A
maior parte das pessoas é acostumada a pensar e agir de forma inercial; como se
a realidade ao seu redor jamais mudasse. E quando muda, após uma breve fase de
adaptação, o comportamento de inércia
volta a predominar.
Essa constatação vale tanto para os contextos positivos como negativos da vida.
No
já distante 2008, em minhas palestras sobre cenários da economia,
insistentemente alertava a respeito da crise global que se aproximava a partir do
mercado imobiliário norte-americano. Tal antecipação não tinha nada de
espetacular. O norte-americano Paul Krugman havia previsto o fenômeno sete anos
antes. Mas o fato é que invariavelmente escapavam murmurinhos de deboche de
parte da platéia e os questionamentos sempre ficavam concentrados na opinião
generalizada de que o mundo global seria imune a novas crises.
Mesmo
no último trimestre de 2009, quando algumas das mais importantes instituições
financeiras do mundo haviam implodido, a descrença no que os fatos já mostravam
era predominante. Quando se falava em sérios problemas para os próximos três ou
quatro anos, os acomodados de plantão retrucavam que a marola não duraria mais
do que alguns poucos meses.
E o
tempo foi passando, os problemas financeiros do mundo se aprofundando, ao ponto
de os tempos polpudos de prosperidade se tornarem apenas pouco mais do que uma
vaga lembrança surreal de outrora.
O
resultado prático disso é que grande parte da humanidade parou de
acreditar na existência de um mundo próspero, se posicionando como se as
restrições da crise fossem algo endógeno à vida.
Esse
contexto fica cada vez mais evidente na Europa. As recentes turbulências
políticas na Grécia e Itália decorrentes dos problemas com as contas públicas
dos países começam agora a se tornarem mais evidentes também na Espanha.
Ao
mesmo tempo, a economia do continente deixa claros sinais de que 2012 também
será um ano de dificuldades. A questão é tão forte que o primo rico do Velho Mundo já admite a redução da Zona do Euro, liberando os países economicamente
mais frágeis e da União Européia das obrigações com moeda continental.
O
que transparece é a idéia de uma derrota sacramentada, restando apenas esperar
pelo desenrolar natural das desgraças que estão por vir: o esfacelamento da
União Européia; o recrudescimento dos conflitos regionais existentes até
primeira metade do século XX; o empobrecimento global e a conseqüente redução
do comércio internacional. Junto com isso, essas mentes inerciais apontam para
o determinismo dos desequilíbrios ambientais, a ascensão econômica e militar
dos chineses, além de outras coisas de dar medo e prostração.
Como
comentei no início deste texto, tal tipo de comportamento e mentalidade é
intrínseca à maioria que tende a encarar a vida de maneira inercial; como se
tudo fosse movido por um determinismo imutável. E se esse sentimento tem sua origem na Europa, a coisa é mais séria ainda. Afinal, além do próprio Velho Mundo, nós americanos, os que habitam a Oceania, parte da África e Ásia somos herdeiros daquela cultura milenar que ainda exerce notável influência sobre o nosso comportamento e maneira de pensar.
Ora,
racionalmente, a maior parte dos indivíduos se recusa a admitir a si próprio
como um mero componente de um rebanho na irracional caminhada rumo ao abismo.
Mas socialmente essa analogia ao comportamento tribal é bem adequada.
Em
resumo, não apenas os europeus, mas vários povos de outros continentes
simplesmente deixaram de confiar nas suas instituições públicas e privadas como
capazes de solucionar a instabilidade financeira e a estagnação econômica que
vai tomando conta de crescentes áreas do planeta.
Não
pretendo ser mais um daqueles otimistas inveterados (uns chatos, por sinal).
Mas da mesma forma como antecipei o início da crise, posso afirmar
tranquilamente que o atual momento de vacas magras para o mundo não durará para
sempre.
A
história comprova - com exemplos de sobra - que a formação de riqueza da humanidade
ocorre através de ciclos, onde lógicas de produção e comercialização tem tempo limitado de vida ao fim dos quais se esgotam, dando espaço para o novo - após um período de prostração.
O
importante no atual momento é tentar imaginar o que será esse "Novo".
Tentando
encontrar ao menos parte dessa grande e complexa resposta, é aparentemente
óbvio que o sistema financeiro terá de passar por fortes transformações e
flexibilização em termos de ótica.
O
fato é que os países mais poderosos do mundo acabaram contraindo dívidas
públicas de difícil financiamento, especialmente em função da proteção de seu
sistema financeiro em 2008. A tolerância ao calote grego (gerado por outros
motivos) é a evidência de que a antiga dureza imposta pelos organismos
internacionais a América Latina está sendo bastante abrandada.
Após
algumas definições de fundamentais, tais como se a Europa irá ou não levar sua
União adiante (mesmo com recuos temporários), será necessário encontrar uma ou
algumas formas de lidar com questão do rombo financeiro.
Algumas alternativas
são:
* Sacrificar o euro, dólar e algumas outras
moedas fortes, através de um grande calote global. Essa alternativa, apesar
de não ser impossível, tem pouquíssimas chances de vingar. Sem pensar em juízo moral, a hipótese em questão traz como vantagem o instantâneo saneamento das dívidas dos países caloteiros (na moeda deles, é claro) e a possibilidade de
recomeço sem pendências do passado. A desvantagem é a natural falta de
confiabilidade dos novos padrões monetários que vierem a surgir, especialmente
provenientes do poder público. Afinal, como diz o velho ditado, "para trair e coçar, é só começar".
Ou seja, não haverá garantias de fato, impedindo novos calotes.
* Aceitar o socorro das reservas chinesas.
Essa possibilidade também é muito remota na medida em que isso significaria uma
grande virada de mesa na geopolítica mundial. O domínio financeiro e econômico
que o Atlântico Norte exerce sobre o mundo de hoje passaria para as mãos da Chiba, com óbvias
repercussões no campo militar e diplomático.
* Jogar o problema para o colo dos grandes
conglomerados empresariais. Essa é uma tese mais plausível, já sendo
modestamente discutida na França, onde os proprietários das maiores fortunas se dispuseram a pagar mais impostos para ajudar o governo. No caso, a lógica
seria transferir a ineficiência da dívida para quem consegue suportá-la melhor.
Isso pode ser feito tanto de forma análoga à proposta francesa, como a
transformação do endividamento em bônus para resgate no longuíssimo prazo a ser
oferecido às empresas mais sólidas de cada país que, em contrapartida, poderiam
ter algum tipo de benefício em contratos públicos.
Já
no âmbito das relações privadas desde que o ser humano começou a andar para
a frente, a busca pela longevidade, conforto e novidades tem pautado os
grandes movimentos do comércio mundial.
Houve um tempo em que a seda, a
pimenta-do-reino, o açúcar e outras especiarias eram as coisas mais desejadas e
por isso mesmo mobilizavam as maiores fortunas do mundo.
Hoje
é a vez dos tablets, viagras e turismo (analogia à informática, farmacêutica e
turismo mesmo). Mas existem outras frentes aparentemente promissoras para o
futuro na Internet, design, alimentação saudável, super-produtividade agrícola,
meio ambiente, robótica, desbravamento aeroespacial, energia, cultura, dentre milhares de alternativas.
Aparentemente,
o segredo de romper com a crise a partir da inventividade é ter a capacidade de
identificar o que as pessoas precisam, ou melhor ainda: o que as pessoas possam
vir a desejar.
Afinal, afora as questões mais básicas da vida, o desejo é o motor que move a necessidade de possuir e usufruir. E quem souber se
posicionar e manipular com esse misterioso universo encontrará a solução para a
sua própria crise econômica pessoal e, talvez, a do mundo.
O Político
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Até Breve
Eduardo
Starosta
cada vez melhor, senti uns pedacinhos escritos para mim,
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