Pessoalmente considero Dilma Rousseff uma pessoa de
qualidades muito melhores do que seu antecessor na presidência da república.
Entretanto, é inegável que Lula tornou-se um mestre
quase insuperável na malandragem e jogo de cintura da política brasileira. E é
exatamente isso que está faltando no momento para a nossa Patroa.
O contexto em questão é mais ou menos o seguinte: o
governo atual foi construído a partir de uma divisão de poder baseado no rateio
de cargos públicos (incluindo estatais) de primeiro, segundo e terceiro escalão.
Sem maiores delongas, nessa questão os projetos de governo pouco importam. O
que está em jogo é o acesso ao poder, aos cargos e aos recursos que isso
proporciona.
E olha que não estamos falando de simples
aproveitadores. Se puxarmos pela memória, constataremos que um bom percentual
dos que freqüentam a elite do poder gozam desse status desde os tempos da
ditadura militar (o principal “inimigo” a ser combatido quando da fundação do
PT).
E ao velho fisiologismo que acabou não sendo derrubado, se juntou o novo
fisiologismo.
A coisa funcionou mais ou menos assim: imagina que o
teu pai tenha comprado uma grande loja. Só que como obrigação contratual ele tenha sido obrigado a manter empregados os parentes do dono anterior do estabelecimento,
os quais se especializaram em dar um jeito de malandramente se apropriar dos
recursos gerados pela empresa. No início você reclama, protesta, mas não adianta
nada. Os “colegas” devem ser tolerados. É natural nesses casos que – sem sucesso
em moralizar – os membros da nova família no poder da empresa queiram ir à
desforra e pegar seu próprio quinhão do butim.
Foi essa a herança recebida pela Presidente Dilma
Rousseff: duas grandes corporações fortíssimas (e outras mais fraquinhas) parasitando o poder, voltadas quase que
exclusivamente a sua própria sustentação de status, sem que isso seja sinônimo de
priorizar políticas publicas efetivas... muito antes pelo contrário!
E com tanta sanguessuga na volta, realmente fica
difícil tocar um governo de maneira competente. O custo financeiro é muito
alto. Além disso, as dificuldades organizacionais tornam-se praticamente
intransponível para se fazer um trabalho sério de gestão dos recursos públicos.
Nessa ótica, acredito que a Patroa até gostava das
denúncias da Veja e Folha de São Paulo, uma vez que assim ela tinha argumento
para decapitar alguns pequenos tumores de fisiologia. Mas só isso não é o
suficiente para arejar e viabilizar a administração federal.
Nos últimos tempos, Dilma aparentemente resolveu
mostrar desprezo e complicar a vida dos fisiologistas mais distantes. E fez
isso sem medir adequadamente as conseqüências práticas de seu ato.
O PR saiu da base do governo, disposto a fazer oposição “até voltar a ser
respeitado pela presidente”, segundo o senador Blairo Maggi. O PMDB também está
estrilando e boicotando os projetos do executivo do Congresso.
Em outras palavras, até que os “aliados” não tenham
seu prestígio e “direitos políticos” resgatados, o governo deixará de ter a
maioria no Congresso. E sem maioria no Legislativo, simplesmente o Brasil de
hoje fica ingovernável.
Por
conta disso, um assunto de pouco interesse para a sociedade brasileira, como a permissão
extraordinária para se beber nos estádios no âmbito da Lei da Copa (deveria ser
Lei da Manguaça), acabou sendo a oportunidade para os governistas descontentes mostrarem
o quanto eles podem fazer falta para a governabilidade do país. Nessa dança
também entra a convocação de dois ministros para depor no Congresso: Miriam Belchior (Planejamento) para se
explicar sobre concursos públicos; e Guido Mantega (Fazenda) que deverá prestar
contas a respeito de problemas identificados na Casa da Moeda e Banco do
Brasil.
Dilma não parece ter muita saída. As lideranças de seu partido, o PT, teriam ataques neurastêmicos só com a idéia de recompor a base de apoio,
atraindo para o governo o PPS e PSDB, com os quais até tem maior identidade
programática. Mas as torcidas são incompatíveis!
Então, até as próximas eleições, a patroa vai ter que
engolir em seco os sapos que a fazem engasgar. Mas e se eles não quiserem mais
voltar? Aí ela vai estar realmente em um mato sem cachorro.
Veja só: as eleições municipais estão se aproximando
ao mesmo passo em que o Brasil vai entrando em uma desaceleração econômica que
pode nos levar à recessão. E com as notas vermelhas no boletim da economia, é
mais fácil ganhar votos falando mau do governo do que bem.
A Patroa já mostra sinais claros de início de
desespero. Chamou 27 grandes empresários do país para pedir que eles altruisticamente invistam
com o intuito de conter a recessão. Isso demonstra fraqueza da presidente e um
pouco de ingenuidade.
Por mais amigos que sejam, os 27 maiores empresários
do Brasil são os 27 maiores empresários do Brasil por investirem em negócios rentáveis.
E numa perspectiva recessiva, tais nababos não atenderiam quaisquer pedidos de aplicar
dinheiro bom e um ambiente econômico ruim. Se o BNDES apoiar generosamente,
talvez tal disposição seja flexibilizada... Mas não parece que Dilma esteja
contando muito com isso, esquecendo a regra mais sagrada da economia: NÃO EXISTE ALMOÇO
GRÁTIS!
O tempo da Presidente para recuperar o controle das
rédeas do poder é curto. As próximas semanas serão decisivas e, pelo menos por
enquanto, o cenário político é de grandes incertezas, com evidentes riscos à
própria governabilidade.
Até Breve
Eduardo Starosta
Nenhum comentário:
Postar um comentário