Muitos conhecidos acham
que gasto tempo demais procurando cabelo em ovo. E quando encontro alguma
evidência de que o senso comum está errado, esses críticos próximos raramente
dão o braço a torcer: preferem argumentar que foi por pura sorte que minha
linha de raciocínio acertou o alvo, ou que eles próprios já sabiam de tudo
aquilo.
Mas sou teimoso e
continuo na minha garimpagem dos cabelos em ovo. O mais importante não é o
reconhecimento pessoal, mas sim o prazer de provar que o pensamento consensual
nunca passa de uma grande burrice, como já dizia Nelson Rodrigues.
E agora vou atacar de
novo. A vítima são as exportações brasileiras.
De acordo com os dados oficiais,
as vendas internacionais do Brasil vão de vento em popa, fechando, em 2011, com
o recorde de US$ 256 bilhões, crescendo, então, 26,8% em relação ao ano
anterior. Esse é um número - em princípio - bem expressivo e positivo,
especialmente considerando a insistência da Europa e EUA de continuarem em
crise.
Mas por trás desses montantes fantásticos, existe uma realidade em formação muito preocupante e que
poderá significar a regressão do potencial econômico brasileiro em multiplicar
sua riqueza de forma ágil no futuro.
O pressuposto é simples e
bem conhecido: enriquece quem produz (e exporta!) produtos e serviços de maior
complexidade e conseqüente maior valor agregado.
Nós, no Brasil, estávamos
caminhando nesse sentido até o final da década de 90, quando 28% das
exportações nacionais eram de produtos provenientes da indústria metal-mecânica
(inclui automóveis, comunicações, informática, etc).
Entretanto, ao entrar no
terceiro milênio “forças mágicas” fizeram com que o país rejuvenescesse em
termos econômicos. Isso é bom? Que nada! É uma porcaria!
Simplesmente, a partir do
século XXI a participação dos produtos industriais no valor exportado pelo
Brasil caiu de forma acintosa.
A ilustração a seguir
mostra isso. Em 2011, aquela importante participação do setor metal-mecânico
caiu para modestos 15,3% , enquanto os produtos da base alimentar pularam de
23,5% para 31,10% e os da extração metálica evoluíram de 7,49% para
respeitáveis 28%.
Em poucas palavras, isso
quer dizer que o Brasil está retornando aos tempos coloniais onde daqui se
tirava ouro, cana-de-açúcar, café e algodão. A diferença é que agora estamos
falando de ferro, soja, frango e gado.
Por favor, não se deve ter nada contra
os empresários dos citados setores, que foram competentes em aproveitar as
oportunidades do comércio internacional.
Veja bem, a não ser pelos
minerais e alimentos, todos os demais segmentos exportadores vêm perdendo
espaço na pauta de internacionalização brasileira. E isso não se refere somente
a exportação. Na medida em que uma indústria perde competitividade
internacional, isso forçosamente quer dizer que cedo ou tarde ela irá se dar
mal no mercado interno também.
O problema sério mesmo é
o fato de termos perdido muito rapidamente competitividade na indústria de
transformação, que continua sendo o principal meio de se construir um país
dinâmico, com empregabilidade e rico.
Como exemplo podemos
citar os outrora poderosos calçadistas, que
perderam os mercados (inclusive parte do interno) para a China. Os
carros, vinhos, roupas e equipamentos eletrônicos importados que invadem as
lojas do Brasil também são o claro sinal de que o país está com problemas de
preço e/ou qualidade nos seus produtos.
Não querendo puxar ou
empurrar a brasa para qualquer lado, imagino que a culpa da situação seja do
McDonalds.
Além de fazerem
sanduiches bem sem graça (a batata frita é boa!), a rede simbolizada pelo
palhaço assustador espalhou mundo afora um hambúrguer chamado de Big Mac que,
apesar de ser um produto global tem, obrigatoriamente, seus ingredientes
adquiridos no mercado interno de cada país.
Dessa forma, o preço
final do produto (considerando uma margem de lucro igual em todas as
lanchonetes da rede) praticado nos países acaba revelando onde a moeda tem
maior ou menor poder de compra. O cálculo é feito há vários anos pela revista
The Economist.
Por exemplo, nos EUA o
Big Mac custa US$ 4,20, enquanto no Brasil a iguaria é vendida por US$ 5,68.
Trocando em miúdos isto quer dizer que a moeda brasileira está sobrevalorizada
em 32% em relação ao dólar (querendo ou não, a principal referência monetária do
mundo) e para se equiparar ao dinheiro norte-americano deveria estar cotado a R$
2,44, ao invés dos R$ 1,80 atuais.
Ainda mais: o Big Mac é
vendido em 44 países e o Brasil o comercializa pelo 4º valor mais caro do
mundo, sendo superado apenas pela Suíça, Noruega e Suécia.
Essa realidade, a não ser
por algumas exceções, se aplica a maioria dos demais produtos brasileiros. Ou
seja, a cotação do Real faz com que quase tudo produzido por aqui seja mais
caro do que no resto do mundo, o que acaba prejudicando a maior parte dos
exportadores.
A solução é simplesmente fazer como China e Índia e desvalorizar a moeda brasileira, pelo menos a patamares mais justos. O problema é que isso
entraria em conflito com a necessidade do governo de pegar dinheiro no exterior
para financiar a dívida interna. Eles só conseguem trazer tanto investimento
para cá porque temos a taxa de juros mais alta do mundo (isso que a SELIC caiu
para 10,5% ao ano).
Daí vem a velha ladainha: diminuir os juros é fundamental
para reduzir a defasagem cambial e de quebra acaba beneficiando o consumo e
investimento na produção. Mas por outro lado, obriga o Estado a gastar menos, o
que é sempre um pesadelo para a classe política.
Mas será que é essa a
conta que a sociedade quer fazer? Ajustando o real ao seu valor de equilíbrio
(algo em torno de R$ 2,44 por dólar), além de os exportadores atuais (do
agronegócio e extração mineral) ganharem mais dinheiro, isso faria com que
outros setores – especialmente da indústria – se tornassem mais competitivos e
começassem (ou voltassem) a exportar também.
De quebra, teríamos um intenso efeito em de geração em emprego em toda a cadeia de fornecimento das fábricas, o que
seria muito bom para o Brasil. Mesmo que os dados do IBGE mostrem que o
desemprego está em baixa (na verdade, o desemprego mede apenas quem não tem
trabalho e está procurando emprego), ao ativar a produção industrial interna,
os salários totais da economia tendem a
subir. Parece ser um bom negócio, não?
Chuva Espacial - Mais um satélite caiu na terra nos últimos
anos e não acertou o cocuruto de ninguém. Dessa vez o artefato foi russo e a
queda foi provocada por barbeiragem ou falha de rojão, já que a engenhoca
deveria chegar à Marte. Nos próximos meses e anos mais lixo espacial cairá em
nossa pobre atmosfera e vai chegar a hora em que alguns desses descartes irá se
chocar contra alguma região povoada. Daí a questão começará a ser levada mais a
sério.
Bolha Imobiliária – Muita gente que eu
respeito continua dizendo que no Brasil não há e não houve bolha imobiliária,
apesar dos preços dos imóveis terem subido absurdamente nos últimos anos.
Seria, segundo eles, ajuste de mercado às novas condições de financiamento da
casa própria, valorizando a construção civil de forma estrutural. Sempre achei
isso besteira. Todo o preço (a não ser de raridades) que sobe demais, um dia
tem que cair. E isso vai acontecer. De acordo com o Secovi de São Paulo, as
vendas de imóveis de 2011 cairam 20,8% (janeiro a novembro). Recomendo, então,
para quem quiser comprar casa nova, que espere mais um pouco. Daqui a pouco os imóveis deverão ficar mais baratos.
A César o que é de César - ... a Deus o que é de
Deus. Essa é uma das mais famosas e sábias frases proferidas por Jesus Cristo. Ele,
falando isso, deixava claro que religião não deve se misturar com os assuntos
de Estado. Ou seja, a teocracia deve ser evitada. Concordo plenamente com isso
e me indigna as intenções dos diversos cleros em aumentar seu poder político
tentando impor práticas religiosas à sociedade pela via legal. Nesse ponto
tirei o chapéu para o Lula ao afirmar - quando ele respondeu às investidas do Papa Bento
XVI - que o Estado brasileiro é laico. Mas em Ilhéus, na Bahia, a Câmara dos
Vereadores simplesmente aprovou Lei que obriga aos alunos de todas as escolas
municipais a rezarem o clássico Pai Nosso antes do início das aulas diárias.
Sem tirar o mérito da citada oração (bem bonita, por sinal), tal prática, além
de ser um atentado à liberdade individual é uma afronta à própria religião cristã.
Entendendo ser uma oração a forma de conexão com o divino, rezar de forma
obrigatória significa estar sendo “condenado” a tal comunhão. E admitindo a existência
da consciência divina, será que Ele realmente quer ser adulado por um bando de
puxa-sacos e medrosos? Sinceramente, não vejo sentido nisso.
Até Breve,
Eduardo Starosta
Qual a fonte dos dados do gráfico? Na imagem está ilegível.
ResponderExcluirA fonte primária dos dados é o Sistema ALICE/WEB do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Se você me enviar seu e-mail, posso transmitir a memória de cálculo e o gráfico original em excel. Os recursos do blog realmente não são os mais adequados para detalhamento gráfico.
ExcluirSds,
Eduardo Starosta