Não há período do ano mais aborrecido do que o marasmo de
janeiro. Simplesmente as coisas param de acontecer, como se o mundo tirasse uma
folga e parasse de girar por algumas semanas.
No garimpo de assuntos, os maiores destaques da
internet são a discussão a respeito de valer ou não valer a pena financiar o
IPVA e o IPTU e o que o goleiro Marcos do Palmeiras vai fazer agora que se
aposentou dos gramados: vai vender carros ou criar vacas?
Entretanto, há um aspecto interessante nesse período de férias. As situações que normalmente não tem destaque, ou que durante
o resto do ano freqüentam a “Banda B” do interesse nacional, aproveitam a folga dos tradicionais oligopolizadores de atenção e tratam lutar para aparecer na mídia.
Por
exemplo, em São Paulo – coração econômico, financeiro, culinário e da diversidade
humana do Brasil – o assunto mais badalado nessa semana se restringiu a um lote
de 232 casas entregues em Ribeirão Preto para ex-moradores de favela com algumas
unidades padecendo de infiltrações, vazamento de esgoto e outros problemas
técnicos de construção.
Sabe-se que o governador Alckmin andou meio estressado
com seus colaboradores mais próximos no final do ano e distribuiu pitos pelo
secretariado. A situação em questão tem o poder de provocar mais um ou dois
xingamentos do chefe do executivo paulista.
Mas qualquer coisa vale contra o
marasmo de janeiro...
Nessa mesma dinâmica, os principais líderes da América
do Sul entraram em férias e com isso o câncer dos presidentes cedeu espaço na
mídia para a vesícula do vice. Sim, o nosso líder folguista, Michel Temer, fez cirurgia para
tirar suas pedras.
E lembrando do segundo Chefe da Nação, onde estará sua
belíssima esposa? A corte de Brasília está sentido a falta dela há alguns
meses, o que pode estar ligado aos ciúmes de Temer.
Nada a questionar, já que
em questões de marido e mulher não se deve meter a colher. Mas se é admissível
que um homem público preserve a esposa da mídia, é hediondo que ele não libere a
cunhada para a torcida brasileira.
A irmãzinha da Marcela Temer (Fernanda Tedeschi),
dizem, puxou os dotes da beleza familiar e estava disposta a se mostrar para o
povo na Playboy. Nada feito! Para os interessados, o portal da Globo
nos premiou com uma amostra grátis da gata. Clique aqui para ver.
Pessoalmente penso que tal veto vice-presidencial é
irritante, caso para levante popular.
Mas o marasmo de janeiro deixa praticamente tudo passar...
Falando
em irritação, desde 2006 decidi preferencialmente viajar de carro ao invés de avião.
Afinal de contas, desde o primeiro colapso aéreo iniciado em outubro daquele
ano, pouco de consistente foi feito para melhorar a eficácia dos aeroportos
brasileiros.
Os mais animados imaginam que a situação vá ser solucionada em função das
obras de preparação da Copa do Mundo em 2014. Mas quem está mesmo levando
vantagem nos prognósticos são os apostadores na ineficácia.
Agora, em janeiro, a Infraero fechou suas contas de
2011 e calculou que cerca de R$ 1 bilhão foram perdidos do orçamento do ano
passado em função dos atrasos de projetos para a reforma dos aeroportos.
Quer
viajar por esses dias? Prepare-se para ficar provavelmente horas e horas
literalmente “morgando” em algum terminal de embarque sem ar-condicionado e
poucas poltronas para sentar na longa espera pelo vôo.
Dica: nessas horas, uma
boa cadeira de praia e um livro fazem a diferença.
Afinal, estamos no marasmo de janeiro...
Em
termos da economia – tema denso e chato na opinião da maioria – os assuntos de
destaque costumam ser ainda mais densos e chatos em janeiro.
A balança comercial
brasileira está prestes a ser fechada e mostra um dado importante. Pasmem: a participação
das matérias-primas na exportação nacional subiu de 59% em 2010 para 62% em
2011.
O quer isso quer dizer? Simplesmente que o Brasil está
cada vez vendendo mais grãos e metais para os outros países, enquanto os
produtos da indústria vão ficando para trás.
Nada contra vender matérias
primas, mas a situação em questão significa que o nosso país está perdendo
qualidade na exportação, o que acaba sendo um fator de empobrecimento urbano e inibição
do emprego industrial.
Depois do carnaval, quando o Brasil realmente voltar a
funcionar, isso vai provocar sérias encrencas.
Por enquanto, estamos no
marasmo de janeiro...
Mas
apesar do marasmo, janeiro simboliza o marco de renovação, de começar coisas
novas ou reiniciar com mais intensidade o que estava meio parado. E nesse
sentido, o governo federal já está dizendo que quer aumentar seus investimentos
em 2012.
A encrenca é a seguinte: O Brasil está entrando o ano em clima de recessão
e isso não é bom para o governo, especialmente em função das eleições municipais
de outubro próximo. Para dar uma reavivada na economia existe uma receita
clássica: aumentar investimentos.
O galho é que se a Patroa mandar fazer isso,
as metas de pagamentos de juros da dívida federal deverão ficar comprometidas.
Para não complicar: os buro e tecnocratas do governo que
não estão de férias devem estar aproveitando a ausência dos chefes e ensaiando
as primeiras brigas de cortes e reforços orçamentários a serem decididos pela
Presidente no início de fevereiro.
O barulho que será feito em janeiro sobre o
assunto não será muito ouvido.
A época é de marasmo...
Para esquentar um pouco as coisas, nada
como dar uma olhada na China, onde o Ano Novo acontece em outra época. Por lá a
grande novidade é o governo estar ordenando que as emissoras de TV eliminem 2/3
do tempo utilizado em programas de entretenimento. O
argumento para tal ordem é evitar maiores influências ocidentais.
Pensando
nisso e lembrando de Cuba e Coréia do Norte, que os esquerdistas de carteirinha
do mundo me perdoem, mas que raio de socialismo é esse em que se trabalha mais,
se ganha menos e se diverte muito menos?
O capitalismo selvagem me parece muito
mais divertido e menos monótono.
Pena
que essa provocação não encontrará muitos provocados dispostos a reagir. Afinal,
estamos no marasmo de janeiro.
Agora a última!
Para nós, os inconformados
com o marasmo de janeiro, há uma solução.
Vamos seguir o exemplo do google.
Imagina que a empresa de buscas na internet resolveu
se auto-punir por práticas desleais com ela mesma.
Deu para entender? Provavelmente não! Mas a encrenca
foi mais ou mesmo assim: o Chrome (é o Explorer da Google) resolver dar uma
gorjeta legal para alguns blogueiros que citassem o navegador em suas
mensagens. Com isso o Chrome melhorou sua posição nos rankings de procura do
google, o que não pode acontecer segundo as diretrizes da empresa.
Moral da história, se você não tem com quem brigar,
faça como a Google e brigue com você mesmo.
Se ainda está difícil de entender,
melhor é tirar uma soneca, pois estamos no marasmo de janeiro.
Até breve (em períodos menos sonolentos)!
Eduardo Starosta
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