quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pitacos Sobre o Governo


Depois da fritura de Orlando Silva, a bola da vez é o ministro do trabalho, Carlos Lupi.

E as perspectivas iniciais para ele não se pode dizer que sejam das melhores. Afinal, nos dez primeiros meses da presidente Dilma Rousseff, todos membros do primeiro escalão envolvidos direta ou indiretamente em confusão acabaram indo para o olho da rua.

Até agora foram-se seis ex-ministros:
·     
         Antônio Palocci, Casa Civil – suspeita por “enriquecimento exagerado em pouco tempo”;

·                Alfredo Nascimento, Transportes – suspeita de propinas;

·                Wagner Rossi, Agricultura – suspeita de propinas;

·      Pedro Novais, Turismo – suspeita de propinas e farra com dinheiro da Câmara dos Deputados;

·                Orlando Silva, Esportes – suspeita de propinas;

·          Nelson Jobim, Defesa – O único sem suspeita de travessuras com dinheiro. Chamou os colegas de governo de burros e elogiou a oposição, Pode-se dizer que “implorou para ser demitido”. Por que será?

Veja que junto com Lupi, cinco das sete autoridades visadas até o momento, estão tendo seus nomes direta ou indiretamente relacionados a envolvimentos pouco recomendáveis com ONGs cujos projetos estão sendo total ou parcialmente financiados pelo governo federal.

Até o momento ainda não existem provas do envolvimento direto do ministro do trabalho nas bagunças de seus principais assessores, mas é inegável a existência de um padrão de relacionamento de indivíduos próximo ao poder para se beneficiarem de dinheiro público, através do uso ou extorsão de organizações não governamentais.

Talvez seja ingenuidade de minha parte, mas pessoalmente não consigo acreditar que exista uma ligação direta entre política e corrupção como defendem os opositores do poder estabelecido. Melhorando a explicação: no tempo em que o Poder Executivo era dividido pela coligação PSDB/PFL, o PT era o grande denunciante. Agora, com o domínio petista em conjunto com o PMDB, a prerrogativa de buscar falcatruas ficou para os ex-governantes e outras oposições, como o PSOL.

E esse teatrinho já encheu o saco! 

Melhor pensar que tudo funciona a partir da velha máxima de que “a ocasião faz o ladrão”, apesar de realmente existirem mecanismos de obtenção de caixa para os partidos políticos através de recursos públicos (investimentos, parcela de salários dos cargos comissionados, as próprias ONGs, etc.). 

Também é importante lembrar que a corrupção envolve bem mais do que poucos indivíduos, consistindo, em vários casos, em uma extensa e complexa cadeia produtiva.

Mas o fato é que os roubos em foco ocorrem, antes de tudo, porque os mecanismos de controle e auditoria do próprio Estado são frágeis para identificar de forma eficaz e imparcial as distorções nos contratos do governo que podem levar à descoberta de fraudes, desvios ou mau uso de recursos públicos.

Um exemplo claro disso são as famosas obras superfaturadas que volta e meia ganham destaque na mídia nacional e até global. O esquema é bem simples, mas nunca deixou de funcionar:

    1)   O governo lança  editais de licitação de várias obras pelo país;
    2)   As empresas com “capacidade técnica” se candidatam;
   3)   Mas antes disso, elas combinam entre si, quem vai ganhar o certame em cada uma das obras;
   4)   Assim, o menor preço fica bem acima da média do mercado e todos os empreiteiros ficam felizes com o seu quinhão, ganhando provavelmente mais dinheiro do que se fossem honestamente vitoriosos na licitação de todas as obras.

É claro que esse “esquema”não passa desapercebido por vários agentes públicos que eventualmente entram nas negociações para tirarem uma casquinha em troca de não melarem a travessura.

Evidentemente existem algumas outras receitas de bolo para tirar dinheiro do governo. Como o esquema das empreiteiras já está meio manjado  (mas não esgotado), a moda agora é morder as ONGs, ou ir diretamente à fonte, criando instituições desse tipo de fachada.

Melhor não entrar mais profundamente nessa questão para prevenir acusações de apologia ao crime. 

Mas é realmente uma pena que várias ONGs respeitáveis e com excelentes trabalhos corram o risco de serem demonizadas para livrar a cara dos “propineiros de plantão”, como aconteceu há alguns anos com os bingos (gerou CPI que envolveu Waldomiro Diniz, Palocci e outros).

O fato é que grande parte de toda essa bagunça que vem ocasionando o cai-cai de ministros poderia ser evitada através do estabelecimento de princípios de controladoria mais eficazes e apoiados por análises estatísticas. 

Atualmente, a administração de convênios (especialmente com ONGs e prefeituras) é feita, ao nível governamental, pelo SICONV (Sistema de Convênios), baseado em um software de preenchimento de informações de grande exigência retórica (aquela velha história de objetivo principal, objetivo secundário, etc.) e poucos recursos formais de analise de consistência de projetos. 

Essa parte fica por conta da análise pessoal de burocratas (freqüentemente autoritários) que nem sempre são devidamente preparados para tal e acabam construindo certas confusões que prejudicam o nome de muita gente capaz e bem intencionada.

E no meio desses problemas, o Brasil se aproxima de fechar o primeiro ano sob o governo de nossa Patroa, a Presidente Dilma Rousseff.

Normalmente, esse prazo seria suficiente para analisar a eficácia de um chefe de executivo, mas no caso em pauta, tal julgamento terá de ficar para 2012. 

Veja alguns dos motivos para isso:

1 – As costuras políticas para viabilizar a eleição de Dilma Rousseff envolveram um amplo leque de concessões de pastas ministeriais. Isso explica, em parte, o paradoxo de nossa Patroa ter a fama de centralizadora e conviver com uma gestão pública difusa em nada menos do que 40 ministérios;

2 – Os efeitos realmente mais perversos da crise global chegaram ao Brasil no segundo semestre de 2011 (em 2009 tudo era mais fácil de explicar por conta da novidade da quebra de empresas financeiras), quando o país passou a enfrentar a primeira desaceleração econômica potencialmente longa em mais de 10 anos;

3 – No ano passado, o ex-presidente meteu o pé na jaca nos gastos públicos, deixando a batata quente para a Dilma. Ela teve de lidar com cortes orçamentários e a baixa eficácia dos investimentos herdados da gestão anterior. Afinal, o estilo de Lula e sua turma era de “muitas palavras e poucas ações”, enquanto a Patroa é mais calada e aparenta ser zelosa por resultados objetivos.

Resumidamente, nesse primeiro ano, o governo de nossa Dama de Ferro teve sérios problemas de lubrificação e isso deve ser considerado em uma avaliação mais criteriosa e desapaixonada.

Dentro dessa linha lógica, parece imperativo que o próximo ano entre com uma nova composição ministerial, ou de fluxograma organizacional da administração pública federal.

Dilma ainda tem que mostrar a que veio!

Porém, a autonomia para uma reforma de gestão não é tão grande assim. Mesmo que ocorra troca-troca de ministros, os compromissos políticos que fornecem sustentação ao governo no Congresso Nacional impedem – pelo menos dentro da ótica atual de alianças – mudanças substanciais de distribuição do poder formal dos ministérios aos partidos aliados.

E cá entre nós, mandar em 40 ministros (ministros de fato e com status de ministro) é quase o mesmo do que mandar em ninguém... 

O jeito é criar algumas secretarias executivas da presidência da república de cunho temático que agreguem a gestão de um conjunto de ministérios e que sirvam de intermediação prática entre Dilma e o primeiro escalão (que na verdade viraria segundo escalão, mas manteria o status e o poder de empregar correligionários).

Dessa forma, a interlocução direta do dia-a-dia de Dilma poderia ser reduzida a 5 ou 6 pessoas da sua confiança, cada qual com uma média de 7 ou 8 pastas para gerenciar operacionalmente.

Junto com isso, também é importante a implantação de um sistema realmente eficaz (em todos os sentidos) de gestão e controle dos investimentos e convênios do governo federal com ONGs, municípios, estados, etc.

Com esses dois aspectos resolvidos, talvez se torne possível formar um governo mais técnico e pragmático, fazendo jus à imagem externada pela presidente Dilma Rousseff.

O Político Mais Feio do Brasil – Na próxima semana mais uma parcial do  nosso concurso do Político Mais Feio do Brasil. Manuela, Orlando Silva e Sarney continuam a concentrar as preferências dos votantes.
Envie seu voto por e-mail, clicando ao lado CLIQUE AQUI! .  Fotos de sugestão são bem-vindas, como foi a do ex-presidente Lula.
Caso você queira ficar no anonimato, envie sua opinião ao final dessa postagem no link de comentários, sem se identificar.
Até Breve
Eduardo Starosta

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