quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tempo de Criar


A maior parte das pessoas é acostumada a pensar e agir de forma inercial; como se a realidade ao seu redor jamais mudasse. E quando muda, após uma breve fase de adaptação, o comportamento  de inércia volta a predominar. 

Essa constatação vale tanto para os contextos positivos como negativos da vida.

No já distante 2008, em minhas palestras sobre cenários da economia, insistentemente alertava a respeito da crise global que se aproximava a partir do mercado imobiliário norte-americano. Tal antecipação não tinha nada de espetacular. O norte-americano Paul Krugman havia previsto o fenômeno sete anos antes. Mas o fato é que invariavelmente escapavam murmurinhos de deboche de parte da platéia e os questionamentos sempre ficavam concentrados na opinião generalizada de que o mundo global seria imune a novas crises.

Mesmo no último trimestre de 2009, quando algumas das mais importantes instituições financeiras do mundo haviam implodido, a descrença no que os fatos já mostravam era predominante. Quando se falava em sérios problemas para os próximos três ou quatro anos, os acomodados de plantão retrucavam que a marola não duraria mais do que alguns poucos meses.

E o tempo foi passando, os problemas financeiros do mundo se aprofundando, ao ponto de os tempos polpudos de prosperidade se tornarem apenas pouco mais do que uma vaga lembrança surreal de outrora.

O resultado prático disso é que grande parte da humanidade parou de acreditar na existência de um mundo próspero, se posicionando como se as restrições da crise fossem algo endógeno à vida.

Esse contexto fica cada vez mais evidente na Europa. As recentes turbulências políticas na Grécia e Itália decorrentes dos problemas com as contas públicas dos países começam agora a se tornarem mais evidentes também na Espanha. 

Ao mesmo tempo, a economia do continente deixa claros sinais de que 2012 também será um ano de dificuldades. A questão é tão forte que o primo rico do Velho Mundo já admite a redução da Zona do Euro, liberando os países economicamente mais frágeis e da União Européia das obrigações com moeda continental.

O que transparece é a idéia de uma derrota sacramentada, restando apenas esperar pelo desenrolar natural das desgraças que estão por vir: o esfacelamento da União Européia; o recrudescimento dos conflitos regionais existentes até primeira metade do século XX; o empobrecimento global e a conseqüente redução do comércio internacional. Junto com isso, essas mentes inerciais apontam para o determinismo dos desequilíbrios ambientais, a ascensão econômica e militar dos chineses, além de outras coisas de dar medo e prostração.

Como comentei no início deste texto, tal tipo de comportamento e mentalidade é intrínseca à maioria que tende a encarar a vida de maneira inercial; como se tudo fosse movido por um determinismo imutável. E se esse sentimento tem sua origem na Europa, a coisa é mais séria ainda. Afinal, além do próprio Velho Mundo, nós americanos, os que habitam a Oceania, parte da África e Ásia somos herdeiros daquela cultura milenar que ainda exerce notável influência sobre o nosso comportamento e maneira de pensar.

Ora, racionalmente, a maior parte dos indivíduos se recusa a admitir a si próprio como um mero componente de um rebanho na irracional caminhada rumo ao abismo. Mas socialmente essa analogia ao comportamento tribal é bem adequada.

Em resumo, não apenas os europeus, mas vários povos de outros continentes simplesmente deixaram de confiar nas suas instituições públicas e privadas como capazes de solucionar a instabilidade financeira e a estagnação econômica que vai tomando conta de crescentes áreas do planeta.

Não pretendo ser mais um daqueles otimistas inveterados (uns chatos, por sinal). Mas da mesma forma como antecipei o início da crise, posso afirmar tranquilamente que o atual momento de vacas magras para o mundo não durará para sempre.

A história comprova - com exemplos de sobra - que a formação de riqueza da humanidade ocorre através de ciclos, onde lógicas de produção e comercialização tem tempo limitado de vida ao fim dos quais se esgotam, dando espaço para o novo - após um período de prostração.

O importante no atual momento é tentar imaginar o que será esse "Novo".

Tentando encontrar ao menos parte dessa grande e complexa resposta, é aparentemente óbvio que o sistema financeiro terá de passar por fortes transformações e flexibilização em termos de ótica.

O fato é que os países mais poderosos do mundo acabaram contraindo dívidas públicas de difícil financiamento, especialmente em função da proteção de seu sistema financeiro em 2008. A tolerância ao calote grego (gerado por outros motivos) é a evidência de que a antiga dureza imposta pelos organismos internacionais a América Latina está sendo bastante abrandada.

Após algumas definições de fundamentais, tais como se a Europa irá ou não levar sua União adiante (mesmo com recuos temporários), será necessário encontrar uma ou algumas formas de lidar com questão do rombo financeiro. 

Algumas alternativas são:

* Sacrificar o euro, dólar e algumas outras moedas fortes, através de um grande calote global. Essa alternativa, apesar de não ser impossível, tem pouquíssimas chances de vingar. Sem pensar em juízo moral, a hipótese em questão traz como vantagem o instantâneo saneamento das dívidas dos países caloteiros (na moeda deles, é claro) e a possibilidade de recomeço sem pendências do passado. A desvantagem é a natural falta de confiabilidade dos novos padrões monetários que vierem a surgir, especialmente provenientes do poder público. Afinal, como diz o velho ditado,  "para trair e coçar, é só começar". Ou seja, não haverá garantias de fato, impedindo novos calotes.

* Aceitar o socorro das reservas chinesas. Essa possibilidade também é muito remota na medida em que isso significaria uma grande virada de mesa na geopolítica mundial. O domínio financeiro e econômico que o Atlântico Norte exerce sobre o mundo de hoje passaria para as mãos da Chiba, com óbvias repercussões no campo militar e diplomático.

* Jogar o problema para o colo dos grandes conglomerados empresariais. Essa é uma tese mais plausível, já sendo modestamente discutida na França, onde os proprietários das maiores fortunas se dispuseram a pagar mais impostos para ajudar o governo. No caso, a lógica seria transferir a ineficiência da dívida para quem consegue suportá-la melhor. Isso pode ser feito tanto de forma análoga à proposta francesa, como a transformação do endividamento em bônus para resgate no longuíssimo prazo a ser oferecido às empresas mais sólidas de cada país que, em contrapartida, poderiam ter algum tipo de benefício em contratos públicos.

Já no âmbito das relações privadas desde que o ser humano começou a andar para a frente, a busca pela longevidade, conforto e novidades tem pautado os grandes movimentos do comércio mundial. 

Houve um tempo em que a seda, a pimenta-do-reino, o açúcar e outras especiarias eram as coisas mais desejadas e por isso mesmo mobilizavam as maiores fortunas do mundo.

Hoje é a vez dos tablets, viagras e turismo (analogia à informática, farmacêutica e turismo mesmo). Mas existem outras frentes aparentemente promissoras para o futuro na Internet, design, alimentação saudável, super-produtividade agrícola, meio ambiente, robótica, desbravamento aeroespacial, energia, cultura,  dentre milhares de alternativas.

Aparentemente, o segredo de romper com a crise a partir da inventividade é ter a capacidade de identificar o que as pessoas precisam, ou melhor ainda: o que as pessoas possam vir a desejar.

Afinal, afora as questões mais básicas da vida, o desejo é o motor que move a necessidade de possuir e usufruir. E quem souber se posicionar e manipular com esse misterioso universo encontrará a solução para a sua própria crise econômica pessoal e, talvez, a do mundo.


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Até Breve

Eduardo Starosta

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