureza em nós próprios. Seria isso pecado sob a luz (ou sombra!) de algum dogma teológico?

Talvez o grande medo em relação à “fórmula das quimeras” seja que ela caia em mãos erradas. Sim, é um risco que pessoas, diríamos diferenciadas como  Hugo Chávez, resolvessem produzir em laboratórios réplicas de si próprios com adaptações bizarras.

Mas seria correto simplesmente restringir o ser humano a sua própria biologia quando a sua mente já transcendeu os limites do próprio corpo? Se a resposta for positiva, então que proíbam a inseminação artificial e mais radicalmente os medicamentos e até o próprio sabonete, que foi, historicamente, o responsável pelo primeiro salto da longevidade.

O tema é realmente denso e controverso. Minha intenção aqui não foi buscar a solução da questão levantada, e sim incentivar um debate que para muitos pode estar próximo da loucura, mas que materialmente já faz parte da realidade do dia-a-dia.

Até Breve,

Eduardo Starosta

4 comentários:

  1. Eduardo
    Fiquei pensando nas melhorias que serão impostas a nós, sexo masculino, já que as mulheres domirão o mundo.

    Abraço
    André Anele

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  2. Dominarão? Cara, elas já dominam tudo mesmo. Acredito que o "ser masculino" no futuro só servirá para reprodução e terá como única fonte alimentar a cerveja. Vamos nessa!

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  3. Qualquer réplica de Hugo Chavez sairia necessariamente melhor que o original. Não creio que possa haver coisa mais bizarra...

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    1. Não devemos nos iludir... Como diz um amigo meu (Wilson Telles de Lima), a realidade sempre supera a ficção. Veja, por exemplo a dinastia da Coréia do Norte. É de assustar!

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