quinta-feira, 9 de abril de 2015

Dinheiro x Qualidade na Educação

Não sei como funciona em outras ciências, mas em economia, ao elaborarmos uma tese ou pensamento, devemos obrigatoriamente olhar para o mundo real para ver se a ideia é condizente com o que efetivamente acontece. Caso não haja conexão, tudo não passa de um devaneio.

A partir desse modo um tanto quanto cético de encarar as informações abstratas, pareceu bastante estranha a comemorada notícia veiculada nessa semana de que o Brasil seria um dos países com maior participação dos gastos com educação em relação ao PIB.

De acordo com matéria veiculada na Folha de São Paulo, o investimento público na área educacional corresponde a 6,6% do Produto Interno Bruto do País. Isso significa algo em torno de R$ 360 bilhões por ano, ou cerca de R$ 6.200,00 por aluno. Sem dúvida estamos diante de um orçamento respeitável. E em tempos de turbulência política e econômica, esse dado foi festejado pelo governo federal como uma grande vitória em termos de eficiência de gestão.

Mas lembremos que gastar dinheiro é uma das coisas mais fáceis do mundo. Já para gastar bem, o grau de dificuldade aumenta consideravelmente, exigindo ao menos um razoável nível de competência.

E esse lado da questão não tardou a jogar um balde de água fria na festinha do Planalto.

Lá na virada do milênio, em 2000, a UNESCO lançou uma agenda com 6 objetivos educacionais para serem alcançados por 164 países até 2015. O Brasil, com seu comemorado orçamento para a educação conseguiu cumprir apenas 2 itens da meta: universalização da educação primária (1º ao 5º ano); e igualdade de participação masculina e feminina em sala de aula.

Fazer isso significa literalmente mandar a molecada para a escola. Deve-se delegar boa parte do sucesso dessa meta ao criador do Bolsa-Escola, o senador brasiliense, Cristovam Buarque, quando ainda governava o Distrito Federal. Depois esse programa acabou descambando para o Bolsa-Família.

Mas e com relação às outras 4 metas da UNESCO? Levamos bomba em todas: as pré-escolas não evoluíram como deveriam (para crianças de 0 a 5 anos); os níveis de conclusão do ensino médio estão bem abaixo do desejável; o percentual de adultos analfabetos continua elevado; e finalmente, não houve o progresso mínimo necessário na qualidade da educação.

Nem vamos mexer agora na questão do sucateamento das universidades federais (fora da agenda da UNESCO).

O fato é que o poder público federal teve 15 anos para cumprir metas não tão ambiciosas, especialmente pelo volume de orçamento dedicado à educação.

Lembra-se que o desenvolvimento verdadeiro de qualquer país está intimamente ligado à produtividade do seu povo. Por sua vez a produtividade, nada mais é do que conhecimento aplicado ao dia a dia do trabalho.

A conclusão de tudo isso é simples: as autoridades educacionais brasileiras têm o dinheiro para fazer um bom trabalho; só que uma estrutura burocrática paquidérmica e cheia de vieses ideológicos acaba impedindo a concretização de resultados minimamente razoáveis.

Boa sorte ao novo ministro da educação, Renato Janine Ribeiro.

Eduardo Starosta

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