quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Retrocesso das Exportações Brasileiras


Muitos conhecidos acham que gasto tempo demais procurando cabelo em ovo. E quando encontro alguma evidência de que o senso comum está errado, esses críticos próximos raramente dão o braço a torcer: preferem argumentar que foi por pura sorte que minha linha de raciocínio acertou o alvo, ou que eles próprios já sabiam de tudo aquilo.

Mas sou teimoso e continuo na minha garimpagem dos cabelos em ovo. O mais importante não é o reconhecimento pessoal, mas sim o prazer de provar que o pensamento consensual nunca passa de uma grande burrice, como já dizia Nelson Rodrigues.

E agora vou atacar de novo. A vítima são as exportações brasileiras. 

De acordo com os dados oficiais, as vendas internacionais do Brasil vão de vento em popa, fechando, em 2011, com o recorde de US$ 256 bilhões, crescendo, então, 26,8% em relação ao ano anterior. Esse é um número - em princípio - bem expressivo e positivo, especialmente considerando a insistência da Europa e EUA de continuarem em crise.

Mas por trás desses montantes fantásticos, existe uma realidade em formação muito preocupante e que poderá significar a regressão do potencial econômico brasileiro em multiplicar sua riqueza de forma ágil no futuro.

O pressuposto é simples e bem conhecido: enriquece quem produz (e exporta!) produtos e serviços de maior complexidade e conseqüente maior valor agregado.

Nós, no Brasil, estávamos caminhando nesse sentido até o final da década de 90, quando 28% das exportações nacionais eram de produtos provenientes da indústria metal-mecânica (inclui automóveis, comunicações, informática, etc).

Entretanto, ao entrar no terceiro milênio “forças mágicas” fizeram com que o país rejuvenescesse em termos econômicos. Isso é bom? Que nada! É uma porcaria!

Simplesmente, a partir do século XXI a participação dos produtos industriais no valor exportado pelo Brasil caiu de forma acintosa.

A ilustração a seguir mostra isso. Em 2011, aquela importante participação do setor metal-mecânico caiu para modestos 15,3% , enquanto os produtos da base alimentar pularam de 23,5% para 31,10% e os da extração metálica evoluíram de 7,49% para respeitáveis 28%.


Em poucas palavras, isso quer dizer que o Brasil está retornando aos tempos coloniais onde daqui se tirava ouro, cana-de-açúcar, café e algodão. A diferença é que agora estamos falando de ferro, soja, frango e gado. 

Por favor, não se deve ter nada contra os empresários dos citados setores, que foram competentes em aproveitar as oportunidades do comércio internacional.

Veja bem, a não ser pelos minerais e alimentos, todos os demais segmentos exportadores vêm perdendo espaço na pauta de internacionalização brasileira. E isso não se refere somente a exportação. Na medida em que uma indústria perde competitividade internacional, isso forçosamente quer dizer que cedo ou tarde ela irá se dar mal no mercado interno também.

O problema sério mesmo é o fato de termos perdido muito rapidamente competitividade na indústria de transformação, que continua sendo o principal meio de se construir um país dinâmico, com empregabilidade e rico.

Como exemplo podemos citar os outrora poderosos calçadistas, que  perderam os mercados (inclusive parte do interno) para a China. Os carros, vinhos, roupas e equipamentos eletrônicos importados que invadem as lojas do Brasil também são o claro sinal de que o país está com problemas de preço e/ou qualidade nos seus produtos.

Não querendo puxar ou empurrar a brasa para qualquer lado, imagino que a culpa da situação seja do McDonalds.

Além de fazerem sanduiches bem sem graça (a batata frita é boa!), a rede simbolizada pelo palhaço assustador espalhou mundo afora um hambúrguer chamado de Big Mac que, apesar de ser um produto global tem, obrigatoriamente, seus ingredientes adquiridos no mercado interno de cada país.

Dessa forma, o preço final do produto (considerando uma margem de lucro igual em todas as lanchonetes da rede) praticado nos países acaba revelando onde a moeda tem maior ou menor poder de compra. O cálculo é feito há vários anos pela revista The Economist.

Por exemplo, nos EUA o Big Mac custa US$ 4,20, enquanto no Brasil a iguaria é vendida por US$ 5,68. Trocando em miúdos isto quer dizer que a moeda brasileira está sobrevalorizada em 32% em relação ao dólar (querendo ou não, a principal referência monetária do mundo) e para se equiparar ao dinheiro norte-americano deveria estar cotado a R$ 2,44, ao invés dos R$ 1,80 atuais.

Ainda mais: o Big Mac é vendido em 44 países e o Brasil o comercializa pelo 4º valor mais caro do mundo, sendo superado apenas pela Suíça, Noruega e Suécia.

Essa realidade, a não ser por algumas exceções, se aplica a maioria dos demais produtos brasileiros. Ou seja, a cotação do Real faz com que quase tudo produzido por aqui seja mais caro do que no resto do mundo, o que acaba prejudicando a maior parte dos exportadores. 

A solução é simplesmente fazer como China e Índia e desvalorizar a moeda brasileira, pelo menos a patamares mais justos. O problema é que isso entraria em conflito com a necessidade do governo de pegar dinheiro no exterior para financiar a dívida interna. Eles só conseguem trazer tanto investimento para cá porque temos a taxa de juros mais alta do mundo (isso que a SELIC caiu para 10,5% ao ano). 

Daí vem a velha ladainha: diminuir os juros é fundamental para reduzir a defasagem cambial e de quebra acaba beneficiando o consumo e investimento na produção. Mas por outro lado, obriga o Estado a gastar menos, o que é sempre um pesadelo para a classe política.

Mas será que é essa a conta que a sociedade quer fazer? Ajustando o real ao seu valor de equilíbrio (algo em torno de R$ 2,44 por dólar), além de os exportadores atuais (do agronegócio e extração mineral) ganharem mais dinheiro, isso faria com que outros setores – especialmente da indústria – se tornassem mais competitivos e começassem (ou voltassem) a exportar também. 

De quebra, teríamos um intenso efeito em de geração em emprego em toda a cadeia de fornecimento das fábricas, o que seria muito bom para o Brasil. Mesmo que os dados do IBGE mostrem que o desemprego está em baixa (na verdade, o desemprego mede apenas quem não tem trabalho e está procurando emprego), ao ativar a produção industrial interna, os salários  totais da economia tendem a subir. Parece ser um bom negócio, não?


Chuva Espacial -  Mais um satélite caiu na terra nos últimos anos e não acertou o cocuruto de ninguém. Dessa vez o artefato foi russo e a queda foi provocada por barbeiragem ou falha de rojão, já que a engenhoca deveria chegar à Marte. Nos próximos meses e anos mais lixo espacial cairá em nossa pobre atmosfera e vai chegar a hora em que alguns desses descartes irá se chocar contra alguma região povoada. Daí a questão começará a ser levada mais a sério.


Bolha Imobiliária – Muita gente que eu respeito continua dizendo que no Brasil não há e não houve bolha imobiliária, apesar dos preços dos imóveis terem subido absurdamente nos últimos anos. Seria, segundo eles, ajuste de mercado às novas condições de financiamento da casa própria, valorizando a construção civil de forma estrutural. Sempre achei isso besteira. Todo o preço (a não ser de raridades) que sobe demais, um dia tem que cair. E isso vai acontecer. De acordo com o Secovi de São Paulo, as vendas de imóveis de 2011 cairam 20,8% (janeiro a novembro). Recomendo, então, para quem quiser comprar casa nova, que espere mais um pouco. Daqui a pouco os imóveis deverão ficar mais baratos.

A César o que é de César - ... a Deus o que é de Deus. Essa é uma das mais famosas e sábias frases proferidas por Jesus Cristo. Ele, falando isso, deixava claro que religião não deve se misturar com os assuntos de Estado. Ou seja, a teocracia deve ser evitada. Concordo plenamente com isso e me indigna as intenções dos diversos cleros em aumentar seu poder político tentando impor práticas religiosas à sociedade pela via legal. Nesse ponto tirei o chapéu para o Lula ao afirmar - quando ele respondeu às investidas do Papa Bento XVI -  que o Estado brasileiro é laico. Mas em Ilhéus, na Bahia, a Câmara dos Vereadores simplesmente aprovou Lei que obriga aos alunos de todas as escolas municipais a rezarem o clássico Pai Nosso antes do início das aulas diárias. Sem tirar o mérito da citada oração (bem bonita, por sinal), tal prática, além de ser um atentado à liberdade individual é uma afronta à própria religião cristã. Entendendo ser uma oração a forma de conexão com o divino, rezar de forma obrigatória significa estar sendo “condenado” a tal comunhão. E admitindo a existência da consciência divina, será que Ele realmente quer ser adulado por um bando de puxa-sacos e medrosos? Sinceramente, não vejo sentido nisso.

Até Breve,

Eduardo Starosta

2 comentários:

  1. Qual a fonte dos dados do gráfico? Na imagem está ilegível.

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    1. A fonte primária dos dados é o Sistema ALICE/WEB do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Se você me enviar seu e-mail, posso transmitir a memória de cálculo e o gráfico original em excel. Os recursos do blog realmente não são os mais adequados para detalhamento gráfico.
      Sds,

      Eduardo Starosta

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