segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Inflação e Dólar: Deixa Rolar!

Quem, de vez em quando, não pega uma revista ou navega em um site de fofocas para ver o que está acontecendo de engraçado com as pessoas que gostam de aparecer na qualidade de celebridades? Dia desses me chamou atenção o destaque para a ex-miss Brasil Vera Fischer.

Já tem alguns meses que a loira está internada em uma clínica para recuperação de drogados no Rio de Janeiro. A curiosidade do fato  é que ela, segundo os médicos, já poderia ter alta, mas optou por permanecer hospedada no estabelecimento, temendo ter recaída na sua volta ao convívio social do dia-a-dia da vida.
Tal comportamento pode estar revelando uma boa dose de sabedoria da paciente. É muito mais fácil não ter a tentação de voltar às drogas em ambiente controlado, onde o acesso ao objeto de vício é, em tese, impossível. Entretanto, caso essa decisão de permanecer protegida dentro dos muros da clínica se prolongue por muito tempo, Vera Fischer pode correr o risco de adquirir um medo fóbico do próprio mundo e optar pela clausura permanente, o que seria uma pena.

Com essa reflexão na mente, continuei a buscar notícias interessantes na Internet. E a principal manchete do meio da manhã da última quinta feira foi a do dólar rompendo a barreira do R$1,95, o que provocou a intervenção do Banco Central no sentido de conter a desvalorização da moeda brasileira. O argumento das autoridades econômicas para justificar essa ação foi o de não alimentar a inflação e evitar graves problemas de caixa para as empresas brasileiras muito endividadas em moeda estrangeira.
O problema é que há controvérsias a respeito da correção de tais medidas. Para entender o raciocínio, precisamos investigar um pouco o passado recente da economia brasileira.

Há cerca de 17 anos, o então ministro da fazenda do governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, resolveu capitanear a estratégia de estabilização desenvolvida em conjunto por pessoas geniais, como Pérsio Arida e André Lara Resende.

Naquela época o Brasil já acumulava várias derrotas sucessivas na guerra contra a hiperinflação. A partir do Plano Cruzado, não foram poucas as iniciativas de congelamento de preços e salários, ou até aventuras mais ousadas, como o confisco do Plano Collor. A principal falha  daqueles fracassados planos de estabilização é que eles se contentavam em tratar apenas dos sintomas aparentes do problema.

Imagina se você está com problemas digestivos e vai comer aquela feijoada completa e bem gordurosa no sábado, acompanhada de algumas caipirinhas, torresmo e cerveja. Não seria de estranhar que depois da soneca digestiva, o despertar fosse acompanhado daquela SENHORA DOR DE CABEÇA. Nada que algumas aspirinas não resolvam momentaneamente, apesar de continuar o mal-estar. E no próximo sábado, dá-lhe feijoada novamente, recomeçando o ciclo até que o fígado vai para o beleléu...


Até o plano Real, o combate à inflação acontecia de forma similar: anestesiavam a dor de cabeça dos governantes (os índices de inflação) sem tratar das causas.

E nesse ponto foi que Arida e Resende acertaram a mão: reconheceram que além da chamada memória inflacionária (termo em moda naquela época), a inflação era especialmente causada pelo excesso de gastos públicos, em patamares muito além da receita tributária.

Voltando à analogia com o vício em drogas contra o qual Vera Fischer está tentando vencer, podemos comparar a “memória inflacionária” com a parte psicológica do vício, ou seja: a sensação eufórica ou alucinógena  causada pelo uso do tóxico que proporciona a “chapação”. Mas por trás disso há o vício químico, no qual o corpo passa a entender que necessita da droga para continuar vivendo e sofre com sua abstinência. Esse papel, na história econômica brasileira coube ao déficit público.

Feito o diagnostico, os chefões da economia daquela época trataram de ministrar os medicamentos para conter o efeito psicológico. Para evitar a especulação de preços internos atrelaram o Real (a nova moeda) ao Dólar, ao mesmo tempo em que botaram os juros na estratosfera. Paralelamente, desenvolveram e implantaram a Lei de Responsabilidade Fiscal para combater o vício químico (déficit público exagerado).

O certo é que a receita funcionou, mas com efeitos colaterais  previstos,  tidos como temporários. O primeiro foram os já citados juros altos que, ao mesmo tempo em que incentivavam a poupança interna, atraiam investidores do mundo inteiro na busca por rentabilidade alta e fácil (isso  também foi refletido na Bolsa de Valores).

Esse mesmo fator até ajudou o controle do dólar (vinculado inicialmente ao sistema de bandas cambiais), fazendo com que o real se valorizasse além do razoável, barateando os produtos importados (agrícolas e industriais), ao ponto de estrangular o setor produtivo brasileiro (especialmente a indústria).

Como não poderia deixar de ser, o que deveria – no papel – funcionar como um relógio teve seus momentos de confusão. Crises internacionais, como a russa, mexicana, argentina e o famoso 11 de setembro de 2001 provocaram verdadeiros ataques de epilepsia nas variáveis de maior zelo por parte das autoridades econômicas brasileiras (repetindo: câmbio, investimentos internacionais e juros para controlar a inflação).

Mas no final das contas, o plano de estabilização deu certo. Porém, até hoje somo forçado a conviver com um câmbio supervalorizado e os juros mais altos do mundo.

Ok, perto do vício de antes, a situação atual é bem mais branda. Seria trocar uma heroína, ou cocaína por alguma coisa mais leve e natural para fins terapêuticos de transição, como a maconha, por exemplo.

O problema é que o tratamento em questão já dura 17 anos e a economia brasileira nunca se aventurou a provar sua sustentabilidade sem o uso de drogas.

Vera Fischer decidiu ficar alguns meses há mais na clinica para evitar o convívio com o ambiente que lhe causou o vício e aumentar suas chances de cura. Mas imagina se ela resolvesse ficar dentro dos muros do hospital por aproximadamente duas décadas. Seria o mesmo que renunciar à vida; viver permanentemente de forma artificial e, portanto, nunca plena.

Esse é exatamente o caso da economia brasileira. O medo da não cura vem perpetuando o país em um tratamento que já virou novo vício. Por conta dos juros altos, o Brasil cresceu muito menos do que poderia (apesar dos dados positivos do final da década passada, alavancados por um contexto internacional favorável) e o cambio supervalorizado detonou com várias frentes da competitividade industrial do país.

Feita essa retrospectiva inspirada na belezoca da Vera Fischer, vamos dar uma olhada panorâmica do que está acontecendo hoje com a economia brasileira:

·         O Real está se desvalorizando de forma inesperada por conta das últimas turbulências internacionais, seguindo a velha máxima na qual se a economia norte-americana tem problemas, paradoxalmente, são os ativos dos EUA que se tornam os mais seguros. Daí, o dinheiro aplicado em títulos do Brasil e na Bolsa vai às pencas para a América do Norte, fazendo a paridade do Real despencar;

·         Em função de frustrações de safras, alta das commodities internacionais e outras milongas mais, a inflação está irremediavelmente extrapolando as metas estabelecidas para 2011;

·         O Brasil está assistindo a uma intensa desaceleração de sua economia. A indústria está entrando em recessão, o consumo vem arrefecendo, a inadimplência aumentando e por aí afora;

·         No ano passado, talvez por conta das eleições, o governo federal enfiou o pé na jaca no que se refere ao aumento dos gastos públicos. Isso está pesando na gestão dessa primeira fase da gestão de Dilma Rousseff, que tenta gastar menos com o corte de orçamento e caça aos sanguessugas de ministérios (reagindo às investigações e denúncias da imprensa, é verdade).

Enfim, o quadro mostra que o muro que protege a economia brasileira de testar a sua verdadeira cura está ruindo. É certo que a situação não está tão grave ao ponto de impedir medidas de reforço à proteção dos fundamentos econômicos atuais.

Mas será que isso realmente vale a pena? Será que não é chegada a hora de testar se o Brasil está finalmente curado da hiperinflação? Ou seria mais prudente continuar do jeito que está?

Se houvesse uma enquete nesse sentido, pessoalmente eu optaria pelo risco da cura. Tenho a consciência de que isso aumentaria temporariamente a inflação e quebraria algumas empresas importantes dado o seu grande endividamento em moeda estrangeira. Mas isso faz parte do jogo. E o melhor para qualquer sociedade é trabalhar curada, mesmo que isso envolva alguns perigos (facilmente controláveis).

Lá em 2003, quando Luis Inácio da Silva assumiu a presidência, pensei que ele e seus aliados estariam ansiosos por promover a libertação da economia brasileira de seus muros de contenção, eliminando a âncora cambial, promovendo a redução efetiva dos juros.

Mas como se diz popularmente, campanha é uma coisa; governar é outra.

Aparentemente, as novas autoridades econômicas da época (Palocci & Cia) se acovardaram em implantar uma nova condução à política econômica do país, quando isso já se fazia necessário. A situação foi muito bem retratada pelo humorístico Casseta & Planeta (Rede Globo) que dramatizava os membros da equipe de governo consultando os arquivos e manuais do ex-ministro Pedro Malan para saber o que fazer com a economia.


O medo era fazer alguma coisa que desse errado e matasse o Plano Real, eliminando chances de reeleição. No final, a receita original de Pérsio Arida e André Lara Resende foi mantida. O que era para ser transitório, acabou se perpetuando até os dias atuais.

Nesse segundo semestre de 2011 o mundo está em um momento muito especial no qual a credibilidade dos principais atores da economia global está em baixa e eles próprios não estão dando muita bola para isso. O importante é resolver a crise, mesmo que isso custe a coerência dos discursos ideológicos e morais (isso se recupera depois...).

Sendo assim, se o dólar já está mesmo fora de controle e a inflação extrapolou a meta, talvez tenha chegado o oportuno momento de o Brasil se libertar das âncoras que evitam que cresçamos, senão como a China, pelo como em parâmetros similares à Índia.

Sim, soltando o dólar e reduzindo juros, os preços vão subir – em um momento inicial – mais do que o considerado razoável. Mas além de diminuir a dívida pública (o chamado imposto inflacionário) teremos a chance de saber se o Brasil está curado ou não da hiperinflação.  

Se a resposta for positiva, o país estará pronto para o maior ciclo de desenvolvimento da sua história (com a melhoria da competitividade dos produtos brasileiros no exterior. Pena que o uísque escocês e o azeite de oliva espanhol vão ficar mais caros).

Caso contrário, basta restabelecer as âncoras e pagar o preço político da ousadia, que provavelmente já estará absorvido até as próximas eleições para presidente e governador, em 2014.

Em tempo, caso essa for a opção, é bom nos prepararmos para jogar tomate podre na cara de quem propor o retorno da velha indexação de preços e salários. Isso mataria qualquer chance de cura real da economia brasileira.

Por fim, meus votos de que Vera Fischer se recupere plenamente, saia da clínica e volte a conviver livremente com a vida.  



Nova Chuva Espacial – E o satélite da NASA caiu precisamente entre o mar e o Canadá no último final de semana. Provavelmente o monstrengo não machucou ninguém, mas isso ainda não está comprovado.

Então, está restabelecida a normalidade em nossa órbita?

Nada disso! Foi divulgado hoje que no final de outubro ou início de novembro será a vez de cair um satélite alemão (telescópio espacial), pesando também algumas toneladas. Só que o artefato germânico é bem mais resistente que o norte-americano, não devendo se desfazer na reentrada.

Será que tem mais engenhocas em órbita que estão perdendo o prazo de validade e se preparando para retornar à mãe-terra? Provavelmente sim. Daqui a pouco, a previsão do tempo nos tele-jornais vai ter que mostrar diariamente as perspectivas de chuva de lixo espacial...



O Político Mais Feio do Brasil – Nosso concurso de feiúra continua. Na semana passada e último final de semana o Deputado Tiririca e o Senador José Ribamar Sarney se desgarraram dos concorrente e disputam cabeça a cabeça o título mais importante da política brasileira em 2011. A votação continua aberta, bem como a inscrição de novos candidatos.
Envie seu voto por e-mail, clicando ao lado CLIQUE AQUI! .  Fotos de sugestão são bem-vindas, como foi a do ex-presidente Lula.
Caso você queira ficar no anonimato, envie sua opinião ao final dessa postagem no link de comentários, sem se identificar.


Até Breve,

Eduardo Starosta





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